16. Majestic

79 8 7
                                    

||Justin drew bieber||

Today.

Residência dos Bieber. Permanecia a mesma desde o meu desaparecimento. O mesmo fluxo de funcionários, o mesmo número exacerbado e discreto de seguranças.
Atravessar até ali já não tomava tanto de minhas energias, pois a cada minuto que se passava, minha força era restaurada. A sensação de fadiga, calidez sob a pele, e a secura na cavidade bucal desapareceram. E agora, uma sensação de saciedade crescia em meu interior.

De frente para a porta principal, invisível para os olhos inócuos que se concentravam em suas respectivas tarefas, me permiti a atravessar para dentro sem que nenhuma barreira pudesse me impedir. Permanecendo alheio à qualquer dos funcionários, me pus a caminhar em direção ao escritório de meu pai. E por mais raro que aquilo poderia ser, sua porta estava brevemente aberta, e visualizar sua feição ensimesmado, foi uma tarefa fácil. Aproximei-me mais, quase ansiando que pudesse me ver apenas para me satisfazer com sua expressão de perplexidade. Mas ainda não era tempo.

Bloqueei as memórias que vieram à tona, fazendo as sombras que exalavam de mim sibilarem em meus ouvidos conforme observei cada fio grisalho e a aparência mais desgastada do homem.

— Como sinto sua falta, meu filho... as vezes sinto sua presença... — disse Jeremy, recostando-se na cadeira e observando um ponto aleatório. Escárnio dançou em minha boca assim que apresentei um sorriso, olhando diretamente em seu rosto. — Queria ter sido um pai melhor para você. Menos... severo. Me dei conta disso quando não tinha mais você para me desculpar.

Inclinei o rosto; as sombras gritando para que revelasse minha presença. Mas aquela altura, qualquer sentimento melancólico que pudesse aparecer diante daquelas palavras, afastaram-se. E nem mesmo repulsa foi capaz de manifestar-se.

— Acho que... apenas queria que carregasse um fardo que eu carreguei, e queria que enfrentasse isso como eu enfrentei. Mas aquilo nunca foi para você. Aquilo não te definia como definia a mim. — procurei por falhas nas palavras ditas; algum sinal de inverdades e descontentamento. E mesmo que não tivesse encontrado, todas aquelas coisas flutuaram para um perpétuo nada.

Um pai arrependido por punir seu filho com atos perversos. Um império construído por um homem cuja satisfação estava em ver o martírio de outros; e se não fosse pela morte de seu herdeiro, continuaria a ser quem era. Culpa não mudava seu passado, ou seu caráter. Apenas tornava seu pecado mais pesado sobre suas costas.

— Jeremy? — a voz feminina soou ao longe, e então me virei para ela. Minha mãe. Ou apenas uma visão humana e distorcida do que purgava no inferno. Observei a mulher atravessar a sala, os olhos azuis tremeluzindo na presença do próprio marido.

— Estou trabalhando. — Jeremy então se pôs a instintivamente remexer nos papéis em sua mesa. — o que deseja?

— Que venha almoçar, antes que esfrie. Você... pode fazer isso?

— Não tenho fome.

— Bom, você quase nunca tem. Apenas daquilo que o causa estranhas satisfações.

— O que está dizendo, mulher estúpida? — ele rosnou, a voz um pouco mais intensa quando olhou para ela, que estremeceu, dando-se conta do que disse.

— Nosso filho está morto. Estou tentando ter uma vida normal depois disso e simplesmente não suporto a ideia de...

— Cale-se!

— Venha almoçar. É estranho pra mim comer naquela mesa sem a companhia de ambos. Eu... preciso...

— Cale a boca. Você não precisa de nada. Tem uma vida que muitas mulheres gostariam de ter. Pode superar o filho morto com base no que o dinheiro pode lhe proporcionar. Compre joias novas, um vestido, o que seja. Viver como uma morta-viva apenas me causará mais repulsa sobre sua imagem. — cuspiu as palavras. E aos poucos a expressão da mulher se fortificou, escarniosa. As sombras ao redor de meu corpo sibilaram desdenhosas, lembrando-me de que jamais havia visto tal expressão empunhada por ela.

— Bom, não mais repulsa do que eu já sinto pela sua. Nosso filho morreu e tudo o que você faz é ser um imprestável desprezível. Você não é o mesmo homem que conheci vinte e cinco anos atrás. É uma besta que ocupou o lugar do garoto que conheci naquele tempo, que me dava...— ela limpa a garganta, a voz embargando conforme prossegue. — que me dava flores no intervalo escolar. Que fazia de tudo para estarmos juntos, e...

Ela se calou quando o estrondo da mesa se virando sobre o chão alcançou seus ouvidos, estremecendo sua carne. Interessante. A cena era um tanto cômica e empolgante de ser presenciada. Jeremy gritou paralelamente, rompendo a inércia que se formou após o impacto de aparelhos e madeira contra a área sólida.

— Você. Você merece tudo o que ocorreu. Pois o fato de ainda estar comigo apenas demonstra que é tão ambiciosa quanto. — ele se aproxima, e então os dedos se fecham na mandíbula feminina, apertando até visualizar as bochechas esmagando os lábios. — Sorte do Justin por ter se desvinculado de uma mãe tão desastrosa. — e ele virou o maxilar contra o ar, a fazendo quase perder o equilíbrio. Aos prantos, ela deixa o local. Sorri, era majestoso ver o caos sendo feito.

Save MeOnde histórias criam vida. Descubra agora