CINCO

667 94 23
                                    


◆◇◆◇◆◇

O Saguão é a maior construção que os Gândara possuem. É aqui que acontecem todos os eventos ilustres, ou que precisam ser supervisionados por miras de armas com precisão. É o melhor lugar onde suas ovelhas podem ser arrebanhadas pelo amparo constante dos cajados letais e geralmente feitos de aço e chumbo.

É um lugar amplo e oco. Dentro, uma enorme mesa em forma de meia lua acompanha uma das paredes, e atrás, ficam os integrantes do Conselho, que geralmente, é formado por Gândaras mais velhos e sábios. São eles que costumam aconselhar o regente de nossas leis, mas costumo pensar que são eles os primeiros a decretar a desgraça insossa do próprio povo. Os gândaras vendidos à prepotência desumana da Nova Ordem Insignante. São eles os publicanos da nova geração que pisa e esmaga sem parar para olhar para trás, protegidos pela mesma força que oprime. Seus olhos semicerrados gostam de vigiar silenciosos do centro.

E é sempre assim.

Um pouco mais abaixo, no centro, fica uma mesa menor de aço, e atrás dela, os três líderes dos Gândaras. Apenas um deles é o superior, denominado Chanceler. O outro é Inquisidor, e o outro, Inquiridor. Nosso atual Chanceler se chama Dárius Paige. Ele é um homem velho, surrado pela idade e afetado pelo tempo em que trabalhou com a terra. Sempre que o olho, não consigo deixar de me perguntar: Quem botou você aí? Do que você sabe? Seus cabelos são brancos, no entanto, sua pele é escura como um pedaço de carvão. Olhos terrosos rezumam de têmporas aparentemente Cansadas.

De concordar com o terror. Ou de pelo menos, não fazer nada para impedir.

É com ele que devo ter o maior cuidado. Ser uma MC não me ajuda em nada, por isso, devo demonstrar arrependimento e respeito por tudo aquilo que desprezo com toda a minha alma. O preço por ter de proteger minha família, negar a mim mesma. Contribuir com o progresso de minhas rachaduras internas. Toda a vida é um aparente e incessante sacrifício. Em prol do tentar.

A primeira surpresa me aguarda na entrada: um utilitário escuro está estacionado nos portões de ferro do Saguão, e uma fila de jovens gandarênses está formada na entrada. E todos parecem entrar em concordância sobre uma disputa de quem meneia mais a cabeça, como que procurando uma possível rota de fuga.

Uma que não existe e nem existirá.

O que também me faz parar.

Falcons.

Meu coração pula quando percebo que terei de passar por eles para entrar, assim como todos os outros. Engolindo em seco, me encaminho para a fila, sabendo que se não o fizer, serei empurrada de todo jeito. Sei que todos os Iniciados da Seleção estão aqui. Os que não aparecem geralmente têm seus hubs explodidos, a nas vezes mais agradáveis, apenas sangram até morrer. Espero minha vez tentando fingir tranquilidade, quando na verdade, um desespero mudo enverga as veias de meu coração e infla meus tendões de um jeito terminantemente desconfortável. Por alguma razão, ter contato com os Falcons me faz ficar de cabelos em pé. Falcons são... Falcons. Não há uma outra maneira de se explicar. Perfeitos em tudo. Letais e inumanos. Enquanto a fila anda, espicho o pescoço, observando mais à frente. Os jovens estão passando a parte interna do pulso em pequenos detectores quadrados e metálicos, onde uma luz azul pisca no centro de uma tela.

Estão decodificando os hubs.

Tento me acalmar quando minha vez chega, mas meus tornozelos não se passam de uma matéria semelhante à geléia. Um grande Falcon de pele escura, usando luvas negras como o restante das roupas de couro me espreita por cima dos óculos escuros, fazendo um gesto para que eu me aproxime. Sua pele é lisa e perfeita, como chocolate que escorre sobre a porcelana. O gesto em si é tão sútil, gracioso e direto que me faz apertar os lábios. Engolindo uma apreensão mórbida e causticante, obedeço, passando meu pulso pelo identificador quando ele me oferece o objeto.

INSÍGNIA_ Guerra Das Máquinas IOnde histórias criam vida. Descubra agora