Fifteen

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Ansioso. Era assim que eu me encontrava nesse momento. 

Já haviam se passado algumas semanas desde que o acidente havia acontecido e algumas coisas já haviam mudado. O quadro de Taehyung já estava ótimo, praticamente pronto para receber alta. Só não a recebeu porque tudo dependia agora de Yeonjun. O garotinho respondia bem aos medicamentos, mas custou muito trabalho dos médicos para fazer com que ele parasse de depender dos aparelhos para respirar. 

E, por agora ele conseguir respirar sozinho, suspenderam a medicação que o mantinha dormindo. Ou seja, ainda hoje o garotinho acordaria. 

Taehyung estava uma pilha de nervos e eu não estava muito diferente. A diferença é que, enquanto eu ficava sentado no sofá confortável do quarto infantil que o hospital ofereceu a Yeonjun, o castanho ficava sentado na cama, segurando a mão do filho, esperando que ele abrisse os olhos de uma vez. Eu o olhava e sentia um aperto no coração por ver seu rosto tão bonito estar contorcido em preocupação. 

Durante esses dias que convivemos aqui no hospital, desde que fizemos aquele acordo, nunca mais tocamos naquele assunto. Eu concordei em esperar o pequeno Yeonjun se recuperar completamente para ter as minhas respostas, então eu cumpriria com o que foi acordado. Mas confesso que pensar que o momento de saber de tudo está cada vez mais próximo me deixa com os nervos à flor da pele. 

Estudo a silhueta de Taehyung, sentado na cama e de perfil para mim. Seu rosto não possuía mais arranhões nem sinais do acidente, mas estava visivelmente acabado, não esperava menos, afinal seu filho estava numa espécie de coma induzido durante inúmeros dias. Sua beleza, no entanto, não deixava de estar presente. E essa foi uma coisa que percebi durante esses dias.

A cada segundo que se passava eu me encantava mais ainda com cada mínimo detalhe de Kim Taehyung.

O olhando assim, tão de perto, porém tão longe, me trazia uma sensação gostosa que me parecia familiar, mesmo que eu não lembrasse de tê-la sentido antes. As vezes eu tinha a estranha sensação de que, mesmo que eu não lembrasse de nada de antes do meu acidente, o meu corpo lembrava. 

E foi pensando nisso que, quase como se estivesse ligado no piloto automático, me levantei e caminhei calmamente em direção a cama onde os dois estavam. Parei atrás de Taehyung, pousando minhas mãos em seus ombros largos, sentindo na mesma hora seu corpo tensionar. Sorrio de lado, massageando de leve a região. 

— Como se sente? — escutei seu suspiro e continuei com a massagem. 

— Ansioso, nervoso, animado — riu baixinho — Não sei, só sei que não vejo a hora de escutar a voz doce do meu menino outra vez.

Me inclinei para a frente, beijando o topo de sua cabeça.

— E você vai, logo, logo. Eu prometo.

 Me afastei um pouco, vendo o castanho erguer a cabeça, a inclinando para poder me olhar de baixo. Ele sorriu, olhando no fundo dos meus olhos. De repente pareceu como se estivéssemos num mundinho só nosso, não estavamos mais no hospital e não havia mais aquele barulho irritante da máquina que contava os batimentos cardíacos de Yeonjun. Não. Eu só conseguia focar naqueles olhos, naquele mel profundo que guardava uma imensidão de sentimentos que foram guardados numa gavetinha qualquer.

Mal percebi quando comecei a me inclinar mais, aproximando nossos rostos. Seu olhar desviou e caiu sobre meus lábios, imediatamente olhei para os seus. Tão vermelhos e convidativos que me vi desesperado para provar de seu sabor.

Eu queria beijar Kim Taehyung.

— Papai?

Dei um sobressalto ao escutar uma voz baixinha e melodiosa nos acordar do nosso transe. Me afastei minimamente, vendo Taehyung olhar para frente. Dois pares de olhos pretinhos feito jabuticabas nos encaravam, curiosos.

— Oi meu amor, o papai está aqui.

Taehyung sorriu, dizendo com a voz embargada. Sorri na mesma hora, vendo o garotinho encarar Taehyung e abrir um enorme e retangular sorriso quadrado, assim como o do pai. Esticou seus bracinhos e se agarrou no pescoço do castanho, o abraçando com força e sendo retribuído na mesma intensidade. 

— Yeon eu fiquei tão preocupado com você, garoto — desfez o abraço, segurando o rostinho do mais novo com as duas mãos — Perdoa o papai por ter te machucado? Perdoa, por favor.

Meu coração se apertou, não sabendo ao certo porque eu estava me sentindo tão mal e culpado por ver o quão quebrado o Kim estava. As lágrimas escorriam sem parar, mostrando o quão abalado estava. Eu, por alguma razão, só queria abraça-lo e cuidar dele com todo o carinho do mundo. 

— Não preciso te perdoar, não foi sua culpa, papai. Foi culpa daquele moço mal que acertou a gente. Papai é bom demais para machucar de propósito o Jun — sorriu abertamente, se referindo a si mesmo na terceira pessoa. 

Quase me desfiz ali mesmo, morto com tanta fofura. 

Acho que fiz algum barulho alto demais, porque no mesmo instante os pequenos olhinhos do garotinho caíram sobre si e se arregalaram. 

— Papai Gguk! — esticou os bracinhos na minha direção — Papai Gguk, vem aqui!

Arregalei os olhos e fiquei estático, sem saber como prosseguir. Meus olhos inconscientemente caíram sobre Taehyung. O mais velho sorriu para mim, acenando positivamente com a cabeça. Então, avancei a passos receosos até Yeonjun, me abaixando e sentindo imediatamente os bracinhos do garoto envolverem meu pescoço. Sorri involuntariamente. 

— Que saudade que eu estava de você, papai Gguk! — sorri ainda mais, apertando o corpinho menor entre os meus braços. 

— Oi, pequeno. Também estou feliz de te ver.

Olhei para Taehyung, vendo que ele sorria enquanto nos olhava. Mas não eram só seus lábios que estavam sorrindo, seus olhos também sorriam.

Me afastei de Yeonjun, olhando em seus olhos. 

— Papai Gguk, você lembra de mim? 

Na mesma hora senti cada músculo do meu corpo tensionar. Meu sorriso sumiu e eu fiquei nervoso de repente, sem saber o que responder. Droga, porque eu não podia simplesmente lembrar de tudo de uma vez?

— Papai, sou eu, o Yeonjun — tentou, colocando sua mãozinha em cima do próprio peito — Não se lembra de mim? Por favor, diz que sim. 

— Yeonjun...

O garotinho olhou para Taehyung, percebendo o olhar repreendedor do pai, abaixando a cabeça entristecido. Fiquei curioso de repente, percebendo finalmente quantas vezes o Kim demonstrou ter conhecimento da minha perda de memória, porém eu nunca o contei. E foi aí que fiz uma nota mental de questioná-lo sobre isso quando Yeonjun receber alta e, enfim, pudermos conversar sobre tudo.

— Eu já sei, não tem problema, papai Gguk.

Levantei o olhar, voltando a pousá-lo em Yeonjun. Sua expressão parecendo determinada. 

— Você não se lembra de mim, mas eu lembro de você e eu amo você — sorriu, mostrando aquele retângulo mais uma vez — Eu aguento esperar você me amar de novo. E então nós seremos uma família outra vez.

Unexpected Call | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora