Sei que cada um dos olhares presentes esta simplesmente cravado em qualquer uma de minhas feições, como também sei que nenhuma delas deve ser muito bonita ou absolutamente deslumbrante. Também não pude deixar de ouvir os burburinhos soprando comentários pelo túnel que havia se esticado à minha frente.
— Ouvi dizer que ela é a Verse Selecionada este ano... — a maioria dizia.
— É apenas uma pobre Gândara... — os mais ousados diziam.
E se tornou impossível que cada uma de minhas sinapses se fechasse para a maré tortuosa de lembranças que cada uma daquelas frases me despertou. Minhas partes fragmentadas haviam se movido furiosas e ruidosas de encontro a minha nova capacidade de frear os ruídos exteriores, me embolando como um caramujo extremamente irritado e ferido dentro da casca.
Mas então aquela voz...
Soou alta e clara por cima de meus ombros, e foi impossível fechar as comportas, que se abriram feito uma represa vencida pela força da água.
Ela não se parece com a Melissa serena Selecionada no meio daquela Arena cujas formas devastadoras me arrancaram minha ultima muleta, me obrigando a mancar pelo resto dos dias que viriam. Ela nem mesmo parece a Melissa dura e intransponível que minha mente projetou numa alusão boba milhares de vezes sobre como seu rosto se pareceria com a passar dos anos.
Porque é muito pior que isso.
Esta Lissa é severamente pior.
O costumeiro brilho quente de seus olhos claros foi substituído por uma grossa resina opaca e sem nuances. Não há vida, não há lembranças, não há sonhos ou diversão maliciosa... há apenas isto que vejo por fora: uma concha vazia.
Já ouvi muito a expressão "parar no tempo", e "sentir o coração parar", porém, nada se compara com o que sinto agora. Não sinto que o momento parou. Pelo contrário, sinto que um único segundo se prolongou num espaço indeterminável de tempo, fazendo com que as coisas ao meu redor parecessem imóveis e inanimadas, perdidas em algum vácuo distante. Sim, pareço flutuar, gravitando ao redor de mim mesma.
Parece que em algum momento, atingi a dilatação do tempo, viajando na velocidade da luz e transformando meus segundos em horas.
Seu cabelo costumeiramente ruivo está muitos tons mais claros, beirando o loiro platinado cortado disciplinadamente rente ao queixo. Mechas lisas e obedientes, nem um único fio fora do lugar. Seu vestido negro é tão apertado, que o formato forte de suas pernas salta sobre o tecido fino, e um delineado escuro pinta o contorno afiado de seus olhos.
Um espectro que voltou dos mortos para me assombrar.
— Você cresceu. — ela apenas diz, e sua voz parece ser a única coisa que continua sendo parcialmente a mesma. — Embora que não tanto quanto deveria.
— E você mudou. — devolvo quase áspera — Embora que não tanto quanto deveria.
A sombra de um sorriso de escárnio se mostra na comissura de seus lábios, mas se vai antes mesmo que possa concluir seu estagio de formação.
Algo nela me faz querer esbofetear a mim mesma, e sua negligência em me mostrar que estou errada só faz com que esse sentimento se expanda mais, alcançando dimensões quase insuportáveis. Não sei se há algo errado comigo ou com ela, mas posso farejar o erro nos prendendo em uma bolha causticante e cheia de perguntas.
O erro. Há sempre algum erro em algum lugar. Aquela pequena falha que ninguém percebe. Ou apenas ignora e faz de conta que não vê.
Mas minha mente é teimosa demais para ignorar.
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INSÍGNIA_ Guerra Das Máquinas I
Science Fiction"Primeiro, houve a explosão. Depois, as luzes. Em seguida, o mundo acabou. E então, começou de novo. Num Depois onde o vínculo da passagem de tempo com o Antes se tornou uma sombra remota do que um dia foi o coração humano. O descontrole evo...