nozze

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Luca costumava achar graça na maneira como as coisas funcionavam. O tempo, a vida e seus acontecimentos.

Pois, um ano atrás quando ele estava no meio de sua aula de geometria em Genova, ele já estava planejando aquela viagem junto com Alberto, de modo que conseguia sem nenhum problema enxergar os dois atravessando a Itália e conhecendo-a juntos.

Mas ele jamais sequer cogitou pensar que a relação deles mudaria tanto. Que eles se apaixonariam tanto e tão perdidamente ao ponto de nenhum deles saber onde um começava e o outro terminava.

E, agora, eram noivos.

Luca soltou mais uma risadinha incrédula e feliz, ainda agarrado ao pescoço de Alberto, sentindo os dedos dele o agarrarem como se tudo no mundo dependesse daquele contato, daquele toque que o lembrava toda uma vida e coisas que viveu e que ainda viveria.

Mas, apesar do que muitos poderiam pensar, eles mantiveram a mesma calmaria que sempre tiveram consigo. Continuaram viajando pelos pontos do país pelo tempo que as férias de Luca permitiram, e então quando faltava apenas uma semana para a volta às aulas, eles retornaram para Genova.

— Nós vamos nos casar — anunciaram em conjunto para a mãe de Giulia, que arregalou os olhos e abriu a boca em choque, fazendo-os rir.

— Ah, meus meninos! — exclamou com a voz embargada de emoção, pouco antes de apertá-los em um abraço que quase quebrou suas costelas. — Já estão tão crescidos, tão lindos... E eu desejo toda a felicidade do mundo para vocês. Ah, e eu tenho uma surpresa!

Ela correu para o quartinho que era o ateliê, voltando de lá segundos depois com um quadro colorido que fez os corações dos dois se encherem de nostalgia e carinho, porque era uma repintura perfeita do desenho que Alberto tinha feito anos atrás quando eles se conheceram.

O quadro mostrava Luca e Alberto, com sorrisos felizes e montados na Vespa verde-água, atravessando um lago raso. Os respingos de água fizeram suas pernas e parte dos braços voltarem à aparência normal de criatura marinha, as caudas entrelaçadas juntas. Os olhos presos um no outro.

— Eu ia dar de presente para vocês quando retornassem da viagem, então agora podem considerar como presente de casamento.

Luca o apanhou nas mãos e sentiu o nariz pinicar, fazendo os olhos lacrimejarem, e eles abraçaram a mãe de Giulia outra vez.

Aquele com certeza era o melhor presente que já haviam ganhado de alguém.

No dia seguinte, eles voltaram para Portorosso e cada membro da família deles teve uma reação diferente, cada uma mais exagerada e engraçada que a outra.

A verdade é que todos eles já sabiam dos sentimentos de Luca e Alberto um pelo outro e também sabiam que seria questão de tempo até algo do tipo acontecer, então ninguém estava muito surpreso, além do fato de já se considerarem uma grande família.

Não, a questão não era essa.

A questão era que Massimo provavelmente parou de respirar por um bom tempo, encarando o jovem que ele considerava como seu filho mais velho de mãos dadas com o outro jovem por quem ele também tinha muito apreço. Não que ele não estivesse extremamente feliz pelos dois, porque ele estava, mas ainda assim foi um choque gigantesco para seu pobre e velho coração receber a notícia de que seu menino ia se casar.

Lorenzo não estava muito diferente, então ele e Massimo praticamente deram as mãos e saíram da casa da família Marcovaldo, onde todos estavam reunidos, e se sentaram na borda da calçada que tinha do lado de fora.

E dentro da casa, Giulia e Daniela estavam exultantes. Giulia fazia milhares de perguntas para os dois que iam até da cor das flores da cerimônia até das paredes da nova casa deles em Roma, perguntas essas que estavam dando um nó no cérebro de cada um e que eles simplesmente não sabiam como responder.

Sob as AnchovasOnde histórias criam vida. Descubra agora