Vigésimo Primeiro Capítulo

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No dia marcado, Thiago estava no consultório do psicólogo Rodrigo Carvalho. Adentrou, com a sua tia Antônia para a sala. Observou cada detalhe assim que entrou. Uma longa estante marrom de livros no sentido vertical na entrada da porta. Haviam também grandes janelas que davam visão a varanda que possuía várias plantas verdes. Carvalho estava mais adiante, sentado olhando calmamente para os dois que entravam no local. Ele se localizava perto de outras duas grandes janelas que davam para olhar para a movimentação da cidade. O psicólogo, com o olhar enigmático, retirou os óculos e colocou no bolso da camiza, levantando-se em seguida para cumprimentar os dois.

- Bom dia! Que bom que vinheram! Sente-se, senhora Antônia. - falou alegre e sorridente, apontando para um sofá cinza que tinha em sua frente.

Ela se acomodou e Rodrigo direcionou a cadeira de rodas para mais perto da longa janela, colocando Thiago em seu campo de visão. Voltando ao lugar anterior, teve uma breve conversa com os dois sobre como as coisas estavam e como Thiago tinham se adaptado a nova realidade. Como esperado, a tia disse coisas positivas, juntamente com o sobrinho, porém ele não estava na mesma intensidade que ela tinha ao contar sobre aqueles últimos dias.
Educadamente, minutos depois, pediu para que ela se retirasse para poder analisar o jovem sem a influência familiar. Ela obedeceu sem nenhuma interrupção e assim que fechou a porta, notou que Thiago olhou diretamente para o chão aflito. Ele era muito magro e pálido. Aparentemente não dormia direito e seu olhar fixava-se com muita facilidade em algum ponto perdido do lugar. Ele sempre pensando, desanimado, tristonho, abatido. Aparentemente, sem razões para viver.
Ao observar o seu estado, Carvalho perguntou:

- Thiago, como você está? - perguntou fixando diretamente em seu rosto que marcava tristeza.

Apartir daquela pergunta, iniciava-se uma sessão que duraria pouco tempo para Carvalho e muito tempo para Tiago. A cada pergunta que o psicólogo fazia, ele tentava esconder sempre algo. Aquilo trazia para Rodrigo uma certa insegurança.
Perdido nas perguntas que eram lhe colocadas, lembrou-se de uma manhã.

" Tinha os lábios secos e o estômago vazio. Suas tias tinham saído segundo a pouca movimentação da casa. Não falaram para onde iam ou ao menos lhe deram a alimentação e os remédios. A porta do seu quarto se abriu quando já se passavam das 10 horas da manhã. Sua tia finalmente veio trazer algo para fortalecê-lo um pouco. Colocou a bandeija na cama e, com cuidado, girou a engrenagem que fazia com que uma parte da cama levantasse para que ele pudesse se alimentar. Na bandeja, havia o seu almoço com um pouco de suco em um copo vermelho e os comprimidos que precisava tomar. Sua tia não se retirou do quarto e aquilo estava o incomodando. Até para almoçar precisaria dela monitorar? Tentou não pensar nisso e começou a mexer na comida para ver o que tinha.

- É para comer tudo, sem deixar um grão de arroz no prato. - a tia disse com uma voz forte.

Experimentou o suco. Era de manga. Ele não gostava e por isso fez uma careta assim que provou. Ao ver aquilo, ela pegou o pouco de suco que tinha e jogou em seu rosto, molhando ele e parte da sua cama.

- Isso é para você aprender que as coisas não são como pensa. Tem que gostar da nossa comida, caso o contrário, passará fome. - ia retirando-se do quarto, mas ele que ainda estava se recuperando do choque que tinha levado, pergunta:

- A senhora vai trazer o copo com água? Eu preciso tomar os medicamentos!

- Você não quis o suco, agora se vira!

- Estou com sede. Desse jeito, ficarei ainda mais pior!

Com a voz afogada no ódio e no rancor, disse:

- Se ao menos piorasse você ia internado e nós iríamos se livrar. Não sei por qual motivo que não se foi naquele acidente. Egoísta e vaidoso, é igual a mãe. - saiu do quarto dizendo aquelas palavras, voltando muito tempo depois. "

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