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{Vera}
Passei o domingo na casa de Emma e só a noite fui pra casa, mesmo ela e os pais dela insistindo para que eu ficasse.

Preferi voltar para casa para ver como minha mãe estava, admito que quando ela falou sobre "ir embora" e deixar de dar trabalho para mim, eu fiquei assustada. Eu não sou capaz de odiar ela, ela me bate, me maltrata e abusa de minha boa vontade? Sim, mas é minha mãe, significa que ninguém faz mal à ela, nem ela mesma. Inclusive eu tenho um certo problema protegendo as pessoas que eu amo.... fico um pouco agressiva.

Chego em casa e a vejo no sofá.

- Oi, mãe. - falo colocando as chaves na mesinha ao lado da porta.

Ela não me responde, apenas pega a garrafa de cerveja e dá um gole. Logo que adentro a casa, sinto um cheiro forte. Cigarro.

- Anda fumando, Regina? - pergunto olhando para ela com uma mistura de raiva e surpresa.

- E daí? Eu faço a merda que eu quiser, e você como minha filha, não deveria dar ordens em mim, e sim eu em você. - ela fala alto ainda olhando para a TV.

- Só estou preocupada, essas coisas fazem mal e... - ela me corta levantando e olhando para mim com ódio, o que me fez parar de falar imediatamente.

- Eu disse que sou sua mãe e você é minha filha e eu que mando em você! - ela fala alto apontando o dedo para mim e vindo em minha direção. - Não quero mais você saindo e passando dias fora sem me avisar! Quero você em casa, me ajudando! Você só estuda, não trabalha nem faz faxina, só estuda e joga toda responsabilidade em mim. Eu que tenho que criar você porque o desgraçado do seu pai acha mais atraente a gangue dele do que a própria esposa.... Ainda bem que essa organização só terminou com a morte dele. - ela diz, e depois vai para a cozinha me deixando alguns segundos parada tentando controlar a raiva fluindo no meu sangue.

- Já falei para a senhora não falar de meu pai. Você não tem esse direito. - digo com a voz trêmula indo em direção a ela.

- Ou o quê? Vai sumir por dois dias e voltar como uma princesa achando que a vida é perfeita só porque a trataram bem? Se toca garota! A vida que seu pai proporcionou para a gente só nos dá isso, só isso, não podemos esperar mais, sempre estamos servindo e trabalhando como burros de carga para pessoas com mais dinheiro, com mais dignidade, com mais tempo e com mais droga. Diminua sua expectativa de merda e vai trabalhar, se coloca no lugar de puta que você é, e traz dinheiro para a casa! - ela cospe em minha roupa logo depois de dizer isso.

Meu corpo fica tenso, minhas mãos se fecham em punhos e sinto minhas unhas furando minha pele, meu maxilar doi de tanta força que eu o estou apertando. Meu sangue corre como um rio em chamas e meu coração bate forte, como se estivesse pronto para atacar, atacar quem fosse ou o que fosse, só precisava atacar.

Mas me obrigo a empurrar todo esse ódio para o fundo do poço que ele surgiu e relaxar meu corpo.

- Você está sendo injusta, eu faço tudo aqui por você, não diga que isso é mentira! Você não sobrevive sem mim, mãe. - falo calma e vou em direção ao meu quarto.

- Volta aqui!! - ouço ela gritar mas ignoro.

Entro no meu quarto rapidamente e bato a porta, mas antes de eu conseguir fazer alguma coisa, ouço ela sendo aberta e minha mãe grita de novo.

- Eu falei para você voltar sua vadiazinha de merda!! - ela me pega pelo cabelo e me obriga a olha-la. - Eu estou pouco me fudendo sobre a fantasia que você inventa na sua cabeça! Eu sou quem manda nessa porra, e enquanto eu estiver viva, são as minhas regras a serem seguidas.

Todo o meu ódio volta a se acender enquanto seguro sua mão em meu cabelo, e eu não consigo o colocar de volta no lugar antes de cuspir em suas roupas.

É hoje que eu morro.

- Filha de uma puta. - minha mãe fala num tom baixo antes de deferir um tapa em minha cara me fazendo cambalear para trás.

Antes que eu consiga me recompor, sinto uma joelhada na boca de meu estômago me fazendo cair no chão.

Minha mãe sabe se defender, pois meu pai havia ensinado a ela, o mínimo, mas havia ensinado. Ela estava usando isso contra mim agora. Os ensinamentos de meu pai contra mim mesma.

Deito no chão com as mãos em minha barriga, não tenho tempo de raciocinar até que ouço algo que minha mãe pega e joga em minha direção. Felizmente ou não, ela erra, e o objeto se quebra no baú que fica a frente de minha cama. De todo jeito sou atingida por cacos e cortada em diversas partes do meu corpo.

- PARA! - grito.

- Você não tem futuro sem mim, Vera, eu não te deixarei ir tão cedo. - ela diz quando finalmente ouço passos para fora de meu quarto e a porta batendo.

Tenho vontade de gritar, mas meu estômago doi muito. Meu machucado de antes provavelmente abriu novamente, minha perna esquerda tem um corte longo e um pouco profundo e a minha perna direita tem um roxo por ter batido no mesmo baú antes de cair no chão.

Minha cabeça doi e provavelmente meu nariz sangra por causa do tapa. Meu nariz sempre foi muito sensível, e qualquer coisa, ele sangrava.

Me levanto com esforço, ainda com a mão em minha barriga, procuro meu celular e o vejo no chão perto da mesa. Vou em sua direção e procuro o nome de Emma nos contatos. Ligo uma vez, toca e ninguém atende. Tento uma segunda e uma terceira vez até lembrar que a familia dela e ela foram assistir um filme, que por sinal eu fui convidada a ir.

Penso em mais alguém. Não tenho mais ninguém! Meu pai está morto! A única pessoa que eu quero está morta, a única pessoa que me faz levantar da cama todos os dias não está mais aqui, e sim apodrecendo em uma cova debaixo da terra.

Sinto lágrimas escorrerem por meu rosto mas não me incomodo. Tanta gente na minha lista de contatos, e nenhuma delas parece uma boa para pedir ajuda.

Até que eu chego no fim da lista e vejo um nome. Clico em seu número e coloco o celular na orelha ouvindo as chamadas que são atendidas no terceiro toque.

- Vera?

- Vinnie... - digo sem conseguir controlar minha voz de choro.

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O próximo já está pronto!!

eu posto ou não?

MUAHAHAHA

beijos

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