Eu não acredito no que estou fazendo.
Voltei, é... voltei.
Sempre voltei para casa, ansiava para voltar, não gostava de sair, não gostava de ficar longe e agora eu estava lá, de pé, e não queria entrar, queria ir embora.Levitã estava ao meu lado, a gente tinha viajado durante muito tempo, então não podia desistir, eu não podia simplesmente dizer não consigo e voltar, eu tinha que dar um passo para frente e depois outro e depois o outro, até chegar na porta, precisava bater e esperar que abrissem, não podia fazer isso com Levitã, repeti o caminho inteiro que iria conseguir que não falharia, e agora que eu estou aqui na frente da casa, a minha mente repete que "eu não vou conseguir, eu vou falhar!"
Estava prestes a sair correndo dali quando senti um peso sobre o meu ombro, era Levitã, ele colocou sua mão sobre o meu ombro e olhou para mim e transmitiu no olhar, confiança.
- Não dá.- Eu choraminguei.
- O Vurex disse que você não era obrigada, mas eu acho que deveria falar com eles
- Eu estou com medo!- Admitir aquilo doeu, feriu meu orgulho.
- Eu mato qualquer um se quiser.
Hesitantemente bati e esperei, os segundos pareciam horas, o tempo parecia não passar, eu estava aflita, com coração acelerado com a impressão de que tudo daria errado. Então a porta se abriu, revelando Elynna, ela pronunciou meu nome confusa, não com raiva como da primeira vez, mas confusa.
- O que você está fazendo aqui?- Ela me perguntou e eu me perguntava a mesma coisa: Eu devia ir embora, o que eu estava fazendo ali? Será que eu quero mesmo descobrir quem sou?
- Eu preciso conversar, preciso saber a verdade, como me encontraram?- Eu tinha atravessado as barreiras do meu orgulho, da minha raiva, para voltar a falar com ela, eu precisava ficar calma, por mais que aquelas palavras não soassem como palavras calmas, eu tentei me controlar ao máximo.
Fui convidada a entrar, e era estranho, aquela casa tão familiar e ao mesmo tempo tão distante, me deixava com vontade de vomitar. Estava de noite, quase na hora do jantar, meu pai estava na cozinha preparando o jantar, fomos convidados a nos sentarmos na mesa para comer, eu aceitei Levitã também aceitou, eu esperei que a comida chegasse primeiro para depois abrir uma conversa, foi difícil formular as palavras em minha cabeça, as palavras certas, eu não podia surtar como costumava fazer quando estava com raiva, eu tinha que me controlar, tinha que ser calma e paciente, eu tinha que estar aberta a escutar, por mais que fosse difícil, por mais que doesse.
- Por favor, me contem a verdade!- Eu supliquei.
- Eu pensei que nós poderíamos esconder isso de você, mas estou vendo que você não pode fugir do seu futuro!- Meu pai tomou a fala.- Você não é filha de Lazúlis, achamos você na floresta.
- Prossiga!- Ordenei, ele tinha parado de falar, encarava o seu prato envergonhado, e Elynna também fazia a mesma coisa, nenhum dos dois tinha a coragem de olhar para mim, e mesmo continuando a falar, meu pai não levantou os olhos.
- Eu tinha tentado caçar, estava com Jogy. No meio do caminho escutei um choro, você chorava alto, achei você perto de uma árvore, uma menina com marcas que não existia, eu não podia deixar você morrer na floresta, então trouxe você para minha casa, mas aquele homem nos viu!- Eu sabia de que homem ele estava falando, era aquele velho asqueroso que Elynna agradava, que nos sustentava, Roger, odeio lembrar o nome dele.- Ele viu as suas marcas e disse que te levaria para as autoridades, e eu sabia que se isso acontecesse eu nunca mais veria você... Seria cobaia de experimentos e eles iriam tentar saber o que significava as suas marcas, e você era só uma criança! Só um bebê frágil... Eu não podia deixar você, então eu e ele fizemos um acordo, ele deixaria a gente viver e nos sustentaria, mas Elynna e você seriam as prostitutas dele, eu contava com a possibilidade de você crescer muito feia, tão feia que ele não iria te querer mais, mas você cresceu linda, uma linda menina misteriosa de cabelos brancos... Eu me sinto envergonhado, lhe vendi!

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Sem Classe
FantasyExiste um mundo dividido por Classes, e se você nasce com uma Classe ruim é impossível mudar essa realidade, você está preso em sua Classe até morrer, e seus filhos também estão condenados ao mesmo destino que o seu, quase sempre. Depois que...