CAPÍTULO 22

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A silhueta da garota apareceu ao longe.

- Ei! -- Repetiu ela. Lucca e Maitê diminuíram o passo e sinalizaram para que ela continuasse.

- Falta pouco!

- Anda! Estamos perto!

Terê correu um pouco, antes de seu corpo fraquejar e ela cair no chão. Lucca e Maitê se precipitaram e a ajudaram a levantar, passando seus braços pelos ombros.

O cansaço consumindo o seu corpo outra vez e o peso dela a incomodava, porém só o fato de estar viva, superava qualquer esforço. Terê começou a correr normalmente e se soltou deles a medida que o prédio se aproximava.

A camisa arranhava sua pele e então Maitê teve uma ideia. Tirou a camisa no caminho. Com o top preto cobrindo os seus seios, passou a mão pela lama de areia e poeira de sua pele, nos braços, nas costas, barriga, o rosto. Se esforçava ao máximo para conseguir limpar tudo aquilo. Parou de correr e sacudiu a camisa várias vezes, deixando que se encharcasse pela água.

Ouviu Lucca chamar o seu nome. Distante. Ela ergueu a cabeça e viu que ele e Lebre haviam desaparecido de vista.

- Estou logo atrás de vocês! -- Gritou em resposta sacudindo a camisa mais duas vezes, deixando-a o mais limpa possível, depois tornou a correr e pôs a camisa sobre o ombro, se concentrando em limpar a maior parte da sujeira.

Viu a silhueta de Lucca e Lebre entrando pelo prédio. Quando outro raio caiu ao chão ela já estava sobre a proteção daquela construção abandonada.

Pousou as mãos nos joelhos molhados pela calça encharcada e ofegou. As gotas de água do cabelo caindo no chão a sua frente.

- Vocês estão de leira? -- Sussurrou Carlos - Um raio poderia ter atingido vocês! 

- Mas não atingiu -- Ela respondeu ofegante.

Maitê se ergueu, sentindo a barriga arder. Abaixou a cabeça e a encostou com cuidado. Estava arranhada e uma trovoada mostrou sua pele completamente vermelha.

Maitê ergueu a cabeça e encarou Luiza, Lucca, Isac, Diego, Carlos e Lebre. No chão se encontrava Emily que abraçava os próprios joelhos e fitava o chão sem expressão alguma no rosto, porém lágrimas brilhavam nele.

- Durmam -- Ordenou Maitê - Descansem o máximo que puderem -- Ela deu as costas para o grupo e levou as mãos aos quadris, erguendo a cabeça lentamente, inspirando o ar pelo nariz, com os olhos fechados.

- Maitê? Está tudo bem? -- Perguntou Diego. Ela não precisou se virar de frente para ele, nem abrir os olhos para reconhecer sua voz triste e preocupada. Ela abaixou a cabeça e uma lágrima desceu pelo seu rosto, de imediato.

- Apenas descanse.

Ouviu os passos dele recuando. Inesperadamente seus olhos encontraram os de Newt que a olhava com tristeza. Ela limpou a lágrima, dando meia volta e se encaminhou para perto de Terê, agachando a sua frente. A amiga estava cansada de verdade.

- O que houve? -- Perguntou tirando o cabelo da frente de seu rosto.

- Muitos raios caíram perto... Chegou uma hora que eu só fui jogada de um lado para o outro -- Ela ergueu a camisa e mostrou a barriga. Não dava para ver nada além de uma grande mancha escura.

- Algo grande me acertou e... minhas roupas queimaram.

- Deite sua cabeça no lençol e durma bem. Amanhã veremos o que podemos fazer por você -- Quando ela foi se levantar Lebre agarrou sua mão.

- Obrigada... Obrigada de verdade por voltar para me buscar. Não teria aguentado mais em pé. Já estava perdendo a esperança e... -- Maitê a interrompeu, acariciando sua cabeça.

- Shhh. Você sobreviveu. Isso é o que importa -- Ela esboçou um sorriso e saiu de perto do grupo para se aproximar de Emily.

Ajoelhou a sua frente e seus olhos se cruzaram. Maitê nunca tinha visto alguém tão triste. Naquele momento, Emily assumiu uma expressão de choro e as duas se abraçaram.

- Eu amava ela... eu não consegui dizer que amava ela... -- Emily lamentou em voz baixa.

- Ela sabia disso... pode ter certeza que sabia.

Emily não chorou daquele jeito muito tempo, mas quando ela se afastou para ir dormir, Maitê tinha certeza de que ela se lamentaria em silêncio por um tempo que nunca conseguiria determinar.

Acordou com o Sol penetrando pelas janelas quebradas. Se sentou e descansou as costas na parede. Mirou os Onze, todos dormindo. Luiza com a cabeça sobre o ombro de Emily e Diego junto de Lebre. Isac dormindo sobre a perna de Lucca...

Soltou um mero sorriso antes de tornar a chorar. Havia perdido mais dois e tinha outro completamente ferido. Ela ergueu os joelhos e apoiou um único braço em cima deles, depois encaixou o rosto na curva do braço para que ninguém ouvisse seus soluços.

Se lembrou do sonho que tivera com seus pais. Na verdade, era uma memória. Com toda certeza. Lembrou do seu pai dizendo aquela frase:

"Um dia você vai crescer, e verá como as coisas realmente são". E ela respondendo:

"Eu espero nunca ter que crescer"

Mas agora ela tinha sido obrigada a isso. Obrigada a cuidar de outros jovens. Obrigada a fingir que estava tudo bem o tempo inteiro e a crescer rápido demais.

Com aquele último pensamento ela limpou as lágrimas e se levantou. Tinha sede e muita fome, mas agora, a maioria dos garotos havia deixado os fardos para trás. Exceto por Diego que era um dos que carregava a metade dos frascos que continham a água reserva. Ela pegou uma maçã e um frasco daqueles com água. Fez uma refeição lenta, completamente desanimada. No fim ela guardou o frasco d'água e olhou em volta, procurando por sua camisa e viu que um dos Clareanos acordara. Newt. Ele se erguia para se sentar de costas a parede também. Ela o ignorou e tirou a camisa do chão, depois a vestiu de novo.

- Eu deveria tapar os olhos? -- Perguntou Newt. Maitê o olhou e viu que ele cobria o rosto com uma das mãos e virara para o lado.

- Queria que todos os garotos fossem como você -- Disse ela se sentando com as costas apoiadas na parede. Ninguém disse mais nada depois disso.

Ela apenas mirou o vazio com tristeza no olhar quando se lembrou que Lebre poderia estar mal de mais para andar. Não poderia nem imaginar o que faria caso ela se queixasse de não conseguir mais.

𝑬𝑼 𝑬𝑺𝑷𝑬𝑹𝑶 𝑵𝑼𝑵𝑪𝑨 𝑻𝑬𝑹 𝑸𝑼𝑬 𝑪𝑹𝑬𝑺𝑪𝑬𝑹 / 𝑴𝑰𝑵𝑯𝑶Onde histórias criam vida. Descubra agora