Um coração como o seu.

Jiang Cheng

Os primeiros raios de luz solar já podiam ser avistados no píer lótus, o dia amanheceu silencioso e quem observava o ambiente calmo, nem sequer podia imaginar que na mente do líder, aquele que mantinha tudo em ordem, estava uma completa bagunça, com os pensamentos em uma desordem que as vezes sufocava.

Um ano havia se passado desde a morte de Jin Guangyao, um ano desde que segredos e mais segredos haviam sido revelados.

Um ano desde que o líder da seita Jiang ficou sabendo a verdadeira história por trás de seu núcleo dourado e sobre a morte de sua irmã.

E durante esses 365 dias o Jiang se manteve o mesmo, mantendo com maestria a posição de líder, não frquejando nem por um momento.

Quem visse de fora diria que o Jiang era praticamente inabalável.

Mas por dentro... pobre garotinho, tão assustado, tão sozinho, tão quebrado.

Sua rotina era sempre a mesma, durante a manhã logo após o café ele se dirigia diretamente para o escritório, onde analisava e assinava documentos que tinham relação com sua seita, resolvendo assuntos pendentes.

Alguns tão triviais que o faziam revirar os olhos, respirando fundo para não jogar tudo pro ar e mandar todo mundo a merda.

Durante a tarde se dirigia até o salão de treinamento, onde treinava seus discípulos com maestria, mantendo sempre o pulso firme com aqueles que não iam tão bem, dando a eles orientação, liderança e segurança os guiando para se tornarem cada dia melhores.

Quando a noite caí geralmente tráz consigo belas paisagens, e com a lua tão bela no céu todos ficavam encantados, relembrando histórias e construindo outras, mas para o Jiang tudo que a noite trazia se resumia apenas em maus momentos.

Lembranças ruins, dor, solidão, saudade, angústia, arrependimentos, um misto de sentimentos que o levavam a caminhar até aquele lugar novamente.

Era sempre assim, todas as noites o Jiang se via caminhando em passos lentos até o salão ancestral, onde se curvava diante das placas memóriais que continham os nomes de sua família gravados ali.

Passava ali longas horas contando aos pais progresso com a seita, e dizendo a irmã como Jin Ling tem se saído bem, mesmo que o irrite as vezes, o fazendo perder a paciência algumas vezes.

Quando se sentia que já não havia mais nada para dizer o Jiang se despedia e caminhava de volta para seu quarto, e após um banho, tentava em vão pegar no sono.

Mesmo que seu corpo estivesse beirando a exaustão o Jiang nunca conseguia dormir assim que se deitava.

Quando ele finalmente conseguia fechar os olhos era assombrado por sonhos ruins que se aproveitavam das lembranças de uma vida inteira de horror, resumindo tudo em poucas horas de sono.

O Jiang nunca conseguia dormir mais que duas talvez três horas de sono, a menos que estivesse embriagado, ou exausto demais pra qualquer outra coisa além de se deitar sobre a cama, acordando somente pela manhã, quando os raios de luz o despertavam.

Essa era sua rotina, durante o dia se mantinha oculpado demais para sentir qualquer sentimento, qualquer emoção, qualquer dor.

Mas, durante a noite ele sentia a avalanche de sentimentos voltando com tudo, sentindo o peito apertar e as feridas se abrirem novamente, sangrando sem controle.

E mesmo que estivesse quebrado, Jiang Cheng não deixava transparecer nem sequer um vislumbre de sua verdadeira dor.

É como se ao passar da porta do quarto pra fora ele colocasse um grande manto, escondendo assim suas cicatrizes, e os machucados que ainda sangravam.

Com o passar dos dias ao longo do ano, o Jiang conseguiu falar com Wei Wuxian algumas vezes, a algumas vezes até conseguiram ter uma conversa normal, sem que o Jiang quisesse usar o Zidian ou ameaçar chamar a fada para fazer com que outro ficasse quieto.

E mesmo que no fundo ele soubesse que ambos nunca mais teriam o mesmo laço atado no passado, o Jiang se esforçava para fazer com que as coisas chegassem o mais próximo ao normal possível.

Mesmo que as vezes Wei Wuxian o irritasse tanto a ponto de faze-lo perder o que não tinha de paciência.

Também se manteve ocupado com o treinamento e ensinamentos de Jin Ling.

Por mais que soubesse que o sobrinho tinha uma grande responsabilidade nas costas, o Jiang não o deixou assumir totalmente o controle do clã Jin, sentia que ainda não era o momento, Jin Ling era novo demais para comandar a maior e mais poderosa seita entre as quatro mais poderosas do mundo da cultivação.

Mas a idade não era o ponto ali, o ponto era que o líder do clã Jiang sabia exatamente como foi assumir um clã importante sendo tão jovem.

Sabia das grandes responsabilidades, sabia como o fardo era pesado, sabia das lutas, das guerras, das batalhas, sabia que se Jin Ling assumisse o título tão novo perderia seu brilho lentamente, ele sabia.

Afinal foi exatamente o que aconteceu consigo mesmo.

E o Jiang não deixaria que o sobrinho perdesse a melhor fase de sua vida preso a grandes responsabilidades.

Não deixaria que Jin Ling perdesse sua adolescência com coisas tão triviais como relatórios e mais relatórios.

Por isso cuidava da maioria dos relatórios e até mesmo ia a torre carpa quando era preciso de uma análise mais profunda da situação.

Sempre deixando o outro livre para fazer suas próprias escolhas, mesmo que a maioria o fizesse revirar os olhos.

E assim foram os dias no píer lótus, e assim foram os dias para Jiang Cheng.

Alguns mais nublados que outros, mas nada que o homem não pudesse aguentar, ou ao menos controlar.

Mesmo que se machucasse mais e mais a cada vez que se forçava a parar de chorar, engolindo o choro enquanto sentia o peito doer a cada respiração mais profunda, a cada lembrança, a cada sonho, mesmo que doesse, ele jamais deixaria que alguém o visse naquele estado.

Por isso... ao ver de todos, as coisas estavam como deveriam estar.

Perfeitamente bem.

Primeiro capítulo postado, por favor tenham paciência comigo, me desculpem os erros, ainda estou me adaptando, tirei melhorar... ou é o que eu espero.

Beijos de luz 💫