5. Angel

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Minhas pálpebras ergueram-se conforme o incômodo em meus olhos me fizeram despertar, e mesmo quando minha visão se ajustou a situação, o cenho permaneceu franzido. Forcei meus ossos a se moverem, e meus dedos dobraram diante da superfície inóspita. Um lugar sem começos e fins, o nada e tudo. Não era meu quarto, e não era meu mundo.

Sombras rodopiavam meus membros conforme me levantei, com o queixo indo de um canto a outro a procura de algo à qual me sustentar. Escuridão sibilava além; pronta para me engolir por inteiro. Enquanto me questionava a razão pela qual estava ali, um movimento incomum entre as trevas me fizeram ficar alerta, separando as pernas uma das outras e erguendo os braços à frente do corpo, como meus irmãos aconselhavam.

Mas então um rosto surgiu, e logo seu corpo ficou visível para que eu pudesse ver. Um homem de expressões fortes, dono de uma postura exuberante sob o sobretudo que cobria seu terno. Seus olhos contornaram-me, ainda que nenhuma outra parte tenha se movido desde sua revelação.

— Haamiah...— sua voz soou grave entre os lábios finos. E a maneira como ainda me estudava denunciava a sua apreciação.

— Quem é você? — as palavras se dissiparam no ambiente negrume. Minha posição de defesa ainda permanecia, mesmo que o alvo ainda não tivesse demonstrado qualquer sinal de ameaça.

— Sou Castiel. Um anjo do senhor. — sua ternura ao dizer deixava evidente de que não era uma brincadeira. Mas naquele momento, não estava em posição de julgar sua sanidade quando a minha não estava instável. — Haamiah...

— Não. Eu sou... Eu sou Hailey. — confusão tomou conta de sua face, que aos poucos se suavisou conforme a informação era absorvida.

— Este nome foi dado a você quando foi enviada ao ventre de uma humana. Nós a conhecemos como Haamiah — dei um passo para trás assim que aquilo me pareceu mórbido demais para ser autêntico. E então meus olhos foram de um canto à outro novamente, procurando falhas que apontassem sua farsa na realidade.

— Onde estamos?

— Em sua mente. — tal resposta me fez voltar a atenção para ele, distintamente alheia ao o que queria insinuar.

Sabendo que duvidava de sua frase, Castiel ergueu a mão iluminada por uma luz reluzente que parecia emanar da própria pele, e ao seu comando, imagens em movimento flutuaram na obscuridade, e a voz de meus irmãos preencheram meus ouvidos. Momentos que vivi, e outros cuja existência eu não recordava. Minha própria risada passou por mim, jovial. Pertencente à uma criança; eu mesma. Perplexidade tomou meu corpo quando vi Dean chamando-me para perto, quando dei meus primeiros passos em direção à ele.

— Seus irmãos são Dean e Sam Winchester, que a mantiveram segura e longe da vida que levavam. Você teve uma boa infância, com algumas dificuldades e conflitos mas ainda assim uma família unida. Teve um namorado no ensino médio e desde então não teve outros...— As imagens retorceram-se e eu pude visualizar o rosto de Brad e sua câmera fotográfica, ambos inseparáveis. — Tem uma única amiga, a qual possui um elo sólido e...

— Chega! — Castiel rapidamente dobra os dedos, e todos os seguimentos de memória evaporam subitamente. — O que você quer?

— Ele está tentando contactá-la. Está implorando para que o salve e nós não podemos intervir. — fecho os olhos com força, buscando compreensão e algo que não fizesse parte de toda aquela alienação.

— Quem está tentando me contactar? E por que eu? isso é loucura, eu sou apenas...

— A chave entre a terra e o inferno. — e no mesmo instante, o chão vibrou sob meus pés, agitando-se até que meu equilíbrio foi testado. As sombras pareceram gritar ao se desmanchar nos cantos de minha mente.

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