— Tudo começou quando eu tinha vinte anos, há seis anos atrás.
Taehyung começou a contar sua história, sua voz estava baixa e embargada. Seu rosto estava abaixado, encarando suas mãos enquanto brincava com seus dedos. Permaneci em silêncio, esperando o outro continuar.
— Eu estava ainda no início da faculdade e eu não conhecia ninguém. Eu andava pelos corredores de lá e parecia que eu era invisível, eu só me tornava visível quando algum dos brutamontes do curso de fotografia me enchiam o saco por eu ser "esquisito" — riu soprado, parecendo ter se lembrado de algo — Jimin, meu melhor amigo, não estudava na mesma faculdade que eu, então eu era sozinho. Até eu conhecer a Hyejin.
Ele fez uma pausa, respirando fundo. Por alguns segundos me senti mal por forçá-lo a contar algo de seu passado que claramente o machucava, mas tentei me convencer de que era necessário. Eu precisava saber das coisas, mais cedo ou mais tarde.
— Ela fazia parte do grupo das populares do curso de moda. Linda, simpática e desejada por todos. Até que, de uma hora para a outra, ela começou a andar comigo e a dar em cima de mim. Eu me sentia no céu, afinal, não era todo dia que Lee Hyejin demonstrava interesse em alguém. Eu deveria ter desconfiado, mas eu estava apaixonado, então o que eu poderia fazer? — levantou o rosto para me olhar — Até que ela me convenceu a ir em uma festa com ela, me levou para um quarto, nós transamos e no dia seguinte uma gravação completa da gente transando estava rodando as redes sociais.
Arregalei os olhos, assustado com o que escutei. Como uma pessoa poderia ser capaz de fazer algo assim?
— Eu fiquei destruído, acabado, mas não surpreso. Para mais o que mais além de ser motivo de chacota um idiota esquisitão como eu poderia servir?
— Você não é um idiota esquisitão, Tae.
O castanho me olhou e sorriu.
— Engraçado, você já me disse isso antes.
Senti minhas bochechas assumirem um tom avermelhado e abaixei a cabeça, escutando uma risada baixa do mais velho soar.
— Depois de passarem os piores meses da minha vida e não ter visto mais Hyejin, ela apareceu na porta da minha casa com um bebê nos braços — voltou a dizer, sua voz ficando mais embargada — Ela largou ele nos meus braços, disse que era meu filho e se virou, indo embora. Depois daquele dia, eu nunca mais a vi. A polícia a procurou, mas ela simplesmente desapareceu. Então eu, um simples universitário, tive que cuidar sozinho de um bebê que eu nem sabia da sua existência até então. Mas eu o fiz e hoje Yeonjun é um lindo garotinho, com seus cinco aninhos.
— Eu sinto muito, Taehyung.
— Também já me disse isso.
Sorri, escutando o castanho rir baixo. Ele sorriu fraquinho, se lembrando do filho. Meu coração se aqueceu, mas minhas dúvidas não foram sanadas.
— E onde eu entro nessa história toda?
Respirou fundo, ajeitando a posição na cama.
— Quando eu te conheci eu já tinha o Yeonjun, ele tinha 4 aninhos e, assim que se falaram pela primeira vez, vocês tiveram uma conexão incrível. Se deram tão bem que ele sempre me perguntava quando ia ver o tio Gguk de novo — sorri, tentando imaginar esse cenário — Ele te amava tanto que percebeu antes até mesmo de mim o que eu sentia por você.
Senti um negócio esquisito na boca do estômago ao escutar o castanho mencionar que sentia algo por mim. Seriam essas as tão borboletas no estômago que as pessoas tanto falam?
— O mais engraçado é que eu só percebi que estava apaixonado por você, de verdade, quando ele se virou para mim e perguntou "papai, quando eu vou poder chamar o tio Gguk de papai Gguk?" — arregalei os olhos, surpreso — É, eu também fiquei surpreso. Depois disso, como eu já te contei, eu me declarei para você e você disse não sentir o mesmo. Quando enfim começamos a namorar, o Yeon só te chamava de papai Gguk. Você entrou para a nossa pequena família, Jeon. Então, querendo ou não, o Yeonjun também se tornou seu filho.
Desviei o olhar, encarando o chão sem graça do hospital. Eu não sabia o que sentir, muito menos o que pensar, com aquela informação. Mais do que nunca eu me odiei por não conseguir lembrar dessas coisas.
— Jeongguk — levantei a cabeça, pousando meus olhos marejados no rosto preocupado de Taehyung — Eu sei que você não se lembra dele, eu sei, mas ele lembra de você. Então, mesmo que ele não te veja por estar dormindo, só a sua presença lá vai acalmar o coraçãozinho dele. Assim como vai acalmar o meu.
Desviei o olhar novamente, minha cabeça doendo de tanto pensar.
— Por favor, Jeongguk...
Sem dizer nada, me levantei e caminhei até o mais velho. Me inclinei e plantei um beijo casto em sua cabeça.
— Eu já volto.
Sem esperar uma resposta me afastei, saindo do quarto.
...
Número 3121.
Esse era o número do quarto de Yeonjun, um garotinho que ainda não consegui processar a informação de que é meu filho, mesmo que eu não lembre dele e muito menos tenha o mesmo sangue que eu. Pensar nisso me fazia ficar nervoso. E era exatamente por isso que eu estava, mais uma vez, parado em frente a uma porta sem coragem de abri-la.
Ergui minha mão trêmula e segurei na maçaneta, respirando fundo três vezes antes de criar coragem e entrar no quarto.
Fechei a porta atrás de mim com um clique e me virei, avistando uma cama infatil logo na minha frente. Fui caminhando lentamente em sua direção, sentindo meu coração dançar um samba dentro do meu peito conforme a silhueta do garotinho entrava no meu campo de visão. Parei ao lado dele, estudando com calma seu rostinho.
Apesar dos curativos, arranhões e a máscara de respiração, fiquei encantado com o quão adorável e bonito seu rostinho era. Seu cabelo brilhoso e castanho caindo sobre seus olhos, a pele acobreada igual a de Taehyung e uma pintinha adorável na pontinha de seu nariz. Senti meus olhos marejarem, erguendo minha destra para tocar em seu rosto, deslizando meu polegar por sua bochecha machucada.
Senti uma lágrima quente escorrer dos meus olhos, sorrindo fraquinho logo em seguida.
No meu coração, onde há muito tempo foi um cantinho frio e sem vida, uma chama gostosinha surgiu. Pois pela primeira vez depois de longos meses perdido, sem lembrar de nada, sozinho e nunca me sentindo encaixado em lugar nenhum, olhando para o rostinho sereno de Yeonjun senti algo que achei que nunca mais fosse sentir. Esperança de poder pertencer a algum lugar. De pertencer aquela família. Porque, mesmo não me lembrando deles, podia sentir que possuíamos uma conexão.
Eu não me lembrava, mas meu coração sim. E isso bastava.
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Unexpected Call | taekook
FanfictionJeon Jeongguk era um desmemoriado que não tinha ninguém nessa vida. Desde que acordou sem se lembrar de nada, todos os que poderiam fazer parte de sua família, aparentemente o abandonaram no hospital sem nem ao menos olhar em seus olhos uma última v...