14. Broken Soul

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||Justin Drew Bieber||
27/05/2005

Mais uma pincelada no quadro branco e a tonalidade de azul foi transferida para o papel, tornando-se nítida e bela. Admirei a forma como a cor se acentuava com diferentes tons, misturando-se profundamente. Utilizei o branco para retocar, e por fim afastei o pincel e descansei os ombros, perplexo pela imagem formada. Minha mãe; Ao menos os olhos dela. Azuis como os oceanos, e tão quentes quanto chamas.

Longos segundos submerso naquela obra fizeram de mim alguém surdo o suficiente para não detectar a presença de mais alguém em meu quarto. Somente quando meu ombro se aqueceu com o calor de dedos grossos e pesados, soube que era meu pai quem encarava a imagem junto à mim.

— Precisamos conversar. Encontre-me no escritório em dois minutos. — a voz preencheu todo o cômodo, e reprimi a vontade de encolher-me diante daquilo. E ele se retirou, deixando um vazio em meu ombro quando não tinha mais o peso de seus dedos no local, e pude finalmente respirar.

Levantei meu corpo do banco e retirei o avental, limpando todo o quarto o mais rápido que pude, levando em conta que Jeremy realmente me queria em seu escritório nenhum minuto à mais do que o proposto. Deixo meu quarto em seguida, seguindo pelo extenso corredor para descer o lance de escadas. Como sempre, os empregados domésticos faziam seu trabalho individualmente, cada um em sua função, em silêncio. Quando notaram minha presença, todos baixaram a cabeça em comprimento, e tudo o que fiz foi esticar meus dedos e acenar para eles, correndo até a porta de meu pai.

Congolei minha expressão em apenas uma, em seguida pedindo permissão de entrada. Meu primeiro passo para dentro da sala mal iluminada me proporcionou a visão do homem robusto, cabelos parcialmente grisalhos, barba bem aparada e características firmes. Um sinal de sua mão me fez compreender que queria que eu fechasse a porta e assim o fiz, mantendo minhas mãos a frente do corpo conforme me aproximei de sua mesa.

— Você faltou a sua aula de administração. Por quê? — encolhi os ombros, incapaz de encará-lo nos olhos. Cravei minhas pequenas unhas na palma de minha mão, punindo a mim mesmo com a dor aguda. — Você já tem onze anos agora, acha que é apropriado continuar a cometer os mesmos erros? Nessa idade?

— N-não... eu...

— Não gagueije. Levante a cabeça e me encare como homem. Assuma seus erros, Justin.

— Eu quero ser um artista. — dessa vez, não tardei. Não gagejei ou tive medo. Apenas o encarei fixamente enquanto sua expressão absorvia o que eu havia dito. — Nunca quis administrar isso. Tenho você, não preciso saber tudo isso. Eu quero pintar quadros e fazer o que gosto e...

— Basta! — gritou ele; os dedos se fechando em punho e os olhos queimando e reluzindo.— haverá um tempo em que não estarei mais aqui. E você é meu único filho, e herdeiro. Precisa saber tudo o que é necessário para se tornar bem sucedido quando for a sua vez de administrar meus negócios.

— Eu... Eu não...— e novamente, minha garganta retorna a se fechar, e as palavras se prendem no nó.

— Você não tem escolha. Agora, irei lhe fazer se arrepender de ter perdido a aula. Tire suas roupas, Justin.

O nó em minha garganta se tornou doloroso, enquanto flashes contínuos de acontecimentos repetitivos combeavam minha mente. Meus próprios gritos em minha cabeça, e a dor de tê-lo investindo toda a sua força em mim, para me punir.

— Mas... Me desculpe. Eu não irei faltar mais, eu...

Tire. Agora.

Meus joelhos finos ficaram bambos conforme os dedos megros tocaram minha vestimenta, a retirando de meu corpo peça por peça. Reprimi a vontade de me encolher quando fiquei totalmente nu. E então, aproximei-me ao seu comando.

O impacto de meu rosto batendo contra a mesa foi o suficiente para causar dor pungente e latejante em minha cabeça. E se ela não fosse tão frequente e familiar, talvez eu gritasse. Os dedos de meu pai agora deslizavam em minhas nádegas, e eu o ouvi murmurar coisas incompreensíveis. Me preparei para o que vinha a seguir, e todo meu corpo permaneceu imóvel quando me penetrou. Minhas pálpebras fecharam, e então meus lábios foram reprimidos. Nenhum som à mais, exceto dos gemidos dele.

A dor agora era tão insignificante quanto a vontade de chorar e gritar, de impedir que o fizesse. Já não gritava por ninguém, porque sabia que fingiriam não ouvir. Porque até mesmo eu havia desistido de salvar a mim mesmo.

Meus pequenos dedos se contraíram sobre a mesa maciça; o único indício do que eu sentia. E mesmo quando sua mão tomava meu órgão genital e reproduzia movimentos, nenhum músculo ou reação manifestava-se.

Abri meus olhos quando me soltou. Não fazia ideia de quanto tempo havia passado, ou se realmente havia passado. Minha mente tinha desligado para qualquer tipo de percepção. Afastei-me da mesa, quase que caindo sobre minhas articulações fragilizadas. Não olhei para trás nem um segundo, abaixando-me somente para pegar minha roupa e seguindo para fora do escritório.

Ninguém ousou olhar para mim, não naquelas condições. E não reparei se reprimiam expressões de pena ou repulsa do que me foi feito, só o que me importava era seguir meu caminho para o único lugar onde me sentia eu mesmo.

Ao chegar em meu quarto, encarei minha própria imagem no espelho, um longo tempo analisando-me. Vergonha toma minha face e estou vermelho. Novas marcas roxeadas foram adicionadas as outras.

E quando uma única lágrima desceu de meus olhos, então senti raiva. E meu punho se chocou milhares de vezes contra meu próprio reflexo. Mas nenhum grito, não dessa fez. Apenas choro contido enquanto socos eram transferidos. O vidro se estilhaçando e meu próprio sangue melando minhas mãos.

— Justin! Filho! — Não parei. Nem mesmo quando a voz feminina chamou por mim. Mais e mais, os cacos gasgavam minha mão; os estilhaços caindo em meus pés.

Então fui virado bruscamente na direção dela. Minha visão turva pelas lágrimas captou o rosto jovial de minha mãe. A mão quente tocou minha bochecha, enxugando as gotas derramadas.

— Onde é que você estava? Onde... você... estava! Onde você estava, onde você estava, ONDE VOCÊ ESTAVA! — E eu estava gritando, e um par de olhos azulados me encaravam de volta. — Por que permitiu que ele fizesse isso comigo? Por que estamos aqui? Por que ele...

— Me desculpa, filho... Me desculpa. Por favor, perdoe sua mãe, Justin. Perdão...— e seus braços me envolveram, apertando-me contra si. Meus dedos incapazes de se mover foram guiados até suas costas, e não me importei se a sujaria com meu sangue.

— Eu vou matá-lo. Eu não sei como, nem quando, mas eu irei. — Eu disse, mais para mim do que para ela. E então novamente seus olhos fitavam os meus.

— Nunca, jamais pense nisso. Você não pode matar seu pai, ele é...

— Nunca mais repita isso. Ele nunca mereceu esse título. Ele jamais foi um pai para mim.

Save MeOnde histórias criam vida. Descubra agora