20 - Talvez agora

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KAGEYAMA

Coisas que me irritam
- Hinata é insuportável, ele não cala a boca
- Estou ficando tonto de tanto caminhar
- Talvez meu antigo grupo esteja por perto
- Essa mochila tá machucando meus ombros
- Hinata.

Era óbvio que estávamos caminhando demais, o dia anterior não tinha sido suficiente e só de pensar que a outra parte do grupo poderia estar em perigo, meu coração acelerava. Não é como se me importasse com eles, mas com certeza seria uma perda difícil para o grupo, Kiyoko era a melhor navegadora que já tinha visto.

Bokuto como líder do grupo era uma surpresa, apesar de sua personalidade exagerada e hiperativa, ele estava pronto para proteger e nos guiava pela mata com certa maestria. Era quase como se ele fosse íntimo da trilha, apesar de ser sua primeira vez ali. Por ter a katana como arma, eu quem matava os zumbis que apareciam no caminho, tentando fazer o mínimo de barulho possível para não atrair outros, mas acho que a voz de Hinata já atraía o suficiente.

- Não aguento mais andar! Por que temos que ir pra lá mesmo? - o ruivo disse tirando a mochila das costas e começando a arrastá-la pelo chão, foi vendo o alívio dele que lembrei o quanto meus ombros doíam por causa do atrito das alças da mochila.

- Baixinho, foco, cansaço é psicológico! Assim que chegarmos na linha do trem, vamos estar perto da cidade e ver se conseguimos mantimentos e abrigo lá - Bokuto disse, ele estava diferente desde a noite anterior quando falou com o resto do grupo pelo rádio. Mesmo que ele não tenha dito nada, sei que é porque ele não ouviu a voz de Akaashi, suspeito que os dois sejam mais que apenas amigos.

- Ok! Cansaço é psicológico! Cansaço é psicológico! - Hinata disse colocando a mochila nas costas de novo e tirando motivação do além.

- Caramba, a gente se deu bem! - Bokuto disse, olhando pra frente não entendi o porque, um rio raso cortava a mata de ponta a ponta.

- Vamos nos molhar pra passar aí - observei, já me abaixando para tirar as botas dos pés.

- Vamos parar e tomar banho, encher as garrafas de água, isso é água potável! - ele deu as ordens enquanto tirava o casaco e a blusa.

- Isso! É isso que preciso! - Hinata sorriu, largando suas coisas na margem e tirando quase a roupa toda antes de correr para dentro da água.

- Mas se a gente parar, vamos perder o ritmo da Kiyoko e do Tanaka - observei, sem a mínima vontade de entrar na água.

- Não se preocupa, Kageyama! A gente com certeza anda mais rápido que eles, relaxa. A gente vai chegar lá junto com eles ou eu não me chamo Kotaro Bokuto.

- Então é melhor ir escolhendo um novo nome - pude ver a irritação no rosto dele por um segundo, que logo foi substituída por um riso exagerado. A despreocupação deles era o que mais me irritava. Tirei a blusa e fui até o rio, lavando meus ombros machucados, a dor me fazia morder o lábio pra não gritar e podia sentir os olhares sobre mim.

- Isso aí tá bem feio, cara. Se tivesse dito antes, eu levava a mochila pra você - Bokuto disse enquanto relaxava na água rasa.

- Se quiser, posso fazer um curativo - Hinata ofereceu, o cabelo molhado parecia mais ruivo que antes, sem tanta sujeira.

- Não precisa, tá de boa. Nem tá doendo.

- Deve tá doendo pra caralho! Hinata, você faz o curativo. Kageyama, você obedece - Bokuto ordenou, ele parecia um coronel autoritário quando olhava pra mim, mas só queria ajudar, eu quem não estava acostumado com pessoas legais.

Hinata terminou de se lavar e saiu da água, colocando o resto da sua roupa de novo, ele pegou o kit de primeiros socorros na sua mochila e veio até mim.

- Você tem que sentar aí no chão, eu ainda não aprendi a voar - realmente, ele não alcançaria direito. Me sentei, deixando que ele passasse as mãos pelos meus ombros enquanto colocava algum tipo de pomada, o toque dele era tão confortável que senti um arrepio quando ele tirou as mãos. Eu queria mais daquele toque, Hinata já não era mais tão insuportável.

- Vou colocar gaze, porque se colocar ataduras vamos ficar sem, tá bom? - assenti e deixei que ele voltasse a tocar em mim, fazendo curativos nos lugares onde estava machucado.

- Hinatinha, o Kageyama ficou tão relaxado que se você fizer cafuné nele ele dorme! - Abri os olhos depois de ouvir Bokuto dizer isso, olhando para ele irritado.

- Eu duvido! - Hinata começou a fazer cafuné no meu cabelo e eu simplesmente não conseguia impedir, estava ansiando por um toque a muito tempo. Os dois riam distraídos e eu relaxava cada vez mais, mas algo me chamou atenção, perto de onde Bokuto estava, pude ver uma sombra na água escura.

- Bokuto! Saí da água! Tem algo perto de você! -gritei, levantando e assustando eles. Bokuto gritou, se levantando e correndo pra fora.

- Não to vendo nada! Para de me assustar assim! - ele disse, olhando a água de fora, mas eu jurava que tinha visto algo.

- Acho que era uma cobra! - afirmei, tendo certeza que meus olhos não estavam me enganando.

- Ai tanto faz, agora já não tem como relaxar, vamos embora - bokuto vestiu sua roupa, indo até a margem com Hinata encher as garrafas de água. Depois, pegou um galho e mexeu na água, tendo certeza de espantar qualquer coisa que estivesse no nosso caminho quando passássemos. Na outra margem, eu me preparava para colocar a mochila nas costas de novo, mas ele tirou da minha mão sem dizer nada.

A gentileza deles não tinha explicação para mim, quem seria tão bom assim no meio de um apocalipse? Meu antigo grupo nunca carregaria nada pra mim, nem se ofereceriam para fazer um curativo, apesar de andarmos em bando, estávamos vivendo cada um por si. Talvez essa gentileza ainda mataria o grupo de Daichi, mas por enquanto, apenas me fazia sentir querido depois de muitos.

Depois de muito caminhar, chegamos ao ponto de encontra e Tanaka e Kiyoko estavam sentados juntos ali, esperando e irritados.

- Caramba, vocês demoraram! A gente achou que tinha acontecido algo - ele reclamou.

- Desculpa, desculpa, tivemos alguns imprevistos - Bokuto se desculpou com um sorriso no rosto.

- Não importa, temos uma coisa pra mostrar pra vocês - Kiyoko levantou, ela estava tão séria que por um momento achei que tudo tinha dado errado.

- O que é - Bokuto se aproximou dela e Hinata de mim, ele segurou a minha mão como se estivesse com medo. Provavelmente estava.

- A gente andou um pouco na linha do trem enquanto esperávamos por você e achamos isso - ela mostrou para os uma espécie de placa, parecia uma mensagem e um mapa cobertos por plástico para proteger do tempo e da chuva.

"UM LUGAR SEGURO PARA TODOS. VENHA SEM MEDO, NÃO TEMOS INFECTADOS, TEMOS GRADES ALTAS, MANTIMENTOS E ARMAS PODEROSAS"

Hinata leu a mensagem em voz alto, embaixo dela, um mapa mostrava o caminho, seguindo os trilhos do trem.

- É claro que isso é uma mentira - Bokuto argumentou.

- Acho que devíamos tentar, parece real - Kiyoko disse.

- Pode ter sido real um dia, mas e se não for mais seguro? E se tiver sido dominado por zumbis? - Bokuto estava sendo sensato.

- Eu concordo com ele - falei, Hinata ainda segurava a minha mão, o que era extremamente estranho.

- Isso me deu esperança! Temos que voltar e levar todo mundo pra lá - ele disse, sendo completado por Tanaka.

- Talvez seja o lugar perfeito pra recomeçarmos.

- Olha - Bokuto respirou fundo - Eu posso ser tudo, menos burro. Não acredito nessa placa, é só uma enganação.

- Eu aposto que o Daichi vai acreditar, se não quiser ir, nós separamos agora! - Kiyoko gritou, podia ver o desespero nos olhos dela, tudo que queria era um lugar seguro.

- Vamos pegar mantimentos na cidade e voltar, assim podemos discutir isso quando todo mundo tiver - Bokuto pareceu ceder, evitando a discussão desnecessária. Sem outra opção, Kiyoko e Tanaka aceitaram. 

Mad World - HaikyuuOnde histórias criam vida. Descubra agora