Save Me

11. The deal

"Se algo não pode ser dito à sua melhor amiga, provavelmente é porque não deveria ser feito."

As vozes juvenis com ideias imaturas invadia minha mente, sendo filtradas pelo som repetitivo do Impala e a música agitada que Dean costumava pôr todas as manhãs no caminho para meu trabalho. Nada fora do comum, exceto a culpa que tomava meu peito por não ter informado Bella sobre todos os acontecimentos insanos em minha vida. Talvez para protegê-la do que estava por vir, ou por medo do julgamento e incompreensão.

Quando o veículo parou, não permiti que meus irmãos vissem minha face tristonha, e apenas acenei agradecendo pela carona já ao longe. Não vi o carro se distanciar da biblioteca; não quando meus pés estavam ansiosos demais e subiram os degraus instantaneamente até que eu estivesse no interior desta.

Suspirei o aroma de livros e cheiros amadeirados de produtos de limpeza, buscando alguma paz na vasta sala repleta de conhecimento. Já com meu uniforme, não precisei vesti-lo no vestiário e apenas deixei meus pertences, sendo informada por outros funcionários qual seria minha tarefa.

Área de títulos novos. Arrumação e organização destes. Bella e eu costumávamos fazer aquilo juntas com longas conversas que tornavam aquilo prático e rápido, e agora; a vendo de longe pegando suas pilhas de livros e os organizando em tópicos nas prateleiras, pude notar a tensão que passou a existir entre nós.
Apesar de nossa conversa, algo incomum contribuía para nosso distanciamento, e mesmo com as trocas contínuas de olhares, nenhuma se atreveu a iniciar um diálogo.

O público chegava aos poucos, tomando lugares em suas poltronas ou em frente às telas brilhantes de computadores. E eu ainda estava a organizar, caminhando de um lado para o outro na busca por mais organização. Mesmo quando alguém se aproximava das prateleiras onde eu arrumava, em busca de alguma informação, todo o meu corpo estava alheio, e o visitante precisava cutucar-me com o indicador para chamar minha atenção para si.

— Os livros de ação e aventura ficam na prateleira C, logo após os de suspense. Espero que encontre o que precisa — Sorri para menina de longos cabelos negros e olhos repletos de estrelas cintilantes. Nada mais que uns doze anos. Ela balançou a cabeça em entendimento, e deixou o local com uma breve despedida e um agradecimento.

Aproveitei a oportunidade de pausa para procurar minha amiga com o olhar, mas nem sinal de sua essência alegre ou voz estupidamente alta contando algum ocorrido recente. Logo passei a sentir falta de seu companheirismo, e de seu carisma pela manhã. Mas ao passo que retornei o olhar para as prateleiras em organização, algo incomum moveu-se em meu interior.

Atravessando meus nervos, como lâminas inexistentes em meu estômago, e depois na região do fígado. Me senti tentada a curvar-me perante a dor pungente, mas aquilo me puxou, e um passo a frente foi dado. Novamente, aquilo se espalha, e era como se correntes puxassem meus pulsos em direção à um caminho sem saída.
O zumbido em meus ouvidos, tornando-se mais altos a cada segundo. Era ele. E estava gritando por mim.

As puxadas no laço invisível que me conduzia me fizeram andar mais passos, e no momento seguinte não tive mais forças para lutar contra. Deixei que meu corpo se locomovesse, com o zumbido aumentando a medida que chegava ao meu destino. Como um jogo de quente ou frio, ele queria que eu me esquecesse, e suor passou a ser visível em minha pele quando meu sangue pareceu ferver.

Eu estava em um canto vazio da biblioteca, onde normalmente apenas aqueles que buscavam total silêncio sentavam-se. Mas me dei conta de que não estava completamente sozinha quando cabelos castanhos dourados foram iluminados pela luz solar amanteigada. O vexame de moscas pararam de se agitar em meu crânio, e minha temperatura se estabilizou, conforme a cadeira giratória moveu-se em minha direção.