Capítulo 31

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— Me fez vestir um maiô no meio da noite pra gente cometer um crime?

— Relaxa, eu já disse que tá tudo tranquilo.

Apertei minha mochila em dúvida querendo me esconder dentro dela para não continuar o que estávamos fazendo.

Invadir a faculdade não é nada comparado ao que eu imaginava quando o garoto disse que poderia ter uma solução para meus treinos.

Ele é espanhol, talvez fosse rico e tivesse um amigo com uma piscina olímpica no jardim.

— E tá aberta — Ele disse girando a maçaneta após tirar o clip do buraco do cadeado.

— Eu só posso ter perdido o juízo — Reclamei olhando o céu escuro ainda parada do lado de fora.

— Quem precisa de juízo quando se tem talento?

A voz de Ramon veio de dentro do ginásio um segundo antes das luzes serem acesas me fazendo deixar de lado a vontade de recuar.

Como se as águas estivessem me puxando feito um ímã enquanto cantavam lindamente como sereias.

— Que mal pode fazer uma ou duas baterias?

Entrei no ginásio sentindo o calor da noite a beira d'água me aquecer, enquanto Ramon procurava alguma coisa me aproximei da piscina.

Tirei meus chinelos - colocados quando fui em casa buscar roupas de minha profissão - balancei um pouco o pé sobre a superfície da água antes de molhá-lo me certificando da temperatura ambiente que não me prejudicaria.

Vendo Ramon ainda andando de um lado para o outro na arquibancada aproveitei para ignorá-lo, tirei meu vestido e me aqueci brevemente antes de escolher a plataforma de número um.

Número um porque eu sou sempre a primeira, estou sempre sozinha no primeiro lugar.

Molhei meus braços e rosto e ajeitei a toca em meus cabelos, só então me lembrando que não a estava usando.

Na arquibancada dentro de minha mochila, minha touca junto aos meus óculos e o meu cronômetro provavelmente estavam tão ansiosos quanto eu. Tanta saudade quanto eu.

— Posso ficar com o cronômetro?— Ramon disse voltando para lá.

— Não acha mais fácil cronometrar no seu telefone? Essa coisinha pode ser complicada.

— Eu pareço não conseguir apertar um botão no minuto correto?

Levantei os ombros antes de entregar o pequeno aparelho a ele.

— Quando meu corpo tocar a água e quando minha mão tocar a piscina.

— Só ida e volta?

— Duas idas e duas voltas, boa sorte.

Ajeitei minha touca caminhando até subir novamente na plataforma, estalei meu pescoço e mexi com meus ombros antes de colocar os óculos sobre meus olhos.

Encarei a piscina e passei a língua entre os lábios, fiquei em posição e quando o som de início soou em minha mente deixei o meu corpo falar por si só.

Um longo mergulho seguido por inúmeras braçadas, me julguei um pouco mentalmente quando demorei a dar a volta, mas acho que me recuperei quando voltei às braçadas e não cometi o mesmo erro nas próximas viradas. Ouvi um grito de Ramon que parecia animado com o meu resultado.

Nadei até o garoto que tinha os pés balançando sobre a água e um sorriso de orelha a orelha contagioso.

— Ya campeona, el oro olímpico lleva el nombre de Julie — Falou abaixando o cronômetro na minha direção.

— 63 segundos? — Um cresceu em meu rosto.

— Julie Lima do Brasil — Ramon voltou a gritar como se estivesse narrando uma final internacional.

Resolvi me soltar fazendo alguns tchauzinhos para o nada como uma verdadeira estrela.

Mas me desanimei minutos depois, aquilo nunca iria acontecer.

Usei meus braços como suporte para me sentar ao seu lado na piscina, tirei os óculos e a outra em um puxão só.

— Acho melhor a gente ir embora antes de termos problemas de verdade.

— Você só tentou uma vez.

— Uma vez é o suficiente para quem não vai fazer nada mais que isso — Falei já me levantando.

— Você não tem certeza disso.

— Ela disse que eu não sou boa o suficiente, uma profissional de verdade me orientou disso, é melhor eu tentar focar de vez no futebol.

— 63 segundos sem treinos frequentes, não sei quem foi a louca que te disse essa idiotez, mas errou.

— Consegui parar com isso?

— Com o que?

— Esse lance da mistura de idiomas, me faz prestar atenção no que você diz e eu não tô afim de fazer isso.

Peguei a toalha começando a apertar o pano fofo sobre meus cabelos molhados.

— ¿Estás diciendo que te gusta cuando digo eso?

— Estoy diciendo que eres idiota.

— Olha, ela se arrisca no espanhol.

— Eu disse que não odiava RBD, é claro que um pouquinho eu arrisco. Só não entendo o que você fala por você falar rápido demais, odeio gente fluente que faz questão de ser fluente o tempo todo.

— Não é culpa minha se eu morei na Espanha por, não sei, quinze anos da minha vida?

— Músico, espanhol, fluente, bonitão — Eu falei alto guardando minhas coisas — Vai me dizer que o seu único defeito é um sexo extremamente barulhento?

— Que culpa eu tenho se as garotas gostam de me deixar no comando?

— Elas gostam?— Me virei vendo-o ainda sentado no mesmo lugar.

— Não dou muito tempo ou espaço para descobrirem meus defeitos, mas uma de minhas qualidades é sim um sexo maravilhoso e extremamente barulhento para fazer as paredes de toda a vizinhança balançarem assim como os corações invejosos.

Ele está falando sobre mim? Em momento algum eu fiquei com inveja, fiquei enojada, muito enojada.

— Uau, esse é o projeto para sua nova música Mr. Perfeitinho?.

— Com toda certeza, a trilha sonora do seu ouro olímpico.

— Que honra.

— Deve ser mesmo.

— Vamos?— Falei já vestindo meu vestido por cima do maiô.

— Tem certeza que não quer tentar novamente? Se sem treino você já é capaz disso, eu que não gosto de esportes fico ansioso pra te ver com uma sequência.

Neguei com a cabeça e dei um sorriso curto.

— Quem sabe quando eu voltar pra esse mundo que atualmente não me pertence, anda vamos para casa antes que nos peguem.

— Eu já disse que não invadimos.

— Você literalmente usou um clip para abrir o cadeado.

— Isso é um simples detalhe — Falou pegando os sapatos em mãos e correndo para pegar suas coisas que estavam no alto da arquibancada.

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