Tenho passado os dias em uma tranquilidade inusitada. Kai não apareceu em minha casa, e nossos caminhos não se cruzaram mais. Esse estado de paz, embora reconfortante, também é inquietante. Ele não me engana. Kai voltará; ele deixou isso claro.
Hoje, durante a última aula do dia, a professora Hong não compareceu para aplicar a prova. O mesmo professor que a substituiu ontem estava lá novamente, o que significava que eu não poderia pedir para sair cedo sem levantar suspeitas.
No entanto, algo me impulsionou a sair da sala antes do fim. Quando me dei conta, já estava no estacionamento, disposto a pedir uma carona para Jungkook. Eu acreditava que ele não negaria, conhecendo a minha situação. E mesmo que recusasse, eu compreenderia; afinal, essa não era uma obrigação dele.
Mas a coragem que senti ao decidir pedir a carona se dissipou ao ouvir sua voz. Jungkook sorria, como sempre, e aquele sorriso despertava em mim uma inexplicável vontade de sorrir também. Quando ele me perguntou o que eu fazia ali, as palavras falharam em sair. E então, inesperadamente, ele me ofereceu o que eu estava prestes a pedir, algo que eu não havia planejado.
O pavor que normalmente me acompanhava desapareceu naquele instante, e mesmo que eu hesitasse, Jungkook insistiu. Seguimos pela estrada, conversando de maneira casual.
Quando ele pediu que eu pegasse sua mochila e retirasse o livro que estava ali, senti meu coração parar. Tanto pela surpresa de ter o livro em minhas mãos, quanto pela atitude de Jungkook. Ele havia conseguido aquele livro para mim, e agora estava ali, em minhas mãos, novinho, uma edição original. Ele explicou que conseguiu através de um colega, e mais uma vez, senti uma profunda gratidão por ele. A dívida que sinto ter com Jungkook parece só aumentar, e o medo de não conseguir retribuir à altura me atormenta.
O telefone de Jungkook tocou; era sua irmã. Eles conversaram de maneira descontraída, mostrando uma relação de afeto que me deixou um tanto melancólico. Eu nunca tive irmãos. Após a minha mãe engravidar de mim e sofrer de depressão pós-parto, nunca mais cogitou ter outro filho. Acredito que o trauma dela, originado pela experiência comigo, a fez desistir da ideia. Nunca me perdoarei por isso. Durante anos, fui uma fonte constante de angústia para ela, e ainda sou. Se não fosse por meu pai, não sei o que seria de mim hoje.
Sugeri a Jungkook que buscasse logo sua irmã, e que, se ela estivesse com pressa, eu desceria ali mesmo e caminharia para casa, apesar do medo que isso me causava. A última coisa que queria era ser um incômodo.
A irmã de Jungkook, que mais tarde descobri se chamar Chaeryeong, era uma jovem extrovertida, algo que ficou evidente em sua energia e afobação. Quando mencionei que poderia ir sozinho para não incomodar, ela me tranquilizou, dizendo que tinha bastante tempo e que apenas gostava de implicar com o irmão. Gostei imediatamente de sua energia; ela parecia compartilhar da mesma vitalidade de Jungkook. Chaeryeong era o tipo de pessoa que estabelecia intimidade com facilidade. Pensando bem, com seu irmão, também foi assim.
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EU QUERO SER PARA VOCÊ • jikook
RomansaJimin sempre se viu como alguém fora do lugar, uma alma desajustada. Por conta disso, e de tantas outras feridas invisíveis que o fizeram acreditar ser incapaz de viver como os demais, ele ergueu muros ao redor de si mesmo. Entregou-se à rotina do q...