affetto

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Eles passaram o resto da manhã e da tarde na cama. Adormeciam nos braços um do outro e então acordavam, deixando beijinhos nas peles quentes do pescoço e dos braços antes de voltar a pegar no sono, porque a atmosfera aconchegante do quarto estava boa demais para que eles se forçassem a levantar.

Quando o fim de tarde chegou, eles acordaram de vez, permanecendo em um silêncio que não queriam quebrar, as pontas dos dedos de Luca traçando as linhas da clavícula e ombros de Alberto, que por sua vez acariciava a cintura morna e desnuda de Luca com movimentos lentos de pura apreciação.

E ele estava achando graça na maneira como, sempre que seus olhos se encontravam no meio daquelas carícias delicadas, as maçãs do rosto de Luca coravam e ele desviava os olhos com um sorrisinho tímido, logo antes de afundar o rosto na curva de seu pescoço.

Então o estômago de Alberto roncou alto e eles riram, finalmente se levantando. Se arrumaram e saíram para Veneza, para um dos muitos restaurantes da cidade cujo principal meio de transporte eram as gôndolas e os barcos.

— Então... Isso aqui que é polenta? — Alberto perguntou com curiosidade, encarando o prato fumegante diante de si, depois que eles já haviam se acomodado em uma das mesas do restaurante e fizeram seus pedidos.

— O garçom disse que é a especialidade da casa — Luca confirmou, também observando seu prato.

— E o que exatamente tem aqui?

— Experimenta primeiro, depois eu conto.

Alberto fez uma careta desconfiada, e Luca sorriu inocentemente.

— Você não vai me enrolar outra vez, não é? Porque você ainda não me disse qual foi...

— Só come de uma vez, Alberto! Vai esfriar!

O moreno resmungou, contrariado, mas ainda assim levou uma garfada do creme amarelado à boca. E o sabor diferente o fez soltar uma exclamação longa e deliciada, fechando os olhos enquanto saboreava. Abriu-os novamente quando Luca riu, também levando uma garfada à boca junto com a bolonhesa.

— Isso é tão gostoso! Por que Massimo nunca preparou polenta para nós?

— Porque é um prato mais comum aqui em Veneza. As pessoas em Portorosso provavelmente não conhecem, ou então preferem outras coisas. O que é uma besteira, se você quer saber.

— Com toda certeza — Alberto respondeu com a boca cheia, e Luca riu outra vez.

Eles passaram três semanas em Veneza. Era uma cidade que eles particularmente haviam gostado mais, pois por ser tão rodeada de água por todos os lados, os fez se sentirem mais em casa. Às vezes, eles deixavam os passeios na forma humana de lado e nadavam pelos canais, perturbando turistas em gôndolas e encontrando coisas que haviam sido perdidas há muito tempo.

Em um desses dias, Luca encontrou um anel. Ele era grande e pesado, parecendo muito antigo, com uma pedra escura e entalhes que ele não conseguia enxergar por conta do lodo. E foi difícil limpá-lo, mas quando finalmente terminou, percebeu que era algo como um brasão de uma família antiga e provavelmente há muito tempo esquecida, cravejado com uma pedra verde esmeralda.

E Luca soube imediatamente que ele pertenceria a Alberto daquele momento em diante.

E o moreno passou a usá-lo com orgulho no dedão direito, porque era o único dedo que ele encaixava sem cair.

Quando eles decidiram que já haviam conhecido tudo o que poderiam de Veneza, embarcaram no trem outra vez e seguiram para Roma.

E, ah, Roma era tão bela quanto.

Sob as AnchovasOnde histórias criam vida. Descubra agora