Visões

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Que eu me sentia confusa, desesperançosa e sem chão com toda essa situação, não era novidade. Afinal, quem não se sentiria assim? Eu percebi que havia algo muito errado com todas as cartas, com tudo o que me contavam e o que eu até então estava passando. Cogitei várias vezes de estar em coma no hospital e tudo isso ser fruto da minha imaginação fértil de jornalista e escritora. Ou então, quem sabe, eu tive um surto, e estou presa na minha própria loucura. Eu não conseguia por nada nesse mundo compreender porque tanto alvoroço por causa de um passado cercado do sobrenatural e misticismo. Sim, eu sei, há um grande tabu ainda sobre o assunto, e veja só, a astrologia hoje é levada como piada e justificativa para comportamentos de pessoas sem caráter.

Mas de uma coisa, minha avó sempre teve razão, eu nunca estive sozinha, e nem nunca estaria, agora mais do que nunca, por toda a eternidade.

Foram semanas difíceis, cogitei voltar a morar com os meus pais para não precisar esbarrar com o Léo, tirei férias por um mês para evitar o Rodrigo, e foquei em mim, na minha vida, e no filho que eu carregava. Passei a ir em um centro espírita, e confesso que encontrei diversas respostas para a minha vida. Entendi finalmente qual era o meu dom, e porque vovó ficou insistindo tanto que era importante eu desenvolvê-lo, tudo iria piorar na minha vida se eu não me abrisse para o óbvio: meu dom da clarividência.

Entendi que sou uma médium, e meu mundo mudou a partir daí. Sabe aquela vozinha que fica no fundo da sua mente, sempre te avisando em alguns momentos que você não deveria fazer algo? Ou então aquele sexto sentido de que tem alguma coisa errada? E até mesmo aquele arrepio na nuca que acontece aleatoriamente, e logo em seguida vem um pensamento de: tal coisa vai acontecer. Era isso, era somente isso.

Alguns espíritos, que ajudam e guiam os médios, sempre me avisaram,  e era sobre isso, o tempo todo foi sobre isso, e era tudo tão simples, só queria mesmo que vovó estivesse aqui, presente, no físico, para poder me ajudar a passar por tudo com mais leveza. As vezes, me sinto observada, uma energia pesada, pessoas sussurrando meu nome, e eu sei que não é ela. Seja quem for, não é do bem, eu sei diferenciar.

Não recebi mais cartas da vovó desde que ganhei a caixinha com o relógio, que tem andado comigo por todos os lados, ainda não descobri muito bem qual é o sentido dele, e tem mais uma dúvida, que talvez eu nunca irei encontrar uma resposta: como que a minha vida e da vovó estão interligadas no tempo?

Depois de um mês de gravidez, começou a ficar difícil de esconder a barriga, e meu sumiço também não ajudou a não levantar suspeitas, decidi encarar meus pais e contar o que estava acontecendo, com certeza essa é a última notícia que eles esperam saber de mim. Liguei para minha mãe, e disse que fiz uma reserva no restaurante que ela e papai gostam de ir as vezes. Imaginei que em público, a reação seria mais controlada.


Já era noite de sábado, fazia calor, coloquei um vestido mais solto, que ajudasse um pouco a disfarçar a barriguinha saliente que começava a apontar. Mas acho que dom algum se compara ao dom de ser mãe, antes mesmo de eu falar, ou sequer deixar transparecer minha barriga, a minha mãe já sabia, ela sabia pelo instinto materno.

- Filha, como você está bonita! Está diferente! O que tem feito? - Perguntou meu pai genuinamente surpreso.

- Ah, acredito que são as férias pai, tenho descansado bastante. - Respondi um pouco sem graça.

Minha mãe me lançou um olhar, meio que curioso, tentando mesmo adivinhar o que tinha de diferente comigo, e antes mesmo de iniciar a conversa, ela me pergunta:

- Olivia, minha filha, está tudo bem? - Pude perceber que havia preocupação genuína em seu olhar. 

- Aah... será que a gente poderia pedir primeiro? Quero contar algumas novidades para vocês. _ Achei que se eles estivessem com a boca cheia seria mais fácil. 

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⏰ Última atualização: Aug 04, 2021 ⏰

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