6. Haamiah

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Ainda estava ali, olhando atentamente aos detalhes do rosto anguloso que se assimilava a besta que vi e ainda ando vendo. O sorriso em eventos importantes que exigiam um perfil alegre e confiante com sua profissão; e os lábios unidos em uma linha reta em outros registros. Mas então minha mente muda de foco, mas ainda é o mesmo contexto.

Haamiah. Castiel chamou-me assim, e o nome era estranhamente familiar. Exatamente como aquele homem nas fotografias era para mim. Então me pus a procurar pela aba de navegação, e quando algo chama minha atenção, forço meus olhos a lerem cada letra minúscula.

A LENDA DE HAAMIAH.
03/01/1994

Segundo um livro encontrado por historiadores no ano de 94, a existência de Haamiah é verídica. Em uma data não registrada, Deus criou o único anjo capaz de arrancar alguém das profundezas do inferno; metade sua criação e metade soldado: Haamiah é apontada como as portas entre a Terra e o inferno. Não há indícios de sua existência entre os humanos ou qualquer aparição nas páginas da Bíblia sagrada atual, apesar das anotações escritas em enoquiano e traduzidas, dizerem que a criatura mística foi direcionada ao ventre de uma humana para crescer e viver como tal, até que Deus decidisse o momento para que sua criação executasse seu propósito divíno.

Propósito divíno.

Dentre todas as explicações implícitas no texto, as duas palavras em conjunto se assentaram como rainhas em minha mente perturbada.
A cada passo que seguia em direção àquela insanidade, mais fora de mim sentia-me. E mesmo que quisesse afastar-me daquilo, mais fundo queria ir. Se existisse qualquer inverdade em tudo aquilo, era importante e trivial simultaneamente. Sendo assim, imprimi toda a informação que consegui, incluindo fotografias e noticiários sobre o caso Justin Bieber, e ao ter cada folha em mãos, organizei e deixei junto de meus pertences que iam comigo para o serviço.

[...]

Em meu horário de trabalho, apesar de ter executado tarefas de minha função, cada informação conseguida durante a madrugada ainda me perseguia como uma espécie de fantasma textual cuja presença era quase doentia. Bella acompanhava meus passos enquanto contava coisas pessoais sobre si mesma, carregando livros nas mãos e os organizando em prateleiras próximas ás minhas. Não chegava a ter qualquer tipo de raciocínio lógico relacionado a qualquer coisa que ela dizia, mas encontrava frases de entedimento para proferir quando questionava minha compreensão. Quando seus olhos esverdeados encontraram os meus foi quando notei que minha amiga percebeu que, na realidade, parei de ouvi-la como gostaria.

— Em que merda de mundo você está, Hailey? — seu tom de voz soou controlado, embora sua posição demostrasse muito de sua irritação com meu comportamento. — Achei que éramos amigas o bastante para você me contar o que se passa na sua cabeça. Que droga! eu estou me abrindo aqui, contando minhas emoções e você só responde com "que bom", "eu compreendo" e "é complicado".— ela tentou imitar minha voz robótica ao repetir as frases que eu dissera anteriormente, mantendo os braços cruzados acima dos seios.

— Eu não poderia contar a você, Bell... É mórbido demais para a compreensão de alguém. — disse com calma evidente, broqueando qualquer lembrança dos acontecimentos enquanto minhas mãos ainda passavam vagorosamente pelos livros maiores.

— O que é mórbido demais que não pode me contar? você lembra do nosso juramento, não é? "se não podemos contar uma para a outra, certamente não faremos. E se chegarmos a fazer, não deixaremos a outra sem saber." — e no mesmo instante, o acontecimento repassa em minha memória: o juramento selado com o sangue do nosso dedo indicador, furado com uma agulha e unido em um só liquido. A mesma recordação que Castiel repassou em minha mente antes de eu tê-lo interrompido.

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