Stars - Ziam

27.

Hoje Liam foi me buscar no hospital depois da minha sessão, a última sessão marcada antes do início do novo método de tratamento. Eu poderia estar desesperado ou em pânico, mas hoje eu estou tranquilo.

Tenho dias e dias, às vezes penso que nada pode dar certo e tenho vontade de me esconder em um lugar tão longe que nada de ruim ou bom me encontre, mas tem dias - como hoje - em que eu penso que vai passar, eu já superei a perda das duas pessoas mais importantes que tinha, eu posso superar essa fase. Todos a minha volta acreditam nisso, eu posso tentar me esforçar para acreditar com eles também.

- Hoje eu preciso deixar essa casa em ordem se não a minha mãe me esgana - Liam comenta assim que chegamos e joga sua mochila no sofá.

- Não acho que a dona Karen tem coragem de esganar alguém. - Me sento no degrau da escada esperando um pouco da tontura leve passar.

- Vai pensando, eu já testei muito a paciência dela quando pequeno, ela só não me esganava graças aos milagres da santa Xuxa defensora das crianças.

Eu rio imaginando Liam pedindo piedade para sua mãe através dessa santa que ele inventou.

- O que você tanto fazia para tirar ela do sério? - Pergunto, e a partir daí Liam me conta diversas histórias sobre todas as vezes em que aprontou coisas - que até me fazem ficar surpreso com o poder da santa Xuxa que não permitiu a paciência da Karen acabasse.

Ele fica por horas me contando todas as histórias, enquanto nós dois arrumamos os cômodos da casa. Eu fico com a parte mais fácil e mesmo assim sinto que fico cansado mais rápido do que deveria. Então, um pouco antes de acabar me sento no sofá segurando o cabo da vassoura e observando Liam colocar as almofadas no lugar.

Assim que ele termina, se joga ao meu lado do sofá se estirando e deixando sua cabeça apoiada em meu ombro.

- Acho que hoje ninguém vai ser esganado - Comento vendo a casa enfim arrumada.

- Fizemos um bom trabalho, né? - Ele diz satisfeito e eu assinto com a cabeça o fitando. Liam me olha de volta e vejo seus olhos brilharem ao me olhar de volta - Será que eu posso ganhar uma recompensa?

E sem esperar por mais e sabendo exatamente o que ele quer, eu diminuo a distância entre nós e o beijo.

Aquela minha teoria de que Liam é algum entorpecente que vicia se confirma cada dia mais. Nós sempre nos beijamos e eu nunca me canso, na verdade, eu sempre desejo por mais.

Sentir as mãos dele passeando pelo meu corpo me dá a sensação de que nada de ruim pode me acontecer, já que o melhor da minha vida está me segurando entre os dedos.

O barulho da porta abrindo faz com que a gente se separe, mas o que nos assusta mesmo é a figura da pessoa que aparece na porta: Geoff Payne. Nada mais, nada menos do que o pai do Liam que foi embora a meses sem ao menos se despedir.

- Que palhaçada é essa aqui? - Geoff se aproxima com cara de que não gostou do que viu. Liam se levanta e logo é repreendido pelo pai - Senta aí, tá pensando que vai aonde?

- Desculpa - Liam se senta novamente logo depois de se desculpar tão baixo que nem ao menos tenho certeza de que o pai pode ouvi-lo.

Diferente de Liam, eu o encaro e vejo que a conversa - ou bronca - será longa, e pelo jeito que ele está falando, não vai pegar nada leve com as palavras.

- Você me apresentou esse aí, como um amigo, que homem é você que beija seus amigos?

"Um homem que gosta de outros homens" penso, já que não acho que seja um bom momento para externar nada.