18 • características não tão boas

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Acho que não preciso dizer que as palavras do Gael me deixaram com o coração acelerado e as pernas bambas.

A minha felicidade não importa. Foi o que eu disse.

Importa para mim. Foi o que ele respondeu.

Porque ele tem que falar essas coisas?

- Pois não deveria — tentei soar séria, mas foi impossível. Eu estava completamente derretida por dentro.

- Por que não?

- Porque isso não faz sentido — falei alto, eu mesma perdida no sentido das minhas próprias palavras.

- Gia...

Eu não vi quando isso aconteceu, mas aconteceu. Sem que eu tivesse me dado conta, as mãos do Gael tocavam as minhas bochechas, emoldurando o meu rosto. De repente ele estava tão perto de mim. Nossos narizes apenas há alguns poucos centímetros de distância.

Engoli em seco ao encarar os seus olhos assim tão de perto e, mais uma vez, uma sensação que eu não sabia nomear percorreu a minha espinha.

Estava ficando cada vez mais difícil manter uma conversa civilizada e coerente com o Gael. Como se já não bastasse o efeito que ele tinha sobre a minha mente, agora ele também parecia ser capaz de incapacitar todo o meu corpo. Que tipo de feitiçaria é essa?

- Gia... — ele recomeçou mais uma vez. O meu nome ainda mais doce na sua boca — Você está certa. Eu... Eu tenho medo. Eu tenho medo que você se afaste de mim, que sinta raiva de mim.

- Isso é impossível — respondi idiotamente em um quase sussurro.

- Não, não é.

- Eu não posso prometer que não vou ficar com raiva se você for honesto comigo, Gael. Mas eu te garanto que eu vou ficar completamente furiosa se eu descobrir a verdade mais tarde e através de outra pessoa que não seja você.

Não era mais só curiosidade. Eu estava começando a ficar genuinamente preocupada com o segredo que Gael guardava. O que seria capaz de deixá-lo nesse estado?

- Eu... — sua voz morreu. De novo, ele parecia completamente perdido entre os seus pensamentos.

Eu doaria todos os meus delineadores se em troca eu conseguisse ler os pensamentos do Gael nesse momento e entender o que se passava pela sua cabeça. Eu entendia perfeitamente o quão difícil às vezes era fazer palavras saírem da sua boca. Porém, ele estava me deixando cada vez mais apreensiva.

O que ele escondia era algo assim tão terrível? Mais terrível do que o segredo que eu guardava? Mais terrível do que ter alguém te ameaçando e chantageando e manipulando?

- Minha mãe não sabe que eu estou aqui — ele falou de repente, como se essa frase fosse o suficiente para explicar alguma coisa quando na verdade ela teve o efeito justamente oposto — Eu mudei os meus planos sem falar nada com ninguém. Foi uma decisão tomada de última hora, impulsiva e impensada, mas uma decisão da qual eu não posso dizer que me arrependo.

- Okay... — eu não sabia o que mais dizer — Sua mãe queria mesmo tanto assim que você fosse estudar no Instituto Culinário daquela cidade com nome esquisito que você não podia falar com ela que queria ir para outro lugar? Que você já tinha mudado os seus planos?

- Não... — Gael soltou um pesado suspiro e por um instante me senti mal por ele.

- Nossa... Eu não pensava que a Liz fosse assim.

- Não. Não foi isso o que eu quis dizer — ele balançou a cabeça e suas mãos caíram do meu rosto. Ele se afastou de mim, voltando a se posicionar próximo da porta do quarto, quase como se estivesse prestes a sair correndo. Talvez ele realmente estivesse — Minha mãe não é esse tipo de pessoa, ela não se importa se eu estudo aqui ou em outra cidade. Ela não tem nada a ver com essa história.

Não Posso Te Amar [livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora