O dia ia amanhecendo e Carla ainda não tinha aparecido. José e a esposa assustaram-se. Eles nunca levaram a sério aquela conversa de que ela iria fugir para morar em outro estado, mas com o passar do tempo foram acreditando. José e Márcia foram na delegacia para fazer o boletim de ocorrência as quatro horas da tarde do dia posterior. Voltaram para casa e não sabiam conversar ou pensar em outra coisa se não em onde Carla poderia está. José arrependido das coisas que disse, se mostrou forte durante alguns dias, mas logo a carga de culpa o consumiu por completo depois de semanas do desaparecimento da sobrinha. No sofá de casa, ele meditava olhando para um canto fixo da parede. Passava ali, várias e várias horas, pensando nas coisas que disse para Carla e na promessa que tinha feito para a irmã antes dela morrer.
Ele, que esperava fora da sala, tinha o coração a mil. O pai não era daquela localidade e por isso não o alertaram o nascimento dela. Ele nunca tinha se quer se preocupado durante a gravidez com Roberta, ainda mais quando a menina nascesse. O médico, preocupado, chama José no canto da recepção.- Sua irmã está mal. O parto foi complicado e creio que ela não resista. - o médico disse numa voz paciente.
- E o bebê, doutor? Como está? - José falou em choque.
- O bebê está bem. É uma menininha que nasceu forte e saudável. Quando tiver mais notícias eu venho lhe avisar. Por hora, só é isso.
José voltou pálido para perto da esposa e contou o que ouviu do médico. Ele ficou apreensivo durante as próximas horas e a esposa rezava constantemente. Depois de umas duas horas, ele foi chamado para a sala onde a irmã estava. Ela estava fria com o semblante cansado. As suas mãos geladas tocaram as de José e as seguraram com força.
- José, quero que me prometa uma coisa. - ela falou em um suspiro.
- Diga, minha irmã. Diga o que quer. - José fala deixando as lágrimas escorrerem livremente pelo rosto.
- Se o pior acontecer quero que cuide de Carla. Ela precisa de você, meu irmão. Por favor, cuide da minha filha!
- Nós vamos cuidar, Roberta! Nós vamos...
- Me prometa.
- Eu prometo que vou cuidar dela. Que vou protegê-la e que vou me esforçar ao máximo para dar tudo o que ela precisa.
Ela fechou os olhos e rapidamente o monitor de sinais vitais apitou. José olhou para os médicos que entraram rápido na sala e desesperou-se. Ele enconstou-se na parede e sua visão começou a ficar preta, desmaiando em seguida. Acordou muito tempo depois, recebendo a notícia do falecimento da irmã.
Flashes de pensamentos invadiam as noites e os dias de José. Não tinha vontade de orar. Tinham parado de ir a Igreja por desânimo e abatimento emocional. Márcia e ele não saiam mais com frequência e o chefe de José preferiu afastá-lo do cargo temporariamente para que ele podesse colocar as coisas nos eixos. Márcia tinha também um culpa muito grande dentro do coração, a final de contas, sempre presenciou tudo e nunca interviu. Eles pensavam em várias possibilidades negativas de onde ela poderia, mas não viam uma possibilidade de sair daquela situação. As doze horas da noite, Márcia acordou e viu que o marido não estava dormindo do seu lado. Desde as escada e encontra ele sentado no sofá, na escuridão da sala.- Ei, vamos dormir! É tarde. Você precisa descansar. - ela fala sussurrando e ao mesmo tempo acariciando o ombro de José.
- Não consigo. Não tomei o remédio para dormir, por isso estou aqui. - ele fala com a voz demorada e ao mesmo tempo abatida.
- Temos que reagir! Por mais que nós ainda estamos abalados por causa do desaparecimento de Carla, não podemos permanecer como estamos. As pessoas que vem nos visitar sempre perguntam porque não saímos um pouco, deveríamos fazer isso amanhã, o que acha?
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Amor de Outras Vidas
EspiritualFrancisco Manuel e Tereza Cristina reencontram-se em corpos diferentes e "apaixonam-se novamente". O casal enfrentará preconceitos religiosos, inveja, entre outros desafios, e provará que o amor sempre vence e ultrapassa as mais diversas barreiras s...