Capítulo 7 - Homem sem palavra

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LILI PAULINE REINHART

Era ela. Dessa vez eu não estava sonhando, nem alucinando. Minha mãe.

A mulher que roubou minhas lágrimas. Me amou como se eu fosse seu mundo e depois me jogou em um abismo de medo e impotência.

Foi quando eu percebi que eu não era grande igual ela fazia parecer. Descobri que eu não era nada.

Eu não seria nada novamente se meu diagnóstico apontasse perda de sanidade mental. Não queria ser nada.

Cole me levou pra casa em silêncio, ele entendia minha dor, respeitava e faria de tudo pra fazer isso parar. Mas nada poderia amenizar aquilo.

Caminhamos de mãos dadas até o elevador e dentro deles permanecemos abraçados e aconchegados. Já dentro da cobertura eu queria apenas o silêncio e a escuridão.

Foram tantos anos feliz com Cole que agora eu tinha certa dificuldade em me lembrar daqueles dias terríveis que passei.

Frio. Eu senti muito, principalmente depois que me mudei para o cubículo, levei apenas uma coberta, que não poderia em hipótese alguma sujar. Fome. Teve um dia em especial que eu bebi 1 litro de água a força e fui dormir na tentativa de afastar a dor em meu estômago, foi em vão. Eu ainda não sabia administrar meu dinheiro e faltava alguns dias antes do segundo pagamento do meu emprego anterior, o resultado disso foi uma infecção intestinal que me resultou em mais gastos com o hospital. Medo. As vezes eu fechava meus olhos na escuridão e rezava baixinho pra ela voltar, as lágrimas me deixavam sem fôlego, meu rosto vermelho, meu olhar perdido, era tudo o que eu via quando me levantava e encarava o espelho.

Eu sobrevivi. Eu lidei com tudo isso e hoje eu tinha tudo aquilo e mais um pouco.

- Lili... - Cole adentrou o quarto no fim da tarde, se aproximou de mim que estava sentada de costas para a parede no escuro. Ele não disse nada, apenas se sentou ao meu lado e segurou minha mão.

- Cole... - Percebi minha voz embargada e me dei conta finalmente das lágrimas quentes que escorriam por minhas bochechas. - Dói tanto... - Minha voz estava carregada de dor e pesar do que eu perdi tendo que me virar tão cedo.

- Eu sei... - Foi o que ele respondeu, depois levantou minhas mãos até seus lábios e beijou amorosamente. - Eu sei, amor... - Não conseguia ver seu rosto, nas sentia seu toque. - Não há nada que eu diga agora que vai acabar com a sua dor, mas... Se lhe serve de um pouco de conforto... - Ele hesitou enquanto eu virava meu rosto em sua direção captando a fragrância de perfume que ele usava rapidamente. - Você nunca, nunca ficará sozinha novamente. Mesmo que nossos caminhos tomem rumos diferentes, o que der e vier, estarei aqui por você... E para você. - Suas palavras serviram de conforto e eu me joguei em seus braços chorando mais alto dessa vez.

Cole passava as mãos por meus cabelos em silêncio enquanto eu molhava sua camisa social branca com lágrimas. Mas tudo parecia certo em seus braços.

Tudo desfocava quando eu estava alí.

Em meu refúgio.

Meu lar. Onde eu queria viver e morrer.

A pontada em meu braço doeu, exaustão tomava todos os meus membros enquanto a enfermeira retirava sangue do meu braço.

No dia seguinte eu precisava retomar minha vida. Precisava encarar o diagnóstico que me destruiria. Tinha que aceitar pelo bem das pessoas ao meu redor.

Então me forcei a vir na consulta, me submeti a todos os tipos de exames possíveis, com Cole ao meu lado, segurando minha mão e um vinco de preocupação formado em sua testa.

❦𝗨𝗺𝗮 𝗣𝗿𝗼𝗽𝗼𝘀𝘁𝗮 𝗜𝗻𝗲𝘀𝗽𝗲𝗿𝗮𝗱𝗮❦ [𝐄𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥]Onde histórias criam vida. Descubra agora