Meu sorriso de orelha a orelha deixou bem claro o quanto ele é falso quando abri a porta.
— Que coisa louca — Falei me apoiando na porta — Essas paredes parecem ser de papelão.
— Tem literalmente um buraco na nossa parede, Julie, é a oportunidade que as pessoas vão ter pra chutar a gente daqui — O garoto passou por mim entrando em meu apartamento — Ótimo, é super reconfortante ver que o buraco maior fica do lado que a bola saiu.
Pensa em algo, mude de assunto garota. Você sempre foi boa em enrolar pessoas para se livrar rapidamente delas.
— Eu estava passeando pelo Tiktok um dia desses, seu nome é Fitzwilliam? Vem da sua origem espanhola?
— O que?— Me olhou confuso e abaixado encarando o estrago feito pela bola.
— Fitzwilliam Ramon ou algo desse tipo.
— Ramon Lopes, esse é meu nome, Fitzwilliam é só um dos meus personagens favoritos.
— Tipo de filme? Se eu seguir esse exemplo provavelmente vou ser a Julie molusco, como o Lula.
— Lula molusco do Bob esponja? Ele é o personagem mais chato.
Incrível, Breno dizia a mesma coisa.
Mas ao menos ele está prestando atenção no que estou dizendo agora.
— Tenho certeza que uma pessoa chamada Fitzwilliam também não é lá essas coisas.
— Você tem uma fita métrica? Só pra termos uma noção sobre precisarmos contratar alguém ou encostar uma estante assim fingindo que nada aconteceu.
Eu gosto da segunda opção.
Precisei abrir algumas gavetas dos meus armários, procurar no armarinho do banheiro e debaixo da cama. Entretanto, aparentemente eu perdi minha caixa de ferramentas sem nunca tê-la tirado do lugar.
— Deixa pra lá, eu pego em casa.
— Acho uma ideia melhor — Concordei me sentando em minha cama com as pernas cruzadas enquanto alcançava sem querer me mover muito o controle da tv — Se puder trazer a minha bola quando voltar.
— Quer um chazinho também?— Ele perguntou irônico já de saída.
— Não gosto muito de chá, mas — Fui interrompida antes de poder dizer que adoraria um suco de laranja natural, mas quando ele voltou para dentro de forma repentina prendeu minha atenção — O que foi?
— O elevador está marcando o número cinco.
— Tá, e daí?
— É o nosso andar.
— Sei disso, deve ser alguém procurando por você.
Ele colocou o dedo indicador se abaixando para olhar pelo buraco da maçaneta, achei incrível como tudo para ele não passa de uma aventura.
Notando sua atenção com meus lábios formigando em vontade de perguntar o que ele estava vendo pisei no chão de leve caminhando até lá.
Me abaixei ao seu lado apoiando uma de minhas mãos sobre seu ombro para afastá-lo para ter mais espaço, do outro lado da porta nosso síndico andava de um lado para o outro como se procurasse algo.
Abri minha boca para perguntar ao Ramon o porquê de estarmos agindo como duas crianças que aprontam, mas ele colocou sua mão sobre minha boca impedindo qualquer som de passar por elas.
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Todos Os Sons Do Nosso Andar
Novela JuvenilCom a intenção de fazer seu novo vizinho diminuir os altos sons de gemidos que balançam a parede que separa seus apartamentos, Julie tem a ideia de gemer mais alto - falsamente- para atrapalhá-lo, mas acaba atiçando a curiosidade do músico. #Tosdnan...