Capítulo 36

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Meu corpo suava como se eu não tivesse acabado de sair de um banho fresco, minhas mãos apertavam com força o tecido mole da camisa barata de uma equipe de basquete gringa, meus olhos iam do teto a página de email totalmente perdidos ao tentar não criar expectativas.

A última lista para a convocação das eliminatórias sai no dia de hoje, sem um horário pré definido, apenas sai no dia de hoje. Tentei seguir com a minha rotina, me levantei às quatro, fiz uma breve corrida pelo bairro e após uma ducha refrescante me sentei em frente a tela de meu computador e por um segundo sequer sai dali depois disso. Já se passavam das dez.

Meus ouvidos poderiam diferenciar os sons dos carros se soubesse fazer isso por conta do silêncio que acompanhava a manhã de sábado, Ramon dorme até tarde nos sábados e ninguém nesse andar além dele é capaz de fazer tanto barulho pela manhã, a prova disso é que sou eu a outra moradora.

Recarreguei a página pela milésima vez, eu já teria recebido notícias se fosse selecionada, com toda a certeza quem irá competir já está totalmente ciente disso.

Cocei o nariz em uma coceira chata de ansiedade, mordi minha torrada com a geleia feita em uma das recentes reuniões de minha família e fechei os olhos acreditando que tudo estaria resolvido quando eles fossem abertos.

Mas nem a versão mais otimista de mim acreditava naquilo, de fato quando eu abri meus olhos meus lábios também se abriram, de boca cheia li rapidamente o que chegará no novo email.

O desânimo veio a seguir, mais uma fatura de cartão fechou.

A vida do pobre é assim, a gente acha que tudo vai caminhar certo e de repente, não, você vai continuar na mesma.

Compre algo que deseja, trabalhe para pagar o que comprou, compre algo…

Sai de meus emails, dei uma volta no quarto, enchi um copo de água, molhei os lábios, abandonei o copo o deixando sobre a pia, me sentei na cama, abri os e mails, me senti agoniada com o copo na pia, virei o copo o esvaziando, me dei conta de que não desejo lava-lo, abandonei o copo e voltei para a cama.

Recarreguei os e-mails, senti meu coração parar de bater e em seguida bater forte, senti meus pés formigarem, minha boca secar, apertei os lábios e pisquei longamente algumas vezes sentindo o mundo a minha volta girar, ele parecia girar sem parar em alta velocidade.

Meus dedos tremiam levemente quando toquei duas vezes para abrir o email que acabara de chegar em minha caixa de mensagens, as palavras correram pelos meus olhos conforme com pressa eu engolia as palavras e eles se lacrimejaram segundos depois.

— Eu fui selecionada — Falei bem baixinho tentando entender — Eu fui selecionada — Repeti um pouco mais alta sorrindo abertamente — Eu estou selecionada — Explodi em um grito antes de pular da cama e correr para o corredor para comemorar com quem mais tem me apoiado nesta causa.

Desta vez não o Breno, mas sim o Ramon, o vizinho com péssimos gostos sexuais.

Vi seu rosto antes de bater na porta como se ele já esperasse que eu iria querer estar ali, Ramon sorriu o que deixou seus olhos escuros como os meus pequeninos quase cobertos por suas bochechas fofas.

— Eu disse que você nos traria o ouro.

Minha incrível incapacidade de conseguir avançar para contatos físicos por medo de estar sendo totalmente invasiva e inadequada me manteve parada sentindo lágrimas de alegria descerem por meu rosto.

O meu sonho está começando a se realizar.

Senti quando a mão grande do rapaz tocou minha nuca com delicadeza, seus lábios quentes pousaram sobre a minha testa, fechei meus olhos por alguns segundos antes de ser puxada para um abraço.

Seus braços me apertaram contra seu peito e eu pude sentir seu coração bater rápido em um ritmo totalmente desregulado, aconchegante e esquisito de uma forma que me fez aconchegar sem querer sair dali.

Mas eu precisava.

No exato momento em que meu telefone tocou eu já sabia quem era e o quanto ele estava feliz, tirei o aparelho do bolso e deslizei o dedo vendo Breno logo em seguida com aquele sorriso de orelha a orelha e os olhos molhados de orgulho.

— Acabei de ver a lista — Ele disse animado.

— Eu já ia te ligar — Avisei.

— Estou tão orgulhoso do meu peixinho.

— Você está chorando?— Ramon perguntou, se ajeitando para ver melhor o rosto do jogador.

— Me impressiona você não — Breno rebateu — Inclusive eu li aquele livro que você recomendou, nem parece a mesma Itália.

— É um livro, não é a mesma Itália, é um livro amigão — Estranhei o fato deles ainda se falarem, mas sei da incrível capacidade que ambos têm em conseguir fazer amigos não me surpreendendo.

— Vocês são tão esquisitos — Falei.

— Olha quem está dizendo isso, a garota que representa o Brasil — A fala de Ramon fez com que nós três trocássemos sorrisos.

Eu me sentia feliz, feliz por mim, feliz pelo Brasil, feliz por estar na companhia de duas pessoas que conseguem dividir comigo essa felicidade como se fossem as suas. Eu me encontrava completamente feliz.

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