Não Posso Te Amar [livro 2]

32 • movimento totalmente inocente

Eu pensei que tinha sido a Vanessa, mas foi o Gael quem escolheu o restaurante onde fomos jantar. Eu deveria ter suspeitado desde o ínicio já que era um restaurante de comida italiana — a minha favorita, e a dele também.

O lugar era grande, com inúmeras mesas, e tinha um sutil ar de sofisticação e luxo sem perder a atmosfera acolhedora que eu associava a esse tipo de estabelecimento. Para mim, um bom restaurante italiano era aquele em que eu entrava e imediatamente me sentia na cozinha da casa da minha avó — eu não me lembrava muito bem dela, mas tinha a nítida lembrança de que ela cozinhava como ninguém.

- Que lugar bonito — Vanessa comentou — E o cheiro vindo da cozinha também não está nada mal.

- É um restaurante novo. Abriu recentemente e eu queria vir conferir — Gael respondeu casualmente.

Depois de uma rápida conversa sobre os itens no menu, fizemos os nossos pedidos. Eu estava me sentindo ousada então também pedi uma garrafa de vinho tinto. Tanto o Gael quanto a Vanessa me lançaram um olhar questionador que eu fingi não ver.

A comida chegou rapidamente e nós comemos enquanto conversávamos sobre tudo e nada. A conversa fluía fácil e leve, pelo menos para três de nós. Era praticamente impossível ignorar o fato de que o Roger tinha estado calado na maior parte da noite, e muito sério também.

Além de estranho, isso era extremamente incômodo. Roger não era do tipo que falava demais, mas ele parecia sempre ter algo a dizer, ainda mais quando o perguntavam sobre o seu trabalho ou alguma de suas viagens. Normalmente eu me sentia confortável na presença dele, hoje porém esse não era o caso.

Terminei a minha primeira taça de vinho e então me servi de mais uma. Eu tinha que parar de beber toda vez que me sentia desconfortável ou eu sairia bebada daqui.

- Você está se sentindo bem? — Vanessa o perguntou com a voz baixinha, enquanto também se servia de uma taça de vinho.

Ela obviamente tinha tentado ser discreta, mas eu tinha certeza que todos nós pudemos ouvi-la claramente. Falar baixo não era exatamente o forte da minha amiga.

- Sim, claro.

Pensei que o Gael fosse comentar algo sobre o humor esquisito do seu primo, mas ele apenas lhe deu um longo olhar antes de voltar a sua atenção novamente para a comida em seu prato.

- Tem certeza? — Vanessa o pressionou — Se você quiser, nós podemos ir embora mais cedo.

- De forma alguma — Roger se inclinou sobre ela e beijou de leve a sua testa — Não tem necessidade de encurtar a noite por minha causa. Deve ser só o jet lag.

- Estranho... — quando me dei conta, eu já estava falando — Você chegou de viagem há vários dias. Não era mais para estar sofrendo de jet lag.

Eu estava certa, eu tinha certeza disso. Jet lag era uma espécie de mal estar que pode afetar pessoas que viajam para fusos-horários muito diferentes, causando cansaço e desorientação. Porém, o olhar que o Roger me lançou dizia que eu não poderia estar mais longe da verdade.

Vanessa também me lançou um rápido olhar, o seu porém era muito diferente do seu namorado. Ela me olhava como se quisesse se comunicar comigo. Como se ela soubesse de alguém que eu não fazia ideia.

Mais uma vez, Gael não comentou sobre o assunto, o que era estranho, mas não estranho o suficiente para me preocupar. Ele se comunicava bem na maioria das situações, mas não era uma pessoa particularmente falante.

- Acho que pode ter sido algo que eu comi então — Roger comentou.

Eu diria que o seu tom era casual, porém a forma como ele encarava o Gael enquanto falava era intensa demais para ser considerada qualquer coisa próxima de casual.