Ten

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Já sentiu alguma vez na vida aquela sensação de petrificação? Quando você fica tão desestabilizado ao ponto de não conseguir nem piscar os olhos, coisa que deveria ser feita involuntariamente? Se não, espero que nunca sinta. É péssimo.

Uma gigantesca onda elétrica atinge meu corpo quando escuto aquela voz grossa pronunciar aquela simples frase. Primeiro que achei um tremendo golpe baixo a maneira como meu nome é perfeitamente sibilado por seus lábios rosados e um pouco machucados devido ao acidente, segundo que eu acho mais golpe baixo ainda, de quebra, escutar um "meu amor" no final da frase.

Por Deus, se controla Jeongguk.

Fitei seu rosto delicado e devolvi seu olhar intenso sobre mim, sem saber ao certo o que responder. Afinal, como eu deveria me portar? Porra, o garoto acabou de sair de uma cirurgia deveras complicada, correu o risco de perder a vida e eu, não estando numa situação melhor, sou seu namorado, porém não lembro de bulhufas nenhumas.

Por não saber o que fazer e, nem muito menos, saber o que responder àquele questionamento, fiz a primeira coisa que se passou em minha mente e coisa que achei mais sensata a se fazer: fazer a egípcia e demonstrar preocupação.

Sem nada responder, me afastei da porta e caminhei a passos lentos até o lado esquerdo da cama. Durante todo o trajeto, o castanho me acompanhou com olhos curiosos e confusos, mas não parei. Pelo contrário, ao estar ao seu lado, me inclinei levemente e beijei sua testa por cima de sua franja desgrenhada.

— Como se sente? — perguntei olhando em seus olhos, depois de me afastar apenas o suficiente para encará-lo.

Piscou os olhos algumas vezes, parecendo não saber como agir. Talvez estivesse confuso sobre o porquê de eu não ter respondido a sua fala carinhosa. E foi aí que mais uma dúvida se passou pela minha cabecinha.

Saberia ele sobre minha perda de memória?

— Considerando que quase morri há algumas horas, estou todo dolorido, cheio de agulhas me furando e cheio de fome — listou, um tanto irônico, me fazendo rir levemente — Até que 'tô indo bem.

— Quer que eu vá buscar algo para você comer? — ofereço — Sei que comida de hospital não é a das melhores, digo por experiência própria, mas é melhor que nada...

— Não! — me interrompe, elevando um pouco a voz — Por favor, não me deixe, de novo não... — sussurrou a última parte, mas eu ouvi. 

No entanto, preferi deixar para lá.

— Tem certeza? Não quero que passe fome...

— Tenho, não me importo em ficar com fome até que uma das enfermeiras venha me trazer comida — assenti.

Ficamos absortos num silêncio desconfortável a partir de então. Não sabia o que dizer e nem o que pensar sobre aquele "de novo não" que ele disse baixinho. Droga de memória! Como eu queria lembrar das coisas agora...

— Desculpe, mas, sem querer parecer ingrato, posso perguntar o motivo de você estar aqui? — sua pergunta me pega de surpresa.

— Eu sou seu namorado, não? — ele arregala os olhos. 

Franzo o cenho diante de sua reação.

— O-o que? V-você...? — arqueio as sobrancelhas, incentivando-o a continuar sua fala — Esquece. Bem, sim, na teoria.

— Na teoria? Como assim?

— É uma longa história...

— Que bom, porque amo longas e boas histórias — o encaro questionador e ele umedece os lábios, suspirando.

Unexpected Call | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora