18. Sky

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Estou correndo. Minha respiração e meus batimentos cardíacos como os únicos fatores nos quais conseguia ouvir. Não sabia exatamente de quem temia, ou o quê me perseguia, mas a sensação de acossamento parecia me engolir mais do que a escuridão dos corredores. Gritos. Tão altos que preciso tapar os ouvidos com as mãos para continuar correndo, e só então percebo: são os meus gritos. E eu não estava gritando.

Não enxergo além de meu próprio nariz; de meus próprios pés em movimentos, tão rápidos que pareciam vultos diante da névoa que agora rodopiavam em minhas pernas. Mas aquilo ainda estava atrás de mim. E por isso corro mais rápido, sem saber para onde estava indo ou se em algum momento encontraria um lugar seguro. Meu corpo se desloca para o chão, e só percebo que havia algo em meu caminho quando todos os meus músculos doem ao bater em algo sólido. A aflição me toma, tento me erguer mas estou fraca demais para me salvar. Grito; e mesmo assim a escuridão me engole.

Meus olhos se abrem com um solavanco de meu corpo. Pisco algumas vezes até identificar a escrivaninha do outro lado do quarto. Meu quarto. Eu estava sonhando.

Olho para o relógio do lado esquerdo da cama, e são três da manhã. Não fazia nem mesmo duas horas que havia pegado no sono. Me jogo no travesseiro outra vez, encarando o teto por longos segundos, e somente quando me viro para o lado contrário, percebo algo diferente encima da comôda. Ligo o abajur para ter visão total do que era, e percebo que havia um bilhete junto dele.

"Costumo cumprir minha parte dos acordos.
                      — Justin." 

A caligrafia quase rasgando o papel provocou um pequeno arrepio em minha espinha dorsal, e então jogo o bilhete onde não posso ver. O que o acompanhava era um livro de capa resistente. Passo meus olhos rapidamente pelas letras grandiosas.

Manual dos anjos e arcanjos
Por: Stephen Wheeler.

Meus dedos deslizam pela capa, detalhando as letras. Não deveria estar acordada, ao mesmo tempo que deveria estar me perguntando de que modo Justin deixou tal coisa tão próximo de mim. Mas sei que ele usou magia.

Abro na primeira página, e consigo identificar que cada letra foi digitalizada em uma máquina de digitação, daquelas antigas.

"Capítulo 1:  Anjos.

Seres tão místicos e sobrenaturais que é difícil acreditar em sua existência. Ainda mais se for analisado o fato de que existe uma legião destas criaturas. Feitas para servir um único Deus, a qual muitos deles não tinham acesso direto. Segundo meus estudos no livro sagrado, três nomes são regularmente citados como destaques vitais desse exército: Miguel, Rafael e Gabriel. Os únicos com a acesso restrito à Deus. Um ser de superioridade tão elevada que é necessário que apenas um número limitado de anjos possua tal intimidade.

Anjos são incapazes de descer a Terra a menos que enviados pelo próprio Deus ou um de seus Arcanjos já citados anteriormente. Na terra, sua forma mística real seria incapaz de ser vista, pois o brilho é tão forte que é provável que suas órbitas oculares humanas estourem sob as pálpebras. Por isso, anjos assumem corpos humanos, chamando-os de "casca" para que assim possam cumprir sua missão e subir aos céus novamente.

É impossível matar ou ferir um anjo. Como bons soldados, são incapazes de sentir dor. A menos que assuma a forma humana, deste modo, como está ligado a um corpo de carne e osso, todas as emoções e sensações são direcionadas ao anjo ou arcanjo hóspede. "

Permaneço um tempo estagnada na lembrança que me vem à tona. Castiel. Ele estava a usar uma "casca" humana para se fazer presente em minha frente horas atrás. Se o próprio não estivesse usando tal forma, meus olhos queimariam em minha face até se transformar em pó apenas por olhar sua figura reluzente.

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