Capítulo 33

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Mais uma vez eu estava sentada em minha cama encarando a tela do meu computador com um sorriso ouvindo Breno falar seu novo apartamento, ele não perdeu tempo em dizer o quanto ele surra o meu no quesito paredes e portas.

Isso claro depois de eu insistir muito para saber sobre si já que o jogador pareceu mais animado que eu com a possibilidade de eu ir para as eliminatórias.

Uma das coisas que mais amo em nós dois é em como podemos sempre ficar felizes um pelo outro sem nada que nos impeça.

Arregalei os olhos ao ver a vista de seu quarto, mas não tive muito tempo para falar sobre antes de ser interrompida pelas batidas na madeira fina da porta.

Puxei a maçaneta e cheguei a me assustar com a velocidade com que Ramon entrou em meu apartamento.

— Está ocupada agora ou já pode retribuir o favor que eu te fiz?

— Não falamos nada sobre eu ter que "retribuir o favor".

— Você não teria, mas por um milagre dos céus eu ganhei dois ingressos para assistir um filme no cinema.

— Com certeza existe uma fila de pessoas loucas para ir ao cinema com você.

— Não para ver esse filme.

— Estamos falando sobre heróis? Eu já vou adiantando que odeio filmes de heróis.

— Não se for um filme de heróis de desenho — Breno fez a sua observação após deixar seu notebook de lado para passar margarina no pão.

— Na verdade, eu me recuso a assistir qualquer coisa com heróis — Afirmei.

— Ótimo, é uma sessão especial de O vento levou.

Virei meu rosto procurando no rosto de Breno uma dica do que é isso, ele negou sem entender também.

— Não tem em streaming?

— Veo que tengo buenas amistades.

E aqui está mais uma vez o espanhol que preciso me esforçar para entender.

— Tá legal, vamos ao cinema — Concordei — Entretanto depois disso você não precisa me chamar pra mais nada que tenha filmes de romance envolvidos, e sim, eu tenho certeza que estamos falando sobre um filme de romance.

— Volto aqui em uma hora — Senti os lábios de Ramon tocarem minha testa por um segundo antes que ele saísse com a mesma velocidade que entrou.

Claro, não antes de mandar um beijo no ar na direção de Breno.

Fiquei parada no mesmo lugar por alguns segundos pensando no quanto eu odeio contatos físicos desnecessários.

Qual o problema das pessoas em respeitar o espaço de cada um? Se existisse uma marcha pelo direito de não ser tocada por pessoas que não tenho intimidade ou vontade de ser tocada eu estaria lá com toda certeza.

Passei a mão pela testa em um movimento impulsivo antes de ir até o meu guarda roupas, peguei um vestido vermelho com uma estampa quase quadriculada e um conjunto qualquer de lingerie.

— Pelo visto eu vou ao cinema ver um filme ruim, então a gente se fala depois — Falei me abaixando em frente ao computador — Te amo — Declarei  e antes de encerrar a chama Breno gesticulou que queria dizer algo.

— Julie — Levantei as sobrancelhas esperando que ele dissesse o que quer dizer — Tenta se divertir, de verdade, sem dietas malucas, sem regras. Só aproveita.

— Ninguém precisa de dieta quando se trata de cinema, no máximo as pessoas consomem um pequeno pote de pipoca e um acompanhamento.

— Nós não consumimos nada — Revirei os olhos com sua fala, como se eu fosse uma obcecada — Eu amo você.

Finalizamos a conversa em seguida.

Tomei um banho rápido e penteei meus cabelos ondulados sem muita atenção, passei um creme de potão para deixá-los mais baixos quando ficassem secos.

Calcei os meus tênis brancos e peguei minha jaqueta de couro no segundo em que Ramon bateu na porta.

No caminho caprichei no perfume, atendendo sem nenhum tipo de atraso.

Quando entramos no elevador pelo espelho consegui observar o bom gosto para roupas que meu vizinho não esconde ter.

Calças jeans escuras, tênis da mesma cor e um suéter preto que chega a cobrir a borboleta de seu pescoço.

Não conversamos muito no caminho, mas Ramon contou baixinho uma música gringa que tocava no rádio de seu carro enquanto eu com a cabeça apoiada na janela quase peguei no sono, mas não fiz isso, eu não queria perder o final da música mesmo sem entender uma palavra do que ela dizia.

O shopping não estava lotado como costuma ficar aos finais de semana, talvez por não ser final de semana ou então pela péssima opção de filmes disponíveis.

— Não, não pega um copo grande de  refrigerante.

Tentei aconselhar Ramon.

— Não gosto de ficar com a boca seca durante o filme.

Se justificou.

— Você vai passar todo o filme saindo pra ir ao banheiro se tomar tanto refrigerante, sem contar o quanto esse veneno faz mal. Isso prejudica a sua pressão arterial, diabetes, pedras nos rins e acaba com os seus dentes.

— Moça — Chamou a atendente — Vou querer dois do grande.

— Você não ouviu nada do que eu disse?

Ramon falou algo sobre não precisar de canudos e me deixou esperar enquanto furava o copo com um canudo de metal.

— Foi mal, eu estava ocupado agindo como uma pessoa normal.

— Normal?

— Pessoas que sabem que vão morrer e por isso aproveitam um grande copo de refrigerante.

— Você pode demorar mais a morrer se levar uma vida mais — Encarei ele jogando ketchup na pipoca — Saudável.

— Viver mais, que absurdo — Sorriu, neguei com a cabeça desacreditando do que ouvi — Vai comer isso durante o filme?

Olhei para o pequeno saquinho de pipoca apenas com sal que vai acompanhar o meu suco de laranja geladinho.

— É melhor que isso.

Observei o garoto que além da enorme sacola cheia de salgadinhos e doces tinha um grande balde de pipoca e um lanche que nos fez ficar horas na fila da lanchonete escondido em sua mochila.

— Pode ter certeza que não, mas eu divido com você quando perceber isso.

Minutos após o fim dos trailers, Ramon já precisou sair para ir ao banheiro.

— Eu avisei — Falei tranquila comendo minha pipoca — Não é estranho não ter mais de seis pessoas aqui?

— Nem todo mundo tem um bom gosto para filmes — Ramon disse tranquilo, apoiando os pés na cadeira vazia da frente.

No começo desejei que ele também não tivesse, mas após alguns minutos eu entendi, aquele filme realmente merecia essa sala cheia.

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