𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋 𝟑𝟎𝐊

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Os Desertos das Bruxas sempre foram quentes, mas, naquele dia em específico, o sol parecia castigar cada ser vivo que pisava na areia escaldante sob os pés

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Os Desertos das Bruxas sempre foram quentes, mas, naquele dia em específico, o sol parecia castigar cada ser vivo que pisava na areia escaldante sob os pés.

Por algum bendito milagre ou glorificação divina, havia um meio de se refrescarem e impedirem o derretimento de cada órgão do corpo que não fosse um simples banho frio.

Manon continuou pisando os pés na madeira quente, torcendo ao máximo para que as solas da bota não derretessem com o calor. A ponte esquentava de uma forma horrível no sol da tarde; se fosse areia saída de uma fornalha, ninguém perceberia a diferença.

O vento açoitou seu rosto lívido, e seus cabelos soltos voaram para trás com a força do ar. Os sons de calmaria começaram a surgir em seu ouvido. Ela imediatamente abriu um leve sorriso para o horizonte.

Era uma caminhada de quinze minutos embaixo do sol, do calor e em linha reta, sobre uma ponte de madeira novinha em folha que soltava rangidos intercalados para chegar até a praia de Offero.

O Grande Oceano banhava o oeste dos Desertos das Bruxas bem no extremo sul. À direção sudoeste, o gigantesco deque que ligava a cidade até a orla fora construído meses antes, talvez quatro ou cinco, e Manon admitia que amava ir até lá. Quinze minutos a pé não eram nada em comparação à paz que aquele lugar transmitia.

Um monte de areia, como qualquer outro, surgiu à frente, mas a árvore solitária, regada por magia e alguma outra coisa que não fora ideia dela a dizia que finalmente havia chegado ao limite do território, onde um único sofá circular jazia, sob a sombra.

O ar se tornou mais salgado. O vento se tornou mais violento. A areia se esfriou abaixo de suas botas e o som do mar preencheu o buraco de seus tímpanos.

O barulho fez seus músculos relaxarem, seus olhos se fecharam por segundo, suas feições se suavizaram e seu sorriso se alargou, apesar de ainda ser quase imperceptível.

Vinte metros à frente dela, o mar corria bravo. Aquela vista que ela tanto aprendera a amar. As ondas raivosas inundavam a areia fria e úmida da praia, com tal força que alguns pedaços de galhos eram jogados para fora da água. Ela sentiu o cheiro da salinidade exalando de cada gota no chão, cada força que a levava a caminhar mais para à direita e deixar o deque para trás.

Os grãos de areia grudaram no couro úmido das botas conforme Manon avançava pela beirola da praia, retraindo-se ao máximo para não chegar perto da água.

Ao longe, ela viu o que buscava.

Havia um homem dentro da água, o nível do mar o abraçando até os tornozelos. Ele estava levemente inclinado para frente, para que sua mão esquerda alcançasse as mãozinhas da criança que o acompanhava.

Manon parou assim que se viu em uma linha reta a deles. Cruzou os braços e admirou a cena com um sorriso malicioso e um olhar de curiosidade.

As roupas de Asterin estavam molhadas nas barras. O vestido branco já se tornava cinza nos detalhes em arabescos bordados nas pontas, e, do jeito que a maré estava raivosa, ela sairia dali molhada por inteiro se o pai não tratasse de carregá-la.

[✔] Manorian - Pós Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora