Alguns dias se passaram. Eu não sabia dizer quantos exatamente. Eu só sabia que hoje era segunda-feira mais uma vez.
De alguma forma, eu consegui me acalmar um pouco ao longo dos últimos dias e parei de surtar com a ausência e a falta de contato do Gael. Mas eu passei por vários estágios antes de chegar aqui.
A princípio eu estava super preocupada com ele, depois eu fiquei com raiva. Muita raiva. Tanta raiva que se ele aparecesse na minha frente naquele momento, eu não seria capaz de responder pelos atos violentos que eu cometeria contra ele.
Depois da raiva veio a tristeza. Eu passei literalmente um dia inteiro chorando, convencida de que ele tinha se afastado de mim porque não se sentia mais da mesma forma. Por que ele tinha finalmente se dado conta de que eu sou uma pessoa indigna.
Logo em seguida veio a aceitação. Gael não estava aqui para resolvermos as coisas e o que eu poderia fazer sobre isso? Absolutamente nada. Ficar com raiva ou chorar até me desidratar não me ajudariam. Então só me restava sentar e esperar. Esperar pelo retorno dele. Esperar que ele me explicasse porque sumiu tão de repente.
Uma vozinha dentro de mim ainda me dizia que eu tinha culpa por ele ter desaparecido, mas eu estava me esforçando ao máximo para não ouvi-la.
Me olhei na frente do espelho uma, duas, três vezes mais antes de sair de casa. Como se eu esperasse ver algo diferente cada vez que me deparava com o meu reflexo. Mas não, eu estava sempre exatamente do mesmo jeito como da última vez.
Era só a minha ansiedade mexendo com a minha cabeça. De novo. Eu sabia disso.
Respirei fundo e obriguei os meus pés a me levarem porta afora e então até o elevador. É isso aí, pensei comigo mesma. Uma vez que eu tivesse ligado o carro e saído da garagem do prédio não teria mais volta.
Hoje era o meu primeiro dia de estágio n'O Jornal. Eu estava ansiosa, obviamente, sem saber o que esperar exatamente. Mas eu também me sentia estranhamente feliz, como se finalmente estivesse fazendo algo bom e útil com o meu tempo.
Enquanto dirigia pela cidade, eu pensava que, não muito tempo atrás, eu estava fazendo esse exato trajeto a caminho da minha primeira entrevista de trabalho, e agora aqui estava eu, de fato indo para o trabalho.
Porém, ao contrário daquele dia, hoje eu tinha resolvido me vestir mais como eu mesma e não como a pessoa que eu achava que tinha que ser para impressionar quem quer que seja.
Eu me sentia confortável. Eu ousava até mesmo dizer que eu me sentia confiante.
Eu queria muito que esse estágio desse certo. Não, eu precisava que esse estágio desse certo. Esse era o primeiro passo em direção ao meu futuro. Toda a minha carreira dependeria dessa experiência. Eu precisava me sair bem. Eu precisava fazer isso dar certo.
*
Deixei a porta do apartamento bater com força atrás de mim. Me joguei no sofá e suspirei. Eu não podia acreditar que esse dia tinha finalmente acabado.
Eu nunca fui tão feliz por ter decidido usar tênis e roupas confortáveis. Sinceramente, eu não entendia como algumas mulheres conseguiam passar o dia inteiro em cima de um salto alto e no dia seguinte fazer isso de novo.
Soltei mais um suspiro e me arrastei para o banheiro. Eu precisava de um banho quente. Quente não, escaldante.
Digamos que o meu primeiro dia de estágio não foi como eu imaginei que seria. Não houve nada para ler ou escrever, ideias para dar, textos para corrigir ou qualquer outra coisa do tipo. O meu dia se resumiu em pular de andar em andar naquele imenso prédio, preparando e levando café para os outros e distribuindo correspondências.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Posso Te Amar [livro 2]
RomanceEsse livro é uma continuação de "Não Posso Te Beijar". Leia o primeiro livro antes de ler esse para poder apreciar toda a história. Depois de alguns meses sem se ver, Gia está pronta para deixar o passado para trás, esquecer Gael de uma vez por toda...