CAPÍTULO 05.

8.4K 775 1.7K
                                    

PARTE I:
As Pequenas Vinganças.

NA CALIFÓRNIA.

Por mais surreal que pudesse parecer, Harry não estava surtando. Não, não estava mesmo. Por que ele surtaria? Ele tinha pesquisado e uma parte considerável dos adolescentes flagravam os pais trepando pelo menos uma vez na vida. Isso queria dizer que estava tudo bem. Ele não ia pensar nisso nunca mais.

Às sete da noite, preso no quarto, Harry meio que estava faminto, envergonhado e tenso, por isso tinha passado o dia todo evitando ver seus pais, e não ficou surpreso por nenhum deles ter se importado, porque eles não davam a mínima. Mas, a ideia de vê-los cara a cara novamente pareceu maluquice.

Quando sabia que sua mãe deveria ter ido as compras, e que Louis deveria estar trabalhando, ele saiu. Harry tomou um fôlego e espremeu os olhos com força pisando lentamente no chão, mesmo que estivesse sozinho, e simplesmente andou. Ele se sentia observado. Com calma, Harry foi até a cozinha e viu que estava completamente vazia.

“Cacete”, ele respirou fundo, com uma mão no coração. Deu um sorriso aliviado e abriu a geladeira para comer alguma coisa, qualquer coisa. Harry quase teve um orgasmo com o tanto de comida que tinha. Ele pegou um lanche de atum feito, depois bebeu um suco amarelo direto da caixa, então pegou um iogurte. “Isso é tão, tão bom. Meu deus. Isso.”

De repente Harry estava cheio de comida no braço, e um pensamento lúcido tomou conta dele: o frigobar! Então era por isso que as pessoas tinham mini geladeiras no quarto: para tirarem férias depois de verem seus pais transando. Então Harry iria colocar toda a comida na outra geladeira e... Um barulho soou atrás de Harry e ele deu um pulo.

Foi só um celular. Um apito – alto pra caralho – e Harry estava quase tendo um ataque cardíaco. O celular de Coraline estava em cima da bancada, com aquela luz clara demais, e Harry foi até lá ver o que era.

‘Ann:
Me mande noticias. E fotos. Como ele está?
‘Mãe:
Fiiiiiiilha!!!!!! SEU PAI FOI PARA A FLÓRIDA
‘Chefe:
Quero você em cinco minutos.
[GOOGLE: COMO JESSIE COLLINS VENCEU AS RUGAS]

Harry deu uma risadinha. Seu avô tinha sérios problemas. Na verdade, o avô Tobby era um daqueles caras que te davam muito dinheiro quando não deveriam dar, e ai Harry dizia ‘Vovô, não precisa...’ e Tobby dava uma risada de fumante, com um charuto nos lábios ‘Tome, Harry. Fica com isso’ então Harry gastava a grana toda com maconha, doces, e CDS. Ele nunca se sentiu parcialmente arrependido, porque ele pensou que vovô Tobby entenderia como era gastar dinheiro procurando coisas para fumar. No fim das contas, era um ótimo avô. A mãe de Coraline, Abby, ao contrário dele, sempre olhava para Harry amargurada, como se o odiasse secretamente mas tivesse medo de dizer.

“O que você está fazendo?”

Harry levantou o olhar. Louis estava na cozinha. Merda. Não pense nele transando. Então a imagem veio automaticamente na sua cabeça.

“Ah- ah... eu... estava só olhando”, Harry saiu de perto do celular, com aquele monte de comida no braço, meio tropeçando. Louis estava o observando atentamente. Como um predador. Harry colocou a comida de volta na bancada. Alguns segundos se passaram, e ficou olhando para qualquer coisa que não fosse o cara no batente da porta.

Aquele discurso merda de Louis ainda girava na sua cabeça – merda não, Harry se corrigiu, educativo. Uma lição de vida. Bom. Muito bom. E Harry queria ter algo certo para dizer à Louis, mas ele não sabia o que. A verdade, no fim das contas, era que Harry não sabia como olhar para Louis como seu pai adotivo. Louis simplesmente nunca esteve lá, e o garoto poderia contar, nos dedos, todas as vezes que seu suposto pai falara com ele desde que ele tinha sido adotado.

The Father. (Louis&Harry) Onde histórias criam vida. Descubra agora