4 - Morte e consequencia

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|Morte e consequência

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|Morte e consequência

"Nós sempre entramos nisso cegamente
Eu precisei te perder para me encontrar
Esta dança estava me matando suavemente
Eu precisei te odiar para me amar, sim"

Lose You To Love Me – Selena Gomez

— Ei, o que aconteceu? Merda, vocês não servem nem pra me ajudar a levantar. — Clark se apoiou na lateral do sofá, e andou até Maya e Alan, que permaneciam abraçados. — Vão ficar na frente do caminho também? Essa família só me dá trabalho.

— Ah relaxa, agora você tem menos uma pra se preocupar, não era isso que tanto queria? Que ela morresse? — Maya soltou com rispidez.

— De quem você tá falando menina? — questionou, observando Alan se levantar, enquanto ela limpava as lágrimas que insistiam em cair sobre sua pele.

Clark não sabia sobre o falecimento de Alyce, já que desmaiou e acordou com o som de choro, sentindo uma breve tontura que só piorava seu humor.

— Da minha mãe, a sua esposa. Quem mais seria? Sabia que ela morreu faz algumas horas? Onde você estava, Clark? Era para ter atendido o telefone, me buscado no colégio ou pelo menos mandado uma mensagem, eu teria pulado o muro e ido embora. Mas não, estava naquele bar, como sempre! — fixou um olhar furioso sobre Clark, junto a um traço de decepção que insistia em aparecer.

A única coisa que ela esperava dele era que fizesse o mínimo, não como padrasto ou namorado de sua mãe, mas como ser humano, e nem isso recebeu.
Clark era o tipo de pessoa que chega na sua vida como um príncipe, querendo saber o que você gosta e o que odeia, para se passar pelo "cara perfeito".
Os primeiros seis meses de namoro com Alyce foram definitivamente fáceis. Sem brigas, ou conflitos. Aparentavam ser um casal tipicamente comum, e haviam se conhecido em uma noite qualquer dentro de uma boate.
Maya desconfiava dele até o último fio de cabelo, mas não costumava confiar nas pessoas desde o sumiço de Park Ross, seu pai. E para complementar, ter descoberto os segredos de seu irmão aos dez anos só contribuía para seu alto nível de desconfiança sobre tudo e todos. Esse comportamento dela se tornou constante, o que fez sua mãe pensar que era um traço de sua personalidade, e por isso não devia se preocupar com a opinião de um criança teimosa.
Já Alan era o mais apegado a Park, e odiava com todas as forças qualquer hipótese de um homem mais velho entrar em sua casa daquela maneira, como se quisesse tomar o lugar de seu pai. Mas não foi por isso que Alyce não se preocupou sobre o que ele achava de seu novo namorado, e sim porque todos os dias Alan desaparecia, e quando chegava em casa só se preocupava com Maya. No começo, fazia milhares de perguntas sobre onde ele estava indo, mas isso só acarretou em brigas, as quais ela odiava, pelo simples fato dele ter todas as características de Park em uma discussão. Era como uma memória antiga voltando a realidade. Para amenizar a situação, ele começou a mentir sobre estar saindo com uma garota e ter arrumado emprego em uma velha lanchonete.
A velha lanchonete existia, mas era só de fachada para o tráfico de drogas, usada como uma espécie de lavagem de dinheiro.
Era quase impossível desconfiar dele, tinha uma habilidade absurda para mentir.
Clark sempre foi um perito para enganar Alyce, mas não os seus filhos. Maya e Alan definitivamente compartilhavam a personalidade do pai: uma mistura de sarcasmo, perspicácia e muita impulsividade.

— Como é? A Alyce o quê? — por um segundo, o estado de choque tomou conta de sua face, as rugas de seu rosto se envolveram numa expressão confusa. — Aquela vagabunda me deixou, e agora eu tenho que ficar com vocês?

— Você chamou minha mãe do quê? — o som da voz de Alan se destacou como o som de um copo de vidro se quebrando ao silêncio. E seu corpo se aproximando de seu padrasto rapidamente.

— De vagabunda! — repetiu.

Sem hesitar, Alan cerrou os punhos e lhe acertou diretamente no nariz, fazendo-o sangrar na mesma hora.
Olhando de fora não parecia uma luta justa, o garoto treinava e sabia criar um padrão de golpes sobre seu oponente a cada movimento, enquanto Clark não chegava nem perto.
Mas isso depende do que cada um considera justiça.
Aquele homem já havia gritado com Maya e Alyce diversas vezes, já ameaçara bater na própria esposa, e sabe se lá o que já não aconteceu nos dias em que Alan e sua irmã estavam fora, deixando sua mãe sozinha com o marido. Nunca parecia ter chegado a ocorrer uma violência física oficialmente, mas o abuso no relacionamento estava na constante violência psicológica.
E Alan não fazia o tipo que sentia qualquer piedade de homens assim. Não se importava se em algum momento da vida alguém iria lhe apontar o dedo em julgamento, fazia o que tinha de ser feito de acordo com sua convicção.
Por isso, ele não parou no primeiro golpe, derrubou seu padrasto no chão e o acertou várias vezes seguidas, deixando seu rosto todo ensanguentado.
Mas Clark parecia estar bem mais consciente do que os irmãos pensavam, pois criou forças para se levantar e empurrar Alan contra a parede.
Apesar de virar noites sentado em um bar, o homem era forte e alto, quase da mesma altura de seu enteado, o que poderia lhe dar uma mísera possibilidade de reagir a um nível parecido.
Maya não sabia o que fazer, observava os dois brigarem pedindo para que parassem, até ter a ideia de pegar algo que chamasse a atenção.

— Pensa Maya, pensa. — repetia para si mesma, olhando para os armários, tentando abrir todos o mais rápido que podia. — Aqui! — agarrou uma garrafa de vidro.

Ao mesmo tempo que seu irmão desviou o rosto do golpe de Clark, fazendo com que o punho dele acertasse a parede, ela correu com a garrafa na mão e bateu a parte inferior no balcão. Pensou que o som do vidro se quebrando chamaria a atenção dos dois, mas eles não pararam nem por um segundo.
Alan estava apenas desviando, para que Clark se cansasse com o tempo, era uma tática que sempre usava nas lutas clandestinas. Provocar, e logo deixar o oponente iniciar uma sequência de golpes seguida de outra, até que estivesse cansado demais para continuar com o mesmo ritmo.
E funcionou.
O garoto aproveitou a oportunidade para concentrar o máximo de força no peito de Clark, levantando-o enquanto empurrava seu corpo até a parede do outro lado da sala.
Só que na hora da raiva temos costume de olhar apenas para o que queremos, agimos com impulsividade e esquecemos de observar ao redor.
Quando Alan fez com que o padrasto atingisse a parede, não se tocou que ali havia um prego, o qual ia ser usado para pendurar um porta-retrato. Um ponto sensível entre a cabeça e o pescoço foi atingido brutalmente, de forma que mesmo o parafuso não estando do lado pontiagudo, perfurou profundamente aquele local no corpo de Clark.
O homem arregalou os olhos e soltou um gemido de dor, em seguida seu corpo caiu sobre o chão, enquanto o sangue começava a escorrer e se espalhar ao redor da cabeça.

— Alan, o que você fez? — Maya indagou em um tom assustado, o som da voz saindo trêmula enquanto alternava o olhar entre seu irmão parado à frente de seu padrasto – morto aparentemente – e o prego na parede. — Você matou ele!

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