UM

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Me disserem que vou ser executada amanhã.

Mas eu sei da verdade.

É mentira.

Sei que eles dizem isso a todos os prisioneiros todos os dias, talvez como uma forma crapulosa e instável de de lembrar a todos sobre quem se encontra no topo da cadeia alimentar. Trata-se de uma necessidade básica dos Insignantes. É sempre assim: Você vai acabar abaixo da terra antes do próximo nascer do sol se não aprender bem rápido a obedecer, e então, nós obedecemos. É a forma mais convicta de se sair daqui antes da noite e talvez pegar algumas poucas farpas do excasso jantar que você conseguiu roubar antes de ser preso.

Vou chegar tarde em casa hoje.

De novo.

Sei disso porque não é a primeira vez que sou presa.

E porque sou a única garota a ser sempre encarcerada como um animal bruto qualquer de forma mais constante do que se alimenta.

Não é nenhuma novidade, tão pouco pretenciosamente assustador, como deve estar sendo para o garoto choramingão resmungando soluços na sela ao lado. Sou vista como a camada subversiva da pior escória do clã. Estou abaixo de qualquer um, na parte menos rasa possível. Sou uma MC autêntica. Uma Mal Caráter. Que conhece tão bem as barras enferrujadas do calabouço quanto as linhas contraditórias da palma da mão. O jeito que as correntes enferrujadas e fantasmagóricas de mau cheiro e presas no teto rangem ruidosamente quando os camburões da elite Insignante trotam do outro lado das paredes, ou o barulho irritante das gotas pingando num dos cantos do pequeno cúbiculo apertado e escuro, vindas do esgoto do velho prédio chefe da Elite. Ou o jeito com o qual a lavagem servida no jantar parece ter sido feita com a urina dos cães farejadores, misturada ao cuspe dos Insignantes mais nojentos.

Eu nunca como quando estou presa. Morrer de fome aqui dentro é uma coisa inteligente a se fazer.

Morrer de fome, em todo o caso, é sempre a primeira opção.

No começo, eu me assustava. Arregalava os olhos e me espremia no canto mais recluso da cela quando um Insignante denominado Zero-Quatro passava por aqui, deslizando seu porrete escuro pelas grades e enviando calafrios por minha espinha a cada novo baque agourento do objeto assombroso contra o ferro frio, me oferecendo aquele olhar que fazia alguma coisa dentro de mim querer berrar de pavor. Mas Zero-Quatro nunca tentou entrar aqui dentro. Então, as próximas prisões foram mais aceitáveis, os próximos castigos menos assustadores, a dor acompanhada das cerdas do chicote mais admissível, e o desconforto de alguns ossos trincados já não tão desconhecido, e por fim, devo ter me acostumado.

Deve ser frustrante para eles a filosofia que meu corpo adotou em se adaptar a dor.

Não sou um vaso muito fácil de se quebrar, é o que minha mãe diz. Pelo menos, não por fora. Por dentro, estou em ruínas sangrentas. Eu grito para as minhas próprias paredes "Eu sou alguém!", mas não há ninguém para ouvir. Então, eu mantenho silêncio, de novo. E nada é mais apreciável para os Insignantes do que uma bela boca fechada. Falta de palavras ou reclamações. Aqui, o silêncio é uma regra sagrada, e você paga com grandes quantidades de sangue quando desobedece.

INSÍGNIA_ Guerra Das Máquinas IOnde histórias criam vida. Descubra agora