10. The Past Is Coming

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Não abri o diário além da apresentação deste. Não li as páginas seguintes.
Mesmo sentindo o quão vital parecia ser para mim; temia o que poderia ser revelado, e as consequências de saber aquilo o que jamais deveria ter chegado à mim.

Quando levei o pequeno caderno para meu quarto, longe dos olhos de Sam e Dean, haviam pequenas borboletas se movimentando em meu estômago. Talvez o próprio nervosismo estivesse alertando-me sobre o ato: eu estava furtando. Algo que não era meu, mas deles. Apesar disso, chamava por mim, como se também fizesse parte de meu ser. Do meu... passado.

Vasculhei minhas próprias lembranças em busca de respostas; alguma menção do diário, algo que deixaram escapar e não tive a chance de capturar. Mas nada. Nada além de desconfiança por minha parte, dúvidas que permaneceram sem respostas durante boa parte de minha infância. Sam e Dean quase sempre saíam juntos, contando-me o necessário: iriam se divertir. Não me importava até se tornar frequente, e em algum momento de minha adolescência, começar a me sentir excluída.

Era possível que não fosse apenas por minha idade ou para minha proteção, mas que eu nunca soubesse o que faziam. O que escondiam. E talvez o fato de Sam ser abertamente alguém fascinado por casos criminais, e quase sempre ter acesso à determinados conteúdos sobre as análises das investigações, integrasse para essa hipótese.

Então tudo pareceu mais claro quando lembrei-me de algo que Castiel me dissera, em sua primeira aparição em minha mente sombria e inócua.

"Seus irmãos são Dean e Sam Winchester, que a mantiveram segura e longe da vida que levavam." — Disse ele. E talvez naquele momento eu estivesse atônita demais para questionar do quê, exatamente, eles me mantinham longe. E simultaneamente perto.

Minha decisão passou a ser mais importante do que minha própria sanidade, que implorava para que eu jamais abrisse aquele caderno, envolto em couro desgastado. E ao abrir, li as páginas que se seguiam; tocando as letras tão profundamente escritas que quase atravessavam o papel cinzento.

Datas e registros de memória; fotos que eu jamais vira. John Edward Winchester; meu pai, foi um jovem como Sam. Seu desempenho em guardar registros e escrever sensações sentidas em grande parte dos acontecimentos, apenas poderia ser similar a Sam. Mas a aparência... O maxilar forte e a musculatura impecavelmente ereta: isso certamente foi herdado por Dean.

Mary Winchester, a quem não me foi apresentada adequadamente, era uma mulher doce e Jovial. Os poucos registros de seu belo rosto sorridente denunciava uma mulher alegre, mas alerta. Protetora. Sorri quando as descrições no diário registravam seu temperamento, e o modo como nem sempre perdão era o suficiente para ela.

As páginas se seguiram, e pude observar intimamente os pensamentos e emoções em relação à momentos com seus filhos em crescimento. Mas me fixei nas letras quando começaram a descrever conflitos internos, e tudo o que quase levou a ruína da família winchester.

Mary era uma caçadora.

E ao saber disso, papai não gostou nem um pouco. Mas o que estava por vir... Ele não teve tempo de cobrar confiança por parte de minha mãe, pois havia algo muito maior chegando.

As páginas seguintes já não descreviam mais a infância de meus irmãos, mas continham fragmentos de pesquisas de notícias que na maioria das vezes registravam mortes inusitadas. Corpos mutilados sem nenhuma razão e nenhum suspeito. O nó em minha garganta se apertou quando lembrei-me do emaranhado de ossos expostos e carne podre que fora identificado como Justin Bieber.

Mas eu continuei a ler, mesmo quando as letras embaçavam ou tinha um borrão de bebida tomando quase todo o papel, me esforçava para enxergar cada letra traçada. E então eu estava a analisar pesquisas diárias de... criaturas. Coisas que jamais pensei que fossem reais. E os pensamentos de papai... Eram contraditórios e confusos, e pelo modo como as letras pareciam voar em direções diferentes, passei a concluir que eram anotações de um homem desgastado que bebia a cada caçada desses seres.

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