13. Scheme

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"Nós somos feitos de caos e fogo.
Há uma pequena faísca em nosso peito chamada de amor, e uma brasa escorrendo em nossas veias chamadas de liberdade.
Vivemos entre a destruição tentando encontrar o equilíbrio entre não deixar que o fogo se apague ou queimarmos nele.
Somos oceanos extensos e vazios procurando propósitos.
Talvez o mundo seja reflexo de algo além que exista, por isso somos caos na nossa pior forma."

Dor sobrepujante atravessou meus neurônios, meus olhos foram forçados a abrirem. Antes que a luz inundadasse minha visão; a sensação cortante da lâmina rasgando minha garganta, seguida da memória ainda vívida dos meus lábios rúbidos pelo sangue atingiram-me fortemente. O frio. E o calor. Uma mistura de sensações antes que as batidas do seu coração se dissipassem, registrando os últimos sinais de vida.

A sensação de retornar era gratificante, mas simultaneamente alheia e estranha.
Analisei o estofado sob mim, a adorável cor ao redor e meus próprios pertences. Meu quarto. Eu estava em meu quarto.
Antes que eu pudesse chamar por Sam ou Dean, e questionar como, exatamente, fui levada até ali, sons distintos me fizeram paralisar.

Músculos contidos em um só corpo, ombros eretos e cabelos de uma tonalidade castanho dourada estavam agora molhados, grudados a testa. Os olhos familiares, cor de bronze, encararam-me e no momento seguinte me pareceu árduo respirar. Justin mantia uma toalha em sua cintura — minha toalha — enquanto o resto de seu tronco parecia fumegar com pequenas gotas.

— Tomei a liberdade de usar seu banheiro. — disse ele, a voz agora alta. Firme e levemente arrastada. Diferente da do holograma corpóreo que se mostrava para mim.

— Demônios tomam banho? — ergo uma de minhas sobrancelhas, dando ênfase ao meu questionamento. O homem analisou suas vestes na poltrona a frente.

— Digamos que no inferno não há água potável. Deus acabou esquecendo de adicionar isso aos inúmeros presentes dos condenados. — Eu ri, com cuidado. Esperando que a dor em minha garganta retornasse. — Como se sente?

— Como se tivesse acabado de voltar dos mortos. — Meus pés tocam o chão, e sinto meu corpo arrepiar devido o choque de quente e frio. Sustento-me em minhas articulações, e franzo o cenho quando me lembro das coisas que deveria ter me preocupado a princípio. — Meus irmãos. Meu trabalho...

— Todos compelidos. No seu trabalho os funcionários foram compelidos a pensarem que você estava lá, que fez seu trabalho e cumpriu os horários como deveria. Seus irmãos imaginam que lhe trouxeram de volta para casa, e que agora você está dormindo tranquila enquanto Dean foi visitar uma boate de stripper's e Sam ficou no carro lendo algum livro teórico.

Analisei a informação: foram compelidos. Forçados a imaginar uma realidade que não ocorreu. Medo gélido passou por minhas entranhas, por minha coluna, mas não permiti que chegassem em minha face. Justin apenas pegou sua roupa e seguiu para meu closet, onde provavelmente iria se trocar.

Encarei a mim mesma no reflexo do espelho localizado no canto do quarto. Sem sinal do sangue em minha roupa, ou em meus lábios. Sem sinal de cicatrizes ou outros ferimentos. Apenas uma Hailey nova. Meus poderes me curaram, e me limparam também.

— Eu posso compelir? — questiono, a voz não mais que um sussurro. A imagem de justin aparece atrás de mim; os cabelos arrumados e ajustados à cabeça, e vestes negras que compunham seu estilo ganhavam destaque em sua estatura.

— Sim. Você pode fazer coisas extraordinárias e inimagináveis. Mas o treinamento é necessário. — me viro, com força o suficiente para meus cabelos voarem e ajustarem em apenas um ombro.

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