Segredos não guardados a sete chaves

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É estranho pensar que vovó tinha premeditado até mesmo o encontro com o Rodrigo, era loucura imaginar que ela tinha esse controle. Eu comecei a ficar com raiva, pois todo o meu futuro já tinha sido planejado por ela, nada que acontecesse seria fruto das minhas ações? Até quando ela ainda teria as rédeas da minha vida? Por mais que em sua última carta ela disse que bem, esse era o momento de caminhar com as minhas próprias pernas, eu não estava acreditando. Eu já estava com a cara fechada antes mesmo do Rodrigo me contar como se conheciam.

- Oli, está tudo bem? Você está fazendo uma cara muito estranha. - Ele fez uma careta.

- Está tudo bem sim, só conta logo. - Ele assentiu.

- Eu estava na livraria aqui perto, tinha acabado de sair da casa da minha mãe, e vi que lá estava em promoção. Eu estava na seção de mistérios quando sua avó esbarrou em mim sem querer. Nos desculpamos e começamos a conversar. Ela é bem atenta não é? Porque de cara já disse que o livro que eu segurava era muito bom, e que ela me recomendava comprar. Agradeci pela opinião e nos despedimos. Não durou nem 15 minutos, foi algo bem casual.

Ah, foi algo bem corriqueiro mesmo, nada supostamente planejado pela minha avó. Eu tinha relacionado esse encontro dos dois com a previsão dela e aquilo que a Bia tinha me falado, que talvez o Léo era pra ser dela. Então, por um momento eu quis sim que eles tivessem uma ligação muito maior, eu ficaria bem mais tranquila, em saber que o Rodrigo era a pessoa certa para mim, e que esse filho que agora eu carregava, era fruto do nosso amor. Mas será?

- Ah, entendi. Coincidência não é? Minha avó era muito observadora sim. - Dei um sorriso tímido.

- Acho que a gente poderia sair para comer algo, o que acha? Uma pizza? Sanduíche?

- Hm, acho que sushi cairia bem melhor agora. - Dei-lhe um beijo no rosto.

Fui ao quarto e troquei de roupa, assim que estávamos saindo, nos esbarramos no Léo e na Nicole, ela nos cumprimenta, com um sorriso sincero, e percebo que não precisamos ser mais inimigas, Léo, pelo contrário, nem sequer nos olha, e passa do nosso lado como se não tivesse ninguém ali. Rodrigo olhou para mim, buscando respostas, mas eu simplesmente desviei o olhar. Fiquei pensando se Nicole sabia, mas aparentemente não, mas também, não cabia  a mim contar à ela.

O trânsito não estava ruim, mas como chovia, demoramos muito para achar uma vaga. Chegando no restaurante, qual não é a minha surpresa ao ver a Bia lá, mas não estava sozinha, Léo estava lá também, e foi difícil ver aquela cena de novo, dessa vez sem mal estar algum, sem vontade de desmaiar, apenas chorar. Pedi licença para o Rodrigo, e fui até o banheiro, para jogar uma água na cara e me recuperar. Respirei fundo, me encarei no espelho, arrumei minha postura, e pensei que, eu precisava sair desse drama, eu tinha 21 anos, estava grávida, e não podia me deixar levar pelas emoções. Ao sair do banheiro, procurei pelos dois e respirei aliviada por não vê-los lá mais. Quando voltei para mesa, o Rodrigo já tinha feito nosso pedido.

- Espero que não se importe, mas pedi um sashimi para você, depois você escolhe o que mais vai querer.

Abri um sorriso largo em agradecimento, era incrível como que em pouco tempo ele me conhecia bem.

Conversa vai e vem, rimos de algumas gafes no escritório, eu desabafo sobre algum perrengue na faculdade, e ele me diz sobre estar preocupado com a sua mãe após a morte do seu pai, que ela não estava muito bem. Eu retorno no assunto de mais cedo sobre a minha avó,  e percebo que ele está hesitando.

- Rodrigo, tem algo que quer me dizer? - Arqueei uma sobrancelha.

- Oli, eu não encontrei com a sua avó apenas aquele dia. - Ele pegou minha mão e continuou. - Eu estava na padaria debaixo do seu prédio, tomando um café com o Léo, quando ela entra, e o cumprimenta. No princípio não a reconheci, mas então ela se aproximou da mesa, cumprimentou o Léo, e me reconheceu. O estranho era que eu estava com o livro que comprei naquele outro dia, acredita?- Ele riu. - Enfim, ela viu o livro e perguntou se eu estava gostando, foi então que o Léo a convidou para se sentar conosco, e ela aceitou. Por fim, não lembro como entramos no assunto de previsão do futuro, e Léo disse o quanto ela era assertiva nas coisas que dizia, que podia ler a mão de alguém e etc. Eu não duvidei, pois como já viu, eu acredito no misticismo. Ela então pegou minha mão, cuidadosamente, com um largo sorriso no rosto, lembra muito o seu até. - Nós rimos.- Ela olhou profundamente no fundo dos meus olhos e disse: "Seu pai mandou lembranças. Ele disse que quer te ver feliz de novo, com alguém do seu lado, e  se me permite dizer, alguém está bem próximo de aparecer, fique atento as mudanças na sua vida.". Oli, tinha apenas 1 meses que pai havia falecido.

O Rodrigo olhou pela janela, segurando o choro, pois vi que seus olhos lacrimejaram. Apertei sua mão para saber que eu estava do seu lado. Não consegui juntar fatos que me ligasse a ele, nenhum sequer. Acabamos de comer e fomos embora, ele me deixou na porta do prédio mas não quis entrar, precisava passar na casa da mãe dele. Entrei em casa feliz, primeiro por não esbarrar com ninguém no corredor,  e segundo, pela minha cumplicidade e do Rodrigo aumentar a cada dia. Passado poucos minutos, alguém bate na porta.

- Nicole? - Para minha surpresa.

- Tudo bem Olívia? Posso entrar para a gente conversar um pouco?

- Ah, mas é claro. - Abri a porta um pouco mais para ela entrar. Nos sentamos no sofá.

- Você está grávida não é? Meus parabéns!

- Obrigada! - Sorri sem graça, percebi que ela também estava sem jeito.

- Bom, você deve estar se perguntando por que estou aqui certo? Eu primeiramente queria agradecer, por tudo que fez por mim, mesmo quando te tratei mal.

- Está tudo bem, sério mesmo. Eu te entendo, olha minha situação agora. - Nós rimos. - Eu que peço desculpas por bem, tentar algo com o Léo, é uma longa história.

- Ah, do que adiantou? Se não foi por você, foi por alguém bem pior.

- Então já sabe? Eu sinto muito. Eles se merecem, no fim de tudo. E como vai fazer agora?

- Bom, eu vou voltar para o meu apartamento e levar minhas coisas, já que bem, nem casar eu vou.

- Vocês estavam noivos? - Minha cara de surpresa foi inevitável.

- Não...mais ou menos. Digamos que achei uma aliança na gaveta dele e estava esperando.

- Nossa Nicole, deve ser horrível passar por isso, qualquer coisa que precisar, eu estou aqui, estou falando sério, pode confiar.

Eu me solidarizei com ela, porque sinceramente, deve ser bem difícil passar uma situação assim, grávida do ex-namorado, esperando ficar noiva, a carreira de modelo e atriz (sim, ela também atuava) seria deixada de lado  por um tempo, e por fim, traída e expulsa. Eu comecei a desconhecer aquele Léo, parece que as aparências realmente enganavam.

- Mas e você e o Rodrigo? Que casal! Demoraram até para ficarem juntos.

- Demoramos? Como assim?

- Há um tempo atrás, ouvi os dois conversando sobre você, acho que o Rodrigo queria saber mais, lembro que o Léo ficou irado, disse que ele podia tirar o olho, que você era boa demais pra ele e etc. Antes de ir embora, ele jurou que ficaria com você, e o Léo duvidou. Cara determinado ele, não acha?

- Espera um pouco, isso foi uma aposta entre eles?

- Não sei se chamaria de aposta...acho que estava mais para competição dos dois. - Ela disse, revirando minha mesinha de centro.

Quis não pensar nisso naquele momento, e me concentrei mais na amizade improvável que ali surgia. Depois de umas horas de conversa, descobri muito sobre ela, que sua mãe biológica a abandonou quando bebê, e sua mãe adotiva era uma anjo, seu irmão mais novo trabalhava na padaria aqui debaixo, e seu pai, era o dono de uma das empresas mais famosas da cidade. Descobri também que ela estava grávida de gêmeos, sim! Pensei que isso poderia acontecer comigo, e não sei se gostaria. Ela estava muito feliz, pois, por sorte, segundo ela, era um casal.

Terminei minha noite de uma forma que eu nunca iria imaginar, com um encontro marcado com a Nicole para ir escolher os móveis para o quarto dos bebês, decepcionada com a pessoa que o Léo se tornava, e com uma dúvida imensa sobre como o Rodrigo me via, ou ainda vê.



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