Coração partido

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Quantas histórias já ouvimos por ai, de diversas pessoas, das mais diversas raças, gostos, e pensamentos, sobre os mais tórridos romances e casos de coração partido. E se formos bem atentos, conseguimos perceber que em todas elas há aquela semelhança boba, onde temos um casal, ou protótipo de casal, e um sempre está profundamente apaixonado, enquanto o outro nem sequer ousou sair da superfície rasa.

O que aconteceu comigo não foi diferente e nem menos ou mais doloroso que qualquer um dos outros casos. Mas com toda a certeza, foi sim, o momento mas sofrido da minha vida, onde me fez reviver memórias horríveis de um passado sombrio que deixei pra trás.

Parece que, não importa o quanto você queira se enganar, e ir contra o sexto sentido, acredite você ou não nisso, mas toda vez que sentir aquele aperto no peito antes de fazer algo, não faça, se ouça, temos uma força incrível dentro de nós, que consegue nos avisar quando algo não deve acontecer. 

Depois daquela conversa com a Bia, que me aliviou em 50% do peso que eu estava carregando, eu senti que poderia voltar a viver sem as minhas paranoias, já que foi a vovó que a mandou aqui. Comecei a observar que, ela andava retraída e pelos cantos, sempre com o celular na mão, e rindo a toa, não quis interferir e perguntar quem era, pois ainda não me sentia confortável em entrar em assuntos pessoais dela e meus.

Na sexta, nós sentamos na varanda e abrimos uma garrafa de vinho, e disparamos a falar da nossa adolescência, de todos os micos e paixonites agudas nunca correspondidas, eu falei muito sobre a vovó, o diário, e sobre a previsão dela comigo e o Léo. Mesmo estando um pouco bêbada, eu pude notar sua hesitação, e sua surpresa, ela ficou muda por alguns minutos, e eu só decidi mudar de assunto, não queria deixar o clima tenso entre nós novamente. Boba de mim.

Fui dormir, exausta, pelo dia cansativo, nem sei direito como caí na cama, o Rodrigo estava viajando a trabalho, e eu estava bem pra baixo. Só me lembro de acordar, assustada com alguns barulhos vindo da sala. Olhei para o colchão que a Bia estava dormindo no chão e ela não estava lá, peguei meu celular no criado mudo do lado da minha cama e olhei a hora, já passava das 2h da manhã. Levantei, muito zonza pela pequena ressaca que o vinho havia me dado, sai andando pelo quarto na ponta dos pés, nessa altura meu coração já palpitava tão rápido que eu jurava que poderia sair pela minha boca a qualquer momento, o aperto no peito voltou, e eu sabia que coisa boa ela não fazia lá na sala.

Hesitei por várias vezes em abrir a porta do meu quarto, fato que, eu nunca fechava a porta pra dormir. Tomei coragem e abri uma greta, havia uma luz muito fraca que iluminava a sala, e vinha da varanda, não me contentei quando ouço alguns gemidos. Depois disso, eu já não tive controle sobre minhas ações, me vi parada no meio da sala, forçando minha vista para enxergar melhor no escuro, esbarrei na mesinha de centro, o que fez os dois pararem, e olharem fixamente pra mim. Eu conhecia aquele olhar, aquele brilho, e meu mundo desabou, senti como se fosse baqueada na cabeça, eu perdi totalmente o ar, senti apenas meu corpo pesado cair sobre o chão. Tudo que aconteceu em seguida não se passou de um borrão.

Já era dia, pelas minhas contas sábado, e uma luz forte entrava através da cortina, o que me incomodou a princípio, e eu fiz uma careta em protesto. Ao redor da cama estavam Bia, Léo e Rodrigo, todos me olhavam atentamente, esperando que eu falasse algo.

- Que dia é hoje? - perguntei confusa, mas focava apenas em Rodrigo.

- É domingo Oli, você nos passou um baita susto. - Ele ajeitou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e me deu um beijo de leve na testa. Eu sorri com o gesto.

- Eu poderia conversar com a Oli a sós por um momento rapazes? - Disse Bia, com olhos de súplica para Léo.

Assim que eles fecharam a porta, eu disparei:

- Nós não temos nada para conversar. Quero apenas que pegue suas coisas e saia daqui, o mais rápido possível.

- Se eu fosse você, iria gostar de me ouvir antes. - Que ousada ela!

- Como você se atreve Bia? Depois de tudo que eu te contei? Eu te dei um voto de confiança e você quebrou, só para variar! Você acha mesmo que eu vou te perdoar depois do que você fez? Achou bonito ficar se esfregando com o Léo? No MEU sofá? Na MINHA casa? Você precisa ter muita cara de pau para querer que eu fique calada ouvindo a sua desculpa sem nexo.

Ela, que até o momento se encontrava sentada na beirada da minha cama, se levantou e foi até a janela, pensativa, não via sarcasmo em sua expressão, apenas um vazio, profundo,  misturado com tristeza e incerteza.

- Olívia, sabe a previsão que me contou? A vovó fez  uma muito parecida pra mim. Não voltei por você, mas sim, pelo o que ela me disse. Encontrei com o Léo no corredor, e conversamos bastante sobre isso, e eu fiquei pensando, por que teria que ser você? Por que não eu? Na sexta, depois que você veio deitar, eu fique bastante pensativa, e eu, bêbada e pega em um impulso, me vi mandando mensagem pro Léo, nada demais aconteceu entre nós.

- Nada demais? Ah me poupe! Como você te... - Ela não me deixou terminar.

- Antes que fale mais, dê uma olhada no seu braço. - Havia um curativo, aparentemente haviam colhido sangue. - O seu desmaio não foi por pura emoção. Ok, também, mas o principal motivo é que você está grávida, parabéns.

Ela saiu do quarto e jogou o resultado dos exames em cima da cama. Eu peguei, toda trêmula. Nesse momento o Rodrigo entra no quarto, olho atentamente em seus olhos buscando uma resposta, querendo que ele diga que é uma brincadeira de mau gosto. Mas tudo o que vejo em seus olhos marejados é uma junção de preocupação, hesitação, mas acima de tudo, amor.

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