Fico muito chateada com certas situações, penso que se fosse ao contrário eu agiria de uma forma totalmente diferente, menos injusta.
Mas é sempre bom saber onde realmente estamos e somos colocados na vida das pessoas.
Aqui sozinha da arquibancada esperando por Priscila que mesmo não fazendo parte da equipe faz os treinos para "manter a saúde", de acordo com ela colocar isso em seu currículo vai ser essencial para um estágio bom.
As garotas não olham muito na minha direção ou dirigem palavras a mim, como se sair da equipe fosse também um motivo para me afastar de vez de tudo.
Até mesmo Lali não fez mais que acenar de longe.
Percebo que cheguei a uma fase de minha vida que não desejo me desgastar dizendo às pessoas que suas atitudes me magoam, prezar pela minha saúde mental acaba sendo um benefício melhor do que me esforçar por amizades que talvez não importem tanto. Mesmo que machuque.
Não sou mais da equipe, não faço mais parte do grupo é preciso entender isso e respeitar a decisão que já foi tomada.
Olhei para o relógio em meu pulso quando as garotas pularam na água, quando Lali a primeira bateu as duas mãos na parede senti raiva.
78 segundos, eu faço isso em 100m borboleta e fui tirada da equipe por não conseguir acompanhar o ritmo de um pessoal que leva mais de um minuto para atravessar 50m.
Um absurdo, estão me sabotando.
Cruzei os braços no momento em que meus olhos se encontraram com os da treinadora, neguei com a cabeça e mexi os lábios dizendo um breve "fracasso".
Breno tem razão, eu não tô na equipe, nada nessa vida me obriga a ser educada com quem não respeita o meu talento.
Que não é pouco.
— Droga — Falei bem baixinho já pensando na possibilidade de também ser expulsa do ginásio.
Desci os degraus da arquibancada em passos longos.
Talvez a me convide para retornar a equipe agora que está vendo que cometeu um erro em me tirar dela.
— Precisando de uma nadadora rápida, ágil e que manda muito bem no nado costas?— Sorri simpática.
— Quero apenas te lembrar que isso é um treinamento fechado, não pode ficar aqui enquanto a equipe está se não faz parte da equipe.
Desde quando isso? Aí cara, me lembrando, desde sempre.
— É ótimo ouvir a senhora tocar nesse assunto — Vamos lá Julie, coragem, haja como uma mulher adulta — Qual a razão para a minha saída dessa equipe, não tenho ombros largos o suficiente? Não trabalho bem em grupo? Sou boa demais pra uma equipe tão mais ou menos?
Tranquila a mulher de coque e cabelos grisalhos estourou uma bolha de chiclete deixando algumas gotículas de saliva tocarem o meu rosto, apertei minha não fechada não querendo constranger a treinadora com uma totalmente necessária atitude de limpar o rosto.
Provavelmente vou precisar de mais que minha mão para limpar isso, talvez muita água sanitária e sabão de coco.
— Você é egoísta, no mundinho perfeito da Julie só existe você mesma, é tanto, eu, eu, eu, que me enlouquece então como treinadora tenho todo o direito de deixar pessoas irritantes longe.
— Me tirou da equipe porque eu irrito você? Colocou os meus planos e sonhos em escanteio pelo simples motivo de não gostar de mim?
Eu queria sentir raiva e me exaltar mostrando pra ela o quanto isso me incomoda, mas o que tem me incomodado mesmo é o cuspe agora bem provavelmente seco em meu rosto.
— Sim, agora vai, você não tem que fazer alguma coisa?
Quis mais uma vez dizer que não sairia dali até que ela mudasse de idéia, mas eu só consegui lhe dar as costas e "seguir com a minha vida".
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Todos Os Sons Do Nosso Andar
Genç KurguCom a intenção de fazer seu novo vizinho diminuir os altos sons de gemidos que balançam a parede que separa seus apartamentos, Julie tem a ideia de gemer mais alto - falsamente- para atrapalhá-lo, mas acaba atiçando a curiosidade do músico. #Tosdnan...