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 ⠀⠀⠀Eu sou órfão desde que me lembro como gente

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⠀⠀⠀Eu sou órfão desde que me lembro como gente.

⠀⠀⠀Fui criado pelo orfanato da Igreja d'Os Sete Divinos em Centra, que me recebera ainda bebê. Quando as irmãs me encontraram abandonado à porta do prédio, meus pais provavelmente já estavam bem longe. Eu nunca os conheci e nem tenho a menor ideia de como eles sejam.

⠀⠀⠀Meu crescimento foi junto ao de vários outros meninos e meninas que tiveram o mesmo destino. Me envergonha admitir isso, mas eu não era tão popular naquela época. Na verdade, não consigo lembrar o porquê, mas nenhuma das outras crianças gostavam de mim. Sempre que não haviam adultos por perto, eu acabava vítima de seus xingamentos, abusos e agressões. Tentei falar várias vezes com os responsáveis, mas eles nunca me levavam a sério e diziam apenas para que rezasse aos Deuses. Com o tempo, simplesmente desisti de falar qualquer coisa.

⠀⠀⠀Aceitei que viveria em solidão, apenas obedecendo calado aos outros e imerso no meu próprio mundo de autodepreciação. Naquela época eu não tinha como saber, mas tudo isso estaria para mudar.

⠀⠀⠀Em um final de tarde, me deixaram encarregado de recolher e levar o lixo para fora. Frequentemente essa tarefa acabava comigo, porque nas vezes dos outros meninos, eles sempre acabavam me obrigado a fazer por eles. Tudo estava normal como sempre, até que ele apareceu.

⠀⠀⠀― Nossa, mas que fedor! ― escutei uma voz infantil dizer.

⠀⠀⠀Ao virar, me deparei com Antoine pela primeira vez. Assim como eu, ele tinha por volta de uns dez anos. Estava vestido de forma elegante e tinha aquele ar arrogante, do tipo que os de família nobre costumam ter.

⠀⠀⠀― Eu achei que tinha um cadáver aqui no beco, mas era só um garoto fedorento mesmo.

⠀⠀⠀É triste, mas não era a primeira vez que havia passado por isso. Estava acostumado a interagir com aristocratas como ele. Se eu ficasse calado e fingisse não ouvir suas ofensas por algum tempo, eventualmente ele ficaria entediado e ia embora.

⠀⠀⠀Porém, daquela vez foi diferente.

⠀⠀⠀― Alô? Estou falando com você. Tem alguém aí? ― continuou a me provocar.

⠀⠀⠀Eu permaneci esperando em silêncio, mas mesmo depois de um tempo ainda não havia sinal que ele pretendia me deixar em paz.

⠀⠀⠀― Que foi, garoto? Eu feri os seus sentimentos? Tá! Tá! Me desculpa.

⠀⠀⠀― O senhor não deve desculpas a mim e nem devia gastar seu tempo com um noviço como eu. ― Aprendi que bajular era uma boa forma de fazer um nobre te esquecer rápido.

⠀⠀⠀― Senhor? Garoto, a gente deve ter a mesma idade. Fala comigo normal!

⠀⠀⠀― Desculpa, mas as irmãs me ensinaram que essa é uma forma educada de tratar alguém desconhecido. ― De fato, era estranho chamar ele de senhor, mas não estava disposto a arriscar a sorte.

As Crônicas de Val'lar: Livro 1 - Lothar MustangOnde histórias criam vida. Descubra agora