— Então é isso que você faz no seu tempo livre? Sabe, quando não está dando o melhor de si nos esportes.
Ramon perguntou enquanto eu andava até a cama carregando os dois copos, um com suco de uva antes de caixinha e um com suco de beterraba fresquinho.
— Você fala sobre assistir tv?
— Não, sobre ver o seu ex namorado bonitão na tv — Explicou — Ele realmente fica muito bonito usando esse uniforme.
Mais uma vez indiretamente ele concorda com o Breno, eu devo mesmo parecer uma idiota que fica admirando o ex namorado o tempo todo.
Não há o que fazer se o namoro acabou e mesmo assim eu não consigo deixar de apoiar, de torcer e que seja, admirar o quanto ele fica bonito nesse uniforme.
— Se você concorda que ele é bonito entende o meu ponto — Justifiquei — Toma — Ele olhou para o copo em minha mão — É suco de uva, não vou desperdiçar minhas beterrabas com quem não sabe apreciar.
Olhei para a tv a tempo de ver Breno correr pela quadra conseguindo subir uma bola que estava prestes a sair, tomei um gole do meu suco e em seguida puxei o ar próxima ao copo.
Ao meu lado Ramon assistia o jogo com os lábios levemente roxos, roxos como o meu suco de beterraba.
Ele pode ser lerdo demais para não notar a nítida diferença ou ele simplesmente não quer admitir que meu suco é delicioso.
Não o julgo, acredito que ao menos eu seria capaz de ambas as coisas.
— Como ganha?
— Nunca assistiu uma partida de vôlei?
— Coisas desse tipo me dão sono.
— O morro dos ventos livantes, não?
— O morro dos ventos Uivantes é um clássico, assim como orgulho e preconceito, o meu favorito inclusive.
— Aquele com os zumbis?
— O sem zumbis.
— Está me dizendo que existe uma versão de orgulho e preconceito sem zumbis?
— Em que mundo você vive, Juli?
— Você que não sabe como se ganha um jogo de vôlei e eu é quem vivo em outro mundo? Moramos no mesmo andar, Ramon, é quase o mesmo mundo.
Meu sorriso cresceu quando vi o bloqueio do Breno pegar em cheio, foi em um impulso que me levantei comemorando com ele mesmo a distância.
Vi quando ele se aproximou da câmera e beijou o símbolo preso na corrente pendurada em seu pescoço.
Me sentei mais uma vez sentindo um certo vazio, não é exatamente como antes, principalmente quando não estamos mais juntos.
— Parece ter sido um término saudável.
Concordei com a cabeça.
— Tínhamos caminhos diferentes para seguir.
Estranhei o silêncio do mais falante e me virei para ver seu rosto que encarava a televisão com atenção.
— Não sei se eu suportaria.
— O que?— Perguntei confusa.
— Me apaixonar por alguém que está tão distante.
Nunca foi difícil para mim, mas ouvir que isso não seria possível se fosse outra pessoa ao invés do Breno me deixa pensativa sobre o tipo de casal que nós dois fomos.
— Breno e eu nunca fomos daqueles casais grudentos cheios de carência, só curtimos a companhia um do outro de qualquer lugar — Falei — Sem toques desnecessários e momentos de afeto público. Então é normal não termos tido dificuldade em ficar longe um do outro.
Ramon se mexeu um pouco, desconfortável.
— Uau.
— Falei algo de errado.
— Não é isso, mas, grudento e carente? Acho que esse é bem o tipo de namorado que eu sou.
— Você tem várias namoradas, vai encontrar alguém igual a você.
— Igual a mim? Agora eu sou um padrão?
— Padrão Ramon Lopes de produção, seu namorado grudento e carente — Tentei imitar a voz de algum comercial de tv — Retire o seu na loja ainda hoje e ganhe um beijo de beterraba.
Dei risada vendo o olhar que ele lançou para o copo.
— É isso que você faz com as suas visitas? Engana elas para que bebam essas coisas saudáveis que deveriam ter um gosto horrível.
— Ah, para! Eu não enganei, uva e beterraba são coisas muito diferentes com sabores totalmente diferentes. Me impressiona você não ter diferenciado isso antes que eu falasse.
— Tá com gosto daquela fruta — Ele passou a língua entre os lábios pensativo — Mas eu não consigo me lembrar do gosto, uma vermelha, parece com pitanga.
— Acerola — O lembrei.
— Essa com mais alguma coisa, refrescante, é abacaxi?— Neguei — Hortelã? É hortelã, nossa que estranho parece que os sabores se encaixaram.
— Claro que se encaixam, senão não seria um delicioso e saudável suco.
— A palavra saudável faz isso automaticamente ficar ruim — Empurrou o copo em minha direção — Acho melhor eu ir para casa tomar dois litros de coca.
— Refrigerante faz muito mal — Eu disse vendo-o caminhar até a porta — Tô falando sério, mal até demais.
— Podemos sair hoje à tarde?
Ele tá me convidando para sair? Por que ele faria isso?
— Pra que?— Perguntei.
— Para ir a uma loja de construções ou algo do tipo, você pode pagar pelo conserto da nossa parede.
Antes que eu pudesse dizer que deveríamos dividir os gastos assim como dividimos a parede fui deixada só.
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Todos Os Sons Do Nosso Andar
Novela JuvenilCom a intenção de fazer seu novo vizinho diminuir os altos sons de gemidos que balançam a parede que separa seus apartamentos, Julie tem a ideia de gemer mais alto - falsamente- para atrapalhá-lo, mas acaba atiçando a curiosidade do músico. #Tosdnan...