Capítulo 1 - Recomeço

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A Rainha das Bruxas estava sentada em uma cadeira na tenda mofada.

Bruxas entravam e saíam, e ela fazia de tudo para sua atenção não se desgastar com nenhuma daquelas movimentações. Glennis tentara conversar com a neta, tirá-la do que quer que houvesse em sua cabeça mas, assim como as outras, fora ignorada.

Os olhos dourados da rainha encaravam o vazio de sua cama, os lençóis revirados desde que acordara, horas atrás, quando o sol ainda era visível. Seu olhar não se movia, não enquanto sua cabeça pensava em milhares de coisas mais importantes do que os problemas que as bruxas lhe traziam.

Fora fácil chegar aos desertos. Fora simples montar uma serpente alada e voar o continente inteiro, de Terrasen até o extremo Oeste, até encontrar um infinito de areia que parecia querer engolir quem pisasse ali.

O difícil era permanecer. Comer. Beber. Fazer suas higienes pessoais. Era tudo complexo demais para sua cabeça, como se as memórias da guerra ocupassem mais espaço do que deveriam. Tudo aquilo era um areial sem fim, afinal. Sem esperanças, sem avanços.

Muitos afazeres e responsabilidades que ameaçavam partir sua cabeça em duas.

E mesmo assim, ela não estava pensando nisso.

Não estava se importando se a bisavó viera procurá-la para conversar. Não estava preocupada se a prima crochan a convidara para comer perto da fogueira. Não se importava com o fato de que morreria desidratada e com fome em meio àquele deserto.

Duas coisas reverberavam em sua mente, batendo de um lado e de outro, causando pontadas agudas, o motivo para Manon não querer sair daquela tenda.

Silencio. Paz para pensar.

Um dos pensamentos que não cessavam eram os mesmos que lhe enchiam os pesadelos. Uma emissão de luz cegante, e então cinzas. Só cinzas. Impossíveis de distinguir se eram delas ou não. "Viva, Manon." ecoando na sua cabeça, como um aviso. Viver. Viver.

Ela estava viva. Em partes. Ela respirava e saira ilesa da guerra. No entanto, ficar sentada em uma cadeira dura de abeto bruto, sem conversar com ninguém e sem olhar ninguém, era sequer uma vida?

Era um dos obstáculos que sua mente lhe jogava, e um que ela sabia que seria difícil de ultrapassar.

E o outro...

Manon obrigou suas pernas a se levantarem depois de seis horas sentadas ali, a dormência nos músculos a invadindo.

Abaixou a cabeça para passar na porta da tenda e se deparou com uma noite já caida, a lua cheia já a única fonte de luz, juntamente à fogueira.

As centenas de bruxas se dividiam em grupos, toda noite. Algumas se isolavam com as que já conheciam, outras se juntavam à fogueira, independente se conheciam alguém ou não. Havia bruxas que optavam por permanecer nas tendas para não enfrentar o frio. À direita ou a esquerda de Manon, eram dezenas e dezenas delas, pessoas entrando e saindo de lugares apertados e sem proteção, onde o frio entrava com facilidade.

Ela tinha de ajeitar aquilo. Tudo aquilo.

- Avó.

Glennis virou a cabeça para Manon, a mão enrugada indicando o lugar vazio ao seu lado nas toras de madeira. Ao se sentar, o calor do fogo penetrou em meio ao frio congelante dos desertos.
Glennis havia liderado a volta das bruxas junto com a Rainha, a idade jamais seria um empecilho para a velha Crochan. Embora agora, não houvesse muito o que ela pudesse fazer em meio às dificuldades.

- Vou a Adarlan.

As palavras foram mais baixas que as chamas estalando em sua frente, mas a bruxa as ouviu.

[✔] Manorian - Pós Guerra Onde histórias criam vida. Descubra agora