Capítulo 6

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Há diversas formas de agir com a decepção, você pode chorar, pode sentir raiva e pode até procurar uma distração se esse for o você daquele momento. Algumas pessoas são como eu, elas inventam uma desculpa, vestem um pijama quente e se escondem embaixo de um grosso cobertor mesmo que o dia esteja quente lá fora.

Algumas pessoas se confortam naquele casulo improvisado e torcem para nunca mais precisarem sair dali, elas desejam isso com toda a força, eu desejo isso.

Não é fácil você decidir quando criança o que quer ser, o que deseja fazer, é provável que mude de escolhas o tempo todo.

Eu nunca mudei, nunca deixei de ser eu e ouvir que isso não foi o bastante machucou uma parte de mim que não poderá ser curada nem com os mais sinceros pedidos de desculpas.

Porque ela vai pedir desculpas, eu sou realmente muito boa e eu sou ou era o mais perto de uma medalha que aquela equipe poderia chegar.

Eu não contei a ninguém sobre a dispensa, mas a frequência que meu celular vibra do outro lado da cama indica que Lali já sabe e busca notícias.

Busca querer salvar o mundo com um belo discurso para me fazer entender que ser tirada da equipe não quer dizer que eu sou ruim, apenas quer dizer que eu sou melhor em alguma outra coisa.

Já perdi as contas de quantas vezes a vi fazer esse mesmo discurso. Mas nunca imaginei que acabaria o ouvindo também.

Fechei meus olhos sentindo o peso do mundo cair sobre meu corpo, com o desejo de dormir permaneci assim por longos minutos antes de me dar conta que eu não conseguiria.

Eu sempre vivi para a natação, sempre foi o meu motivo para levantar da cama e seguir em frente. E o que eu vou fazer agora? Tomar cerveja e comer pizza?  Usar drogas como uma universitária "normal"?

Será que eu ainda sou uma universitária?

— Alexa desliga o meu celular.

Pedi com a voz abafada pelo cobertor. Quando finalmente acreditei ter me livrado do mundo exterior, duas batidas na porta me fizeram murmurar um palavrão.

Tentei permanecer em silêncio, mas insistiram batendo mais uma vez.

Saí da cama e ouvi minha perna estalar quando a estiquei sobre o chão, me arrastando, abri a fina passagem de madeira. Levantei as sobrancelhas encarando os olhos escuros do meu vizinho.

O que esse cara quer agora?

— Você está acabada.

Eu odeio ele com todas as minhas forças.

— Me diz que está aqui por um caso de morte.

Não faz sentido ser por outro motivo.

— Me pediram para te dar uma carona pro futebol.

Lali.

— Te obrigaram.

Previ por conhecer minha amiga.

— Exatamente, então não sei, veste algo mais usável e lava o rosto com algum sabonete milagroso que eu te espero lá embaixo.

— Você é sempre tão atencioso — Eu disse com uma falsa ironia pronta para fechar a porta e voltar para minha cama.

— Você tem cinco minutos, meu bem — Ele disse se afastando enquanto ajeitava a corda do violão que o prendia ao seu corpo.

— Vai jogar futebol ou ir a uma roda de música?

Ele apertou o botão do elevador antes de responder.

— Eu odeio futebol, vou tocar minha música e tomar uma cerveja bem tranquilo longe de todo o suor nojento que vocês atletas exalam — Respondeu entrando no cubículo de metal.

Fechei a porta e me encostei nele.

Eu deveria jogar futebol?

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