|Ligação destrutiva
"Não é adorável, completamente sozinha?
Coração feito de vidro, minha mente de pedra
Rasgue-me em pedaços, da pele ao osso
Olá, bem-vindo ao lar"Lovely – Billie Eilish (feat.Khalid)
— Eu atendo. — Alan desencostou da parede, dando apenas poucos passos até o telefone. — Alô.
— Boa tarde. Gostaria de falar com o Sr. Alan Ross!
— Sou eu. — respondeu, levantando seu olhar para Maya, depois se virou de costas para a bancada, para que ela não pudesse ver a expressão de seu rosto.
— Quem é? É do hospital, Alan? — perguntou apreensiva.
Sem resposta.
Um clima estranho pairava no ar, não costumava se afastar ao atender o telefone fixo. Não dela, pelo menos.— Ok, obrigado. — desligou a ligação, em um tom de voz falho e amargurado.
Colocou o telefone no gancho novamente, e se virou, procurando pensar na melhor forma de dar a notícia, como se existisse palavras que tornassem aquilo mais fácil.— A mamãe teve uma hemorragia cerebral no fim dessa madrugada, os médicos disseram que não havia muito o que fazer. Tentaram se comunicar com a gente, para que fôssemos nos despedir dela, mas ninguém atendeu... ela morreu faz algumas horas, Maya... — seus olhos se desviavam, em uma tentativa falha de não demonstrar os próprios sentimentos.
Maya não conseguia dizer uma palavra, com os lábios trêmulos e os olhos se enchendo de lágrimas, o rosto ficando avermelhado enquanto observava seu irmão.
Suas esperanças acabaram de ser completamente massacradas pela vida, como se um choque de realidade atravessasse seu corpo mais uma vez.
Não conseguia falar, nem ao menos se mexer. Já havia lidado com isso antes, nada conseguia fazer sua mente se livrar das lembranças da noite em que foi confirmado o desaparecimento do seu pai pela polícia. Além de tudo, olhar para Alan naquele dia e ver ele fingindo perfeitamente não se esconder dos policiais, mantendo-se calmo, como se nunca estivesse envolvido com o tráfico, não demonstrou medo ou qualquer receio, nem se quer desconfiaram do garoto. Até parecia que já havia feito isso milhões de vezes.
Alan estava com os olhos avermelhados, mas contendo qualquer lágrima que ousasse cair, apenas esperando a reação dela. Esperando que fosse gritar com ele, culpá-lo talvez por sempre estar fora, ou começasse a quebrar o que visse a sua volta.
Ele não era o culpado por nada disso, mas sentia como se fosse.
Maya por sua vez não fez o que se esperava, apenas andou até seu irmão, envolvendo seus braços ao redor da cintura dele, o abraçando o mais forte que conseguia naquele momento.
Era jovem demais para passar por tudo isso, o que só fazia com que pensasse que ser forte não era mais uma opção, e sim necessário. A fraqueza era seu verdadeiro perigo.
Mesmo que seu peito estivesse dilacerado.
Ele se abaixou, apoiando seus joelhos no chão, para que ela pudesse encostar a cabeça em seu ombro.
— Tá tudo bem Maya, eu vou cuidar de você, nem que seja a única coisa boa que eu faça na minha vida, eu prometo! — sussurrou ao ouvido dela.— Não Alan, não tá tudo bem. — disse em um tom abafado, afundando o rosto na jaqueta preta.
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Runner's Soul - Livro 1
ActionSão poucas as pessoas que conquistaram a confiança de Maya Ross, e seu irmão é uma delas. Mas quando um tumor cerebral leva sua mãe a morte e Alan Ross mata o próprio padrasto em uma briga, não querendo voltar para a cadeia, os dois tem que sair de...