02 • uma questão de relatividade

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Tentei manter certa distância do Gael durante os últimos dias, mas isso não era tão fácil quanto eu imaginava que seria. O apartamento não era tão grande assim, as áreas comuns não pareciam ser espaçosas o suficiente quando acontecia de nós dois estarmos no mesmo cômodo.

E ainda tinha o problema do banheiro. Depois de tudo eu ainda não tinha um banheiro só para mim. Era simplesmente inacreditável que eu ainda tivesse que dividir com o Gael o que eu considerava o espaço mais íntimo de uma casa.

Pelo menos eu só teria que lidar com ele aqui por mais alguns dias. As minhas aulas começavam na próxima semana e, caso ele fosse ficar mais tempo, as coisas tendiam a ficar ainda piores. Nós dois saindo e chegando em casa praticamente no mesmo horário e tudo mais.

Eu tinha acabado de me arrumar para sair e pretendia passar direto por ele sem dizer nada no meu caminho para fora do apartamento. No entanto, um delicioso cheiro vindo da cozinha, me obrigou a alterar o meu rumo.

- O que você está fazendo? — perguntei ao me aproximar, tentando visualizar o conteúdo dentro da panela que ele mexia — Mais uma sopa?

Desde que chegou aqui, isso era tudo o que o Gael tinha cozinhado. Sopas e mais sopas. Algumas eram melhores do que as outras, mas todas elas deliciosas. Toda vez que eu me pegava pensando esse tipo de coisa, eu quase tinha vontade de me dar um tapa. Ainda era inacreditável eu me sentir dessa forma em relação a algo que não passava de uma tigela de água quente com coisas flutuantes — okay, nem sempre tinham coisas flutuantes.

- Sim — ele respondeu sem hesitação e então se virou para mim com uma colher em mãos — O que você acha?

Antes que eu pudesse dar uma resposta, Gael enfiou a colher na minha boca. Pensei em protestar, mas logo um incrível sabor se espalhou pela minha boca e me deixou sem palavras.

- Então?

- Hum... — soltei um gemido e fechei os olhos por um instante — Abóbora?

- Sim.

- Acho que essa é a melhor até agora.

Ele sorriu com a minha resposta e se voltou novamente para o fogão. Não pude deixar de sorrir também. Apesar das minhas tentativas de evitá-lo, eu sempre acabava vindo até a cozinha quando ele estava preparando alguma coisa e provando o que quer que seja que ele estivesse cozinhando.

- Eu só ainda não entendi o porquê de todas essas sopas.

- Eu preciso descobrir qual é a minha que coisa — ele falou sem se virar.

Sinceramente, eu achava que a essa altura eu não me importaria mais em falar com as costas dele, mas isso era algo que me irritava cada dia mais. Custava muito ele se virar e olhar para mim enquanto falava comigo? Às vezes eu sentia que ele não queria olhar na minha cara.

- Que coisa? — tentei soar casual, como se o comportamento dele fosse nada para mim.

- Pode ser qualquer coisa — ele falou meio irritado, mas eu sabia por experiência própria que dessa vez a sua irritação não era dirigida a mim.

- Eu não faço a menor ideia do que você está falando.

- Todo mundo na minha turma parece ser muito bom em alguma coisa específica. Tem esse cara, Andy, que faz alguns dos molhos mais deliciosos que já provei, e também tem essa garota chamada Celeste que faz bolos divinos. Enquanto isso, eu não sou particularmente bom em nada.

- Você está brincando, não está? — agora foi a minha vez de acrescentar uma pontada de irritação na minha voz — Tudo o que você cozinha é maravilhoso. Em menos de uma semana eu tomei mais sopa do que já tinha tomado durante toda a minha vida, e eu não fiz isso só para te agradar.

Não Posso Te Amar [livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora