22 • nada romântico

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Minha mãe não estava nada feliz. E nem eu.

Minha conversa com ela não poderia ter sido pior. Ela gritou comigo e falou todas as coisas horríveis que eu imaginei que ouviria do meu pai. Fui chamada de criança, imatura, irresponsável, negligente e... Estaria tudo bem se a minha mãe tivesse parado nas ofensas, mas ela foi além e ameaçou me botar para fora do apartamento caso eu não me tornasse uma pessoa mais responsável. E rápido.

Eu quase ri quando ela falou isso.

Parte de mim estava mais do que revoltada. Por que? Porque nada do que aconteceu foi realmente culpa minha!

Pela primeira vez tinha sido o Gael quem fez merda, e não eu. Porém, ainda era eu quem estava sendo culpada e responsabilizada por tudo.

Eu tinha vontade de gritar bem alto que foi ele quem esqueceu a droga dos pães no forno e fez tudo pegar fogo? Sim! Eu faria isso? Não!

Porque não?

Por que contar essa verdade envolvia também revelar outras verdades que não me pertenciam. Envolvia colocar o Gael em uma situação potencialmente difícil.

E eu não faria isso com ele.

O que eu faria era me controlar, ficar calada e nunca mais dizer uma palavra sequer sobre o que realmente aconteceu.

Já era um novo dia, o dia seguinte. Um dia cheio de esperanças e promessas e... Quem eu queria enganar? Eu tinha certeza de que esse dia também seria uma bela bosta.

Peguei meu telefone para ver as horas e percebi duas coisas. Primeira coisa, que eu tinha dormido demais e agora eu não tinha mais tempo para sair para correr antes de ter que ir para a faculdade. Segunda coisa, o meu pai tinha me mandado uma mensagem no meio da noite me avisando que ele e a Liz já tinham chegado em casa.

Eles foram embora ontem bem tarde, tendo sido os últimos a saírem. Meu pai estava relutante em ir embora e me deixar aqui sozinha. Eu tive que o lembrar de que era isso o que eu estava fazendo nos últimos meses, que eu morava sozinha e essa agora era a minha vida — embora isso tudo fosse uma enorme mentira.

A verdade era que eu estava sim me sentindo um pouco solitária demais para o meu gosto. Eu já tinha me acostumado com a presença do Gael e sons que ele faz pela manhã enquanto se levanta, prepara o café-da-manhã e depois se arruma para sair.

Era estranho estar aqui sem ele.

Ri comigo mesma. Há um tempo atrás eu seria totalmente incapaz de conceber esse tipo de pensamento. Tudo o que eu queria era realmente morar sozinha e ser deixada em paz.

De repente, um pensamento surgiu em minha mente. Já não era tão cedo, mas ainda não era tão tarde. Se estivesse aqui, o Gael ainda não teria saído para o Instituto de Culinária.

- Como ele vai para a aula? — pensei em voz alta.

Ontem o Gael tinha ido embora junto com o Jason e deixado o carro dele aqui, por questões de praticidade e porque ele não deveria dirigir enquanto o seu braço não estiver recuperado. O Jason não tinha aulas de manhã e eu duvidava muito que ele acordaria cedo só para servir de motorista para o Gael.

Não pensei duas vezes. Apenas liguei para ele enquanto me levantava às pressas da cama e começava a me arrumar. Eu precisava sair de casa literalmente agora se eu quisesse ter tempo o suficiente de levar o Gael para o Instituto e não chegar atrasada na faculdade.

Eu não teria tempo para tomar café-da-manhã. Mas quem precisa de café logo pela manhã? Eu não.

Esse foi o último pensamento que tive logo antes do Gael atender o ligação.

Não Posso Te Amar [livro 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora