canzone

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Tudo estava banhado de dourado enquanto o sol mergulhava no mar, e as mãos de Alberto e Luca estavam entrelaçadas juntas para manter com eles a sensação boa de calor e aconchego que o gesto trazia.

Durante todo o dia eles passearam e Luca terminou de mostrar os pontos em Genova que Alberto não poderia deixar de conhecer. Já faziam duas semanas que eles estavam ali e toda a cidade havia sido mapeada pela Vespa verde-água, exceto um, que era onde eles estavam naquele momento.

Era parecido com o lugar que Alberto o havia levado antes que eles saíssem de Portorosso, um imenso campo com grama alta e flores por toda parte, vento fresco trazido do mar e com uma calmaria tão grande que eles relaxaram imediatamente ao chegar ali. Então Luca estendeu a grande manta quadriculada no chão enquanto Alberto tirava da cesta diversos cannollis e brioches, um grande prato com spaghetti à bolonhesa e uma garrafa de vinho.

E se sentaram ali, aproveitando o momento de tranquilidade e a comida, no silêncio confortável que era a companhia um do outro. Luca deitou a cabeça no ombro de Alberto enquanto, horas depois, eles observavam o sol lhes dar adeus.

Não, não adeus. Até logo.

Quando anoiteceu, eles voltaram para a casa da mãe de Giulia e, percebendo que aquela era sua última noite em Genova, arrumaram suas mochilas para partir no dia seguinte e sentaram no velho e confortável sofá azul. Ele tinha manchas de molho e de tinta, mas Alberto pensou que eram exatamente aqueles detalhes que o deixavam especial. Era memória.

Então eles se acomodaram, envoltos em cobertores multicoloridos e encolhidos um contra o outro, assistindo um filme na pequena televisão que havia ali. 

Alberto ainda estava embasbacado com aquilo, porque televisões eram uma raridade em Portorosso e ele nunca havia chegado perto de uma. Como aquela máquina conseguia transmitir imagens? Mesmo que fossem em preto e branco, era fantástico. Como era possível que houvessem tantos humanos pequenininhos ali dentro?

E por que, pelo Santo Tubarão, era tão bom ficar com Luca daquela maneira? 

Com as costas dele aquecidas contra seu peito, seus braços envolvendo a cintura coberta pelo casaco amarelo e o cabelo ondulado e cheiroso fazendo suaves cócegas em seu queixo. Alberto suspirou, deixando um beijo no topo da cabeça de Luca, que soltou uma risadinha e se aconchegou mais a ele, quase como os filhotes de Machiavelli faziam às vezes.

A mãe de Giulia apareceu de repente na sala, arrumada para sair, e eles levantaram as sobrancelhas.

— Eu estou saindo para uma noite de garotas, meninos, mas não se preocupem, eu vou estar aqui para me despedir de vocês amanhã cedo.

— Tudo bem, senhora Mariani, divirta-se — Luca desejou, e Alberto apenas sorriu para ela.

— E vocês dois se comportem, viu? — ela piscou um olho e saiu porta afora.

Alberto suspirou de frustração.

— Por que eles sempre falam isso quando vão nos deixar sozinhos? Massimo vive falando isso para mim. Quer dizer, não é como se a gente fosse colocar fogo na casa, não é? — riu, mas depois voltou a ficar sério. — Espera, nós podemos fazer isso?

— Você quer dizer colocar fogo na casa da mãe da Giulia? Alberto!

— A gente apaga depois!

— Esse não é o ponto! — Luca riu, se virando para ele. — Por quê? Você já colocou fogo na casa de Massimo?

— Bem...

— Alberto!

— Foi só um acidente com uma panela esquecida no fogão! Não queimou tanto assim... Mas eu ainda tive que pintar toda a cozinha depois. Ele nunca ficou tão bravo. Foi assustador.

Luca ria e Alberto sorria para ele quando uma melodia bonita começou a soar, vinda diretamente do filme que passava. Na tela, dois personagens estavam de pé, dançando juntos e parecendo apaixonados. Então Alberto fez a única coisa que se passava por sua cabeça naquele momento: levantar junto com Luca e dançar com ele assim como os personagens faziam.

E ele o fez, segurando-o perto, sentindo a respiração de Luca e a dele própria se misturarem naquela pequena dança, apenas um ritmado balançar para os lados, mas que parecia absolutamente perfeito na pouca luminosidade do cômodo e na atmosfera criada pela música.

— O que a música diz? — Alberto perguntou baixinho. — Eu não consigo entender.

Luca sorriu, se aproximando mais um passo.

— Aproxime seus lábios dos meus, querido — ele começou, baixinho, fazendo o que a música pedia e aproximando seu rosto do de Alberto, cantando próximo a ele. — Você não me beijará ao menos uma vez, amor? Só um beijo de boa noite, talvez. Você e eu nos apaixonaremos.

Alberto sorriu, se inclinando na direção de Luca e selando seus lábios nos dele de uma maneira que era delicada e profunda ao mesmo tempo. E se afastou, juntando suas testas.

— Isso é mesmo o que a música diz ou você só queria que eu te beijasse, huh?

— Os dois.

— Continue. Eu quero ouvir o resto.

— Coloque sua cabeça em meu ombro — Luca continuou, deitando a cabeça no ombro de Alberto. — Sussurre em meu ouvido, amor, palavras que eu quero escutar. Me diga, me diga que você me ama também.

Alberto soltou uma risadinha, apertando Luca em seus braços.

— Eu estou achando muito suspeito... — murmurou, e Luca riu baixinho. — Acho que você é só um aproveitador barato, Paguro.

Luca levantou a cabeça e olhou nos olhos verdes.

— Bem, talvez eu tenha mesmo usado a tradução da música para conseguir algumas coisas — ele revelou, sorrindo, e Alberto balançou a cabeça.

— Você não precisa de nada para ter o que quiser de mim, Luca — e se aproximou do rosto dele outra vez, deixando um beijo em sua bochecha e achegando a boca perto do ouvido. — Ti amo tanto, amore mio...

E Luca suspirou, transformando aquele quase abraço em um abraço completo, deixando que a música se perdurasse e continuasse a marcar aquela memória em seu coração.

Porque era simplesmente incrível como ele se sentia tão confortável com Alberto, como se toda e cada fibra de seu ser reconhecesse que o moreno era sua casa e seu tudo: presente, passado e futuro, um mundo novo dentro de vários outros, onde Luca podia ser quem ele era e onde saberia que seria amado sobre quaisquer circunstâncias. 

Luca jamais havia pensado sobre aquelas coisas, mesmo que elas sempre parecessem bastante óbvias quando se tratava de Alberto. Ele jamais pensou que poderia sentir algo tão forte, também. Mas ele sentia. E parecia maior a cada dia, cada momento, cada pequeno pedaço de infinito que passava com Alberto.

E sorriu, continuando o balançar ritmado dos dois, colando sua bochecha na do moreno para sussurrar em seu ouvido:

E ti amo anche io. Tanto.

Tanto... — Alberto repetiu, e Luca podia sentir que sorria também.

Tanto. E per sempre.

— Per sempre.

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N/A: Não tenho estruturas--- Nenhuma, nenhumazinha.

Eu tô com mais dois projetos de fanfic deles, já que essa aqui tá quase acabando (sim 😭) vocês leriam?

Sob as AnchovasOnde histórias criam vida. Descubra agora