— Fique à vontade, estarei na minha sala caso precise de algo. Trarei notícias da criança assim que eu as tiver. Passar bem.
Foi a última coisa que eu ouvi o mais velho pronunciar antes de sorrir pequeno e fechar a porta branca, me deixando sozinho dentro daquele quarto de hospital. Pressionei os lábios um no outro, formando uma linha. Não tive coragem de olhar para a cama, onde estava meu namorado. Tentando adiar o inadiável, observei o quarto onde eu estava.
Era o típico quarto de hospital. Paredes brancas, cortinas brancas nas janelas que não eram tão grandes, boa iluminação, um banheiro, uma televisão mediana na frente da cama do paciente, um sofázinho encostado na parede, ao lado da cama e, por fim, a cama com o paciente.
Em decorrência do meu nervosismo, também não tive a coragem de olhar imediatamente em seus olhos, então concentrei meu olhar em suas pernas cobertas. Meu olhar foi subindo até chegar num ponto onde o lençol não lhe cobria mais, seu abdômen. Pelo tecido que estava à mostra, o outro deveria estar vestindo uma daquelas típicas roupas de hospital.
Tão clichê.
Aos poucos, fui subindo meu olhar. Avistei seu peitoral coberto, seu pescoço à mostra, seu queixo e, finalmente, seu rosto. Não conseguia ver direito de longe, então me aproximei da cama. Andei até a lateral esquerda da cama e o observei mais de perto. Eu só consegui ficar... Encantado.
Mesmo com aqueles diversos cortes, arranhões, curativos e com aquele aparelho de respirar no nariz dele, consegui enxerga-lo perfeitamente.
Levei minha mão canhota até os seus cabelos castanhos e ali fiz um afago, notei serem macios e sedosos, assim como imaginei. Desci meu polegar até suas pálpebras que estavam fechadas, escondendo a janela de sua alma, seus olhos, que deveriam ser lindos.
E foi ali, naquele momento, que desejei que o castanho acordasse o mais rápido possível, para que eu pudesse ver seus olhos.
Desci meu polegar por sua bochecha e notei, além de que sua pele era macia — igual bumbum de neném — e bem cuidada, havia um sinal solitário na pontinha de seu nariz. Desci mais o meu polegar, passando por cima do cano de ar que ia até seu nariz, até chegar em seus lábios.
Rosadinhos e cheinhos.
Deslizei meu polegar sobre toda a extensão de seus lábios e senti o quão eram macios. Desloquei novamente minha mão para os seus cabelos e ali a deixei, passando a admirar seu rosto por completo, mais uma vez. Eu jamais havia visto nenhuma pessoa com tamanha beleza igual a dele.
Olhei para baixo e vi sua mão direita com algumas agulhas presas em seu pulso e um negócio — que não sei ao certo o que era — encaixado no seu dedo indicador. Toquei em sua mão com a minha destra e ali apertei a região, tentando mostrar que eu estava ali com ele, mesmo que ele não pudesse sentir.
Mas só aquele pequeno gesto, aquele pequeno toque de mãos, fez meu coração se aquecer.
No entanto, me assustei quando vi a porta do quarto ser aberta e um homem desconhecido entrar no local. O homem tinha cara de poucos amigos e um nariz empinado. Por isso, imediatamente assumi uma posição ereta e mais alerta.
— Bom dia, senhor. Me chamo Park Bogum e sou o neurocirurgião responsável pelo caso deste paciente — assenti e fiz uma reverência em respeito, ainda segurando a mão do castanho — E você? Quem é e o que faz aqui?
— Sou o namorado dele e vim visitá-lo, algum problema? — tentei disfarçar a ironia em minha voz e sorri fraquinho.
O moreno alto em minha frente arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços.
— Namorado dele? Tem certeza? — pode ter sido impressão minha, mas notei um tom deboche em sua voz.
— Tenho sim. Se não acredita, faça o seu trabalho e leia a ficha do paciente, verá meu nome lá como seu namorado e contato de emergência — não sei porque eu estava agindo daquela forma, mas eu não havia ido com a cara daquele homem.
O Dr. Park sorriu de lado e assentiu, dando de ombros.
— Já que faz tanta questão... — pegou uns papéis que estavam numa espécie de mesinha em frente a cama e começou a ler em voz alta — "O paciente Kim Taehyung tem 22 anos, sexo masculino..." Blá, blá, blá... — franziu o cenho enquanto lia — "Não possui parentesco com ninguém além de seu namorado, Jeon Jeongguk, e com seu melhor amigo, Park Jimin" Nossa, que interessante.
— Pois bem, agora que já sabe quem eu sou, me diga o que você veio fazer aqui.
— Estou fazendo o meu trabalho, assim como o senhor me pediu — largou os papéis e se aproximou do castanho com um sorriso cínico no rosto — Vim checar se a cirurgia na coluna não lhe deixou nenhuma sequela. Posso fazer isso?
— À vontade — soltei sua mão, me afastei da cama e sentei na poltrona ali do lado, observando o outro trabalhar.
Eu só conseguia pensar em como o outro era repugnante e em como eu não havia gostado dele. O observei abrir os olhos do meu namorado — muito esquisito falar isso, por sinal — e analisá-los com uma espécie de lanterninha e só consegui pensar em como queria que ele terminasse logo com aquilo para que eu não precisasse mais olhar em sua cara.
É, parece que terei problemas com o neurocirurgião. Mas que culpa tenho se ele me pareceu ser tão... Detestável?
— Aparentemente, tudo certo — falou assim que terminou tudo, colocando suas mãos dentro dos bolsos do jaleco — Sinais vitais estáveis, pupilas normais, ritmo cardíaco dentro do normal... Só resta esperar que ele acorde agora.
— Ele deve demorar muito para despertar? — me aproximei novamente da cama.
— Na verdade não. A qualquer momento, nos próximos trinta minutos, ele deve estar acordando — assenti — Eu até poderia ficar aqui para esperar ele acordar, para te fazer companhia. Sei que nos daríamos muito bem.
Meu estômago embrulhou só de pensar na possibilidade.
— Sei que sim, mas não faço questão. Estou bem aqui sozinho com ele — sorri amarelo, sendo respondido da mesma forma.
— Bem, então, vou indo. Se ele acordar, me chame imediatamente — assenti.
Logo após o médico ter atravessado a porta e a fechado, soltei um suspiro de alívio que nem notei que estava segurando. Mas, de fato, sua presença já estava me dando nos nervos.
Tirei o outro de minha mente e foquei meus olhos novamente no rosto do garoto deitado naquela cama. Eu realmente passei a me considerar um garoto de sorte por namorar um menino tão belo quanto aquele. Suspirei e me afastei, sentando novamente naquela poltrona desconfortável de hospital.
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Unexpected Call | taekook
FanfictionJeon Jeongguk era um desmemoriado que não tinha ninguém nessa vida. Desde que acordou sem se lembrar de nada, todos os que poderiam fazer parte de sua família, aparentemente o abandonaram no hospital sem nem ao menos olhar em seus olhos uma última v...