Runner's Soul - Livro 1

1 - Entre dois lados

  A história tem o passado e o presente, primeiramente é mostrado os personagens em 2019, como tudo começou, para ninguém ficar perdido no livro, isso dura uns 15 capítulos (que são curtos, então não se preocupem). Logo depois existe um pulo temporal para o ano de 2023, a história se torna cada vez mais fluida, os acontecimentos e confusões aumentam, até chegar a hora dos grandes atos principais.

  Para quem veio pelo romance, não se preocupem que vai ter bastante, e cada pedacinho vale a pena, mas terão de ter paciência, pois alguns dos casais são muito slow burn. E como é o início de uma saga, alguns não ficam juntos no primeiro livro. E além dos enemies to lovers, nós temos também friends to lovers e strangers to lovers.
Que todos sejam bem-vindos ao universo de Runner's Soul e dos escorpiões.

|Entre dois lados

"É como se eu estivesse despertando
Todas as regras que eu tinha você
está quebrando
É o risco que eu estou correndo
Eu nunca vou te calar"

Halo - Beyonce

  "Quando não se tem mais nada a perder, sua impulsividade cria ações que atraem consequências, mas se correr mais rápido do que seu inimigo, pode ter a chance de salvar sua alma."

- R.C

Ano de 2019 - Julho

  Maya sentia o vento atravessar o seu rosto, propagando um ruído pelos ouvidos, e fazendo o sangue ferver em suas veias conforme aumentava o ritmo de cada passo. O suor descia por sua testa, fazendo com que os cabelos escuros grudassem na pele branca levemente bronzeada, devido ao constante contato com o sol, demonstrando como estava quente aquela tarde de verão, enquanto corria o mais rápido possível.

  O som alto dos motores podia ser escutado assim que chegou a um muro esburacado, do lado de fora do que aparentemente era uma construção sem continuidade, deixando um terreno baldio com uma pista sem asfalto, a alguns quilômetros do colégio em que metade dos jovens da cidade estudavam. Olhou ao redor, tentando pensar o que fazer para enxergar por cima daquilo que devia ser uma parede não terminada, logo viu alguns caixotes jogados a poucos metros de onde estava, podendo empilhá-los como se fosse uma escada.

  Finalmente conseguiu, e lá estavam todos, uns cinquenta adolescentes, entre quinze e dezoito anos, reunidos atrás de dois carros diferentes. No meio, haviam duas pessoas entregando dinheiro a um garoto mais jovem, enquanto encaravam um ao outro, claramente com personalidades opostas. O mais alto, por poucos centímetros, lançava um olhar de ódio e arrogância à pessoa a sua frente, mantendo uma postura típica de quem se achava o dono do mundo.

  O mais baixo era moreno e possuía uma expressão prepotente, com um sorriso no canto dos lábios, e um olhar que mesmo de longe dava para decifrar seus pensamentos.

"Então vamos apostar para ver!"

  Corridas clandestinas.

  Era isso que estava acontecendo ali, era o que fazia o coração de Maya acelerar a mil por hora, o que fazia seu olhar ir além do tempo, desacelerando por alguns segundos e de repente indo na velocidade de um foguete, permitindo-lhe estar sempre dois passos à frente.

  Ambos entraram em seus automóveis, uma caminhonete Ford F 150 Ranger de 1975 marrom, em bom estado, que pertencia ao jovem moreno, enquanto o outro garoto iria dirigir um Corvette de 2005 vermelho. Aquilo claramente era uma competição movida por orgulho.

  A ansiedade presente em seu corpo, como uma carga elétrica que tentava se libertar, fazia com que prendesse os olhos naquele momento, não piscava e muito menos se movia, completamente atenta a cada som que atiçava as pessoas ali presentes, gritando entusiasmadas. Os carros são sua verdadeira paixão, o que na sua turma, normalmente, não é muito comum entre suas colegas de doze anos.

  Uma garota qualquer se posicionou entre os carros, tirou o lenço que amarrava o seu cabelo, ergueu o braço com ele em sua mão e deu a largada. Eles saíram tão rápido que fez um sorriso aparecer entre os lábios de Maya. Todos se manifestavam, gritavam, batiam palmas, e até mesmo corriam por alguns metros, como se pudessem alcançá-los.

  É impressionante como as coisas proibidas só fazem com que todos fiquem mais entusiasmados.

  E então veio o problema. Havia alguns morros de areia ao lado da pista, posicionados com pequenos espaços entre eles, o suficiente para passar um carro. Foi o que aconteceu.

  Todos estavam tão distraídos e focados na corrida que não perceberam que havia um automóvel atrás de uma daquelas pilhas altas de areia. Era tarde demais quando viram uma caminhonete grande entrar na pista e bater com toda brutalidade no Ford marrom, puderam apenas observar o carro capotar com o garoto moreno dentro.

  A batida havia sido tão intensa que atingiu o tanque de gasolina, e não demorou muito para o carro pegar fogo. As pessoas arregalavam os olhos e não ousavam chegar perto por medo de uma explosão, mas era perceptível uns vinte adolescentes com meios sorrisos observando o Corvette vermelho voltar rapidamente até eles, comemorando a vitória da corrida, enquanto seu concorrente estava em chamas, desmaiado.

  E então se tocaram, aquilo foi uma trapaça planejada.

  Duas meninas choravam desesperadas pelo amigo, por não poderem chegar perto sem se arriscar demais. O garoto que estava com o dinheiro das apostas saiu correndo em direção ao fogo, mas antes de ter qualquer chance seus colegas o pegaram por trás.

  As brigas começaram, dois lados divididos por uma morte planejada, um assassinato de um colega que perdeu a vida por causa de pessoas que se achavam melhores e acima de todos.

  Aquele adolescente havia feito aquilo porque podia, tinha dinheiro e seus pais eram considerados exemplos de vida por toda a cidade, com um estalar de dedos sairia ileso, e o morto seria o culpado pelo próprio acidente.

  Naquele momento, Maya aprendeu que na vida sempre haveria dois lados na história: o mais forte e o mais fraco, e o mais forte não teria piedade de ninguém.

  Mas e se ela pudesse reverter o jogo? Ser o mais esperto dos lados te torna mais forte em segredo, e então, poderia ter uma chance de vencer.